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01/04/2009

Remunerações são desigualmente distribuídas entre homens e mulheres

Lisboa destaca-se por ser o distrito do país no qual os trabalhadores por conta de outrem do sector privado auferem remunerações mais elevadas. A habilitação escolar e o tipo de actividade desempenhada são também variáveis com bastante influência na determinação dos montantes remuneratórios da população empregada.

As trabalhadoras por conta de outrem do sector privado recebiam no ano de 2006, em média, 693 euros. Entre os homens esse valor era de 861 euros. O gráfico 1 demonstra que esta desigualdade manifesta-se em todos os distritos do país. Lisboa é aquele em que as remunerações médias de homens e mulheres são maiores. Bragança, por seu lado, assume-se como o distrito no qual as remunerações do trabalho recebidas pelos homens são mais baixas (627 euros), enquanto Braga é o que regista a média mais baixa entre as mulheres (549 euros).
Se compararmos as remunerações médias mais altas e mais baixas nos distritos que integram o gráfico 1, tendo em conta a variável sexo, conclui-se que em Lisboa os homens ganham em média mais 507 euros do que em Bragança (uma variação de 80,9%), enquanto no caso das mulheres os valores para o distrito de Lisboa são superiores face ao registado em Braga em 349 euros (uma variação de 63,6%).


O gráfico 2 ilustra com nitidez a relação existente entre o montante das remunerações e o nível de escolaridade atingido. De facto, quanto maior é o nível de escolarização mais volumosa é a remuneração auferida. Repare-se que os valores são sempre mais elevados para o sexo masculino do que feminino em todos os níveis de escolaridade. Comparando as remunerações médias dos homens com o nível de escolaridade mais baixo (com menos do que o 1º ciclo) face ao auferido pelos que se doutoraram, percebe-se que os segundos recebem em média mais 1854,3 euros mensais do que os primeiros – o que equivale a uma diferença de 347,0%. No caso das mulheres essa diferença é de 1182,4 euros, correspondente a uma variação de 258,4%.
De referir apenas que os rendimentos dos homens licenciados são ligeiramente superiores aos auferidos pelos que concluíram o mestrado, único exemplo que contraria a regra da relação positiva entre remuneração e escolaridade.


O gráfico 3 dá conta da distribuição das remunerações médias dos homens e das mulheres de acordo com as actividades profissionais desempenhadas (agregadas em nove categorias de grandes grupos profissionais). O grupo profissional no qual as remunerações são mais elevadas, tanto para os homens como para as mulheres, é o dos Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresas, seguido pelo grupo dos Especialistas das Actividades Intelectuais e Científicas. Estas duas categorias destacam-se pelo facto de agruparem profissões que tipicamente invocam altos níveis qualificacionais e/ou implicam o exercício de autoridade/supervisão. A categoria dos Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio regista também uma média de remunerações acima de 1000 euros para os dois sexos. Nos restantes seis grandes grupos profissionais os valores fixam-se sempre abaixo desse patamar.
O nível remuneratório mais reduzido para os homens encontra-se na categoria dos Trabalhadores Não Qualificados dos Serviços e do Comércio (527,2 euros); entre as mulheres, tal sucede no grande grupo profissional dos Operários, Artífices e Trabalhadores Similares (445,7 euros).
Os salários auferidos pelos homens são superiores aos das mulheres em todos os grupos grandes profissionais.

Os gráficos seguintes medem as diferenças percentuais entre os rendimentos de homens e mulheres tendo em conta a sua actividade profissional, distrito e escolaridade. A primeira informação a retirar do gráfico 4 (esquerda do ecrã) prende-se com o facto de, em média, os montantes remuneratórios recebidos pelos homens serem 24,1% superiores aos auferidos pelas mulheres.
A categoria profissional dos Operários, Artífices e Trabalhadores Similares, mas também a dos Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresas, são as que apresentam um nível de desigualdade mais amplo (diferença remuneratória de 40,8 e 39,3%, respectivamente). O grande grupo profissional que apresenta uma menor desigualdade na distribuição das remunerações entre homens e mulheres é o dos Profissionais Administrativos e Similares (GGP4), com uma diferença de 10,9%.
Observando agora o gráfico 5 (centro do ecrã), percebe-se que Setúbal assume-se como o distrito onde a diferença das remunerações de homens e mulheres atinge uma expressão mais elevada (31,6%); segue-se-lhe Aveiro, distrito no qual a remuneração média dos homens é 29,7% superior ao das mulheres. Bragança e Vila Real, por seu lado, são os que registam uma desigualdade menos expressiva.
O gráfico 6 (direita do ecrã) revela que as maiores diferenças remuneratórias entre homens e mulheres ocorrem entre os grupos sociais mais escolarizados. As remunerações médias dos homens licenciados são 50,5% superiores às auferidas pelas mulheres com igual qualificação escolar. De resto, entre a população detentora de um título académico, essa diferença é sempre superior a 44,0%. Os trabalhadores sem qualquer habilitação escolar são os que apresentam desigualdades remuneratórias menos expressivas: 16,8%.

Nota Metodológica: os dados apresentados dizem respeito às remunerações base auferidas pelos trabalhadores por conta de outrem do sector privado, no ano de 2006 (mês de Outubro). A remuneração base é o “montante ilíquido (antes da dedução de quaisquer descontos), em dinheiro e/ou géneros, pago com carácter regular e garantido aos trabalhadores no mês de referência e correspondente ao período normal de trabalho. Inclui o montante pago por dias feriados, férias e faltas justificadas que não impliquem perda de remuneração.”

Link para relatório

Observatório das Desigualdades - 01.04.09

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