À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

19/03/2011

Dia de Indignação e Protesto

19 de Março, manifestação nacional.

Crise financeira ou… de superprodução?

Paulo Nakatani e Rémy Herrera

Uma das ideias que os ideólogos do capitalismo nos pretendem fazer crer é a de que vivemos “uma crise financeira que contaminaria o setor real da economia. Ao contrário, defendemos que ela é uma crise do capital cujo surgimento e manifestação ocorreu na esfera financeira, devido à gigantesca financeirização da sociedade capitalista nas últimas décadas. (…) Mas, quais são efetivamente os fundamentos, as medidas e o alcance das políticas anti-crise adotadas atualmente? Quais as perspectivas que se colocam para a sociedade contemporânea?
Consideramos que um dos equívocos nas interpretações correntes da crise capitalista atual é que ela seria uma crise financeira que contaminaria o setor real da economia. Ao contrário, defendemos que ela é uma crise do capital cujo surgimento e manifestação ocorreu na esfera financeira, devido à gigantesca financeirização da sociedade capitalista nas últimas décadas. Nós apresentamos alguns elementos para sua análise em um artigo recente [1] . Ao longo da história do capitalismo, os conhecimentos acumulados pelas ciências sociais em geral, e pelos economistas em particular, foram forjando formas, mecanismos, instituições e instrumentos de intervenção estatal que permitiram uma gestão estatal da crise, principalmente após a grande depressão dos anos 1930, estendendo-a no tempo, distribuindo-a no espaço entre diferentes países e amenizando os seus efeitos mais destrutivos no centro do sistema mundial, de onde partiu a crise atual. Mas, quais são efetivamente os fundamentos, as medidas e o alcance das políticas anti-crise adotadas atualmente? Quais as perspectivas que se colocam para a sociedade contemporânea?
Uma crise de superprodução
Sabe-se, a partir de Marx, que as crises fazem parte integrante da dinâmica contraditória da reprodução ampliada do capital, concebido como uma relação social de produção. Durante os períodos de crise, os capitais mais frágeis ou tecnologicamente ultrapassados são desvalorizados, uma parte é desvalorizada e desaparece e outra parte é concentrada e centralizada nas frações mais poderosas e desenvolvidas do capital. Dessa forma, a “solução” das crises capitalistas renova as condições da acumulação em um novo patamar de desenvolvimento das forças produtivas e, ao mesmo tempo, em novas bases de produção e expropriação da mais-valia dos trabalhadores, assim como abre novas contradições que irão exigir novas crises para sua solução. Ao contrário do que defende a ideologia teórica dominante, chamada de neoclássica, o sistema capitalista em mutação permanente não tende e jamais poderá atingir, evidentemente, um equilíbrio estável. Assim, a instabilidade que é inerente ao sistema não pode ser explicada por fatores externos, como os erros ou falcatruas dos agentes econômicos ou pelos equívocos da política macroeconômica, como pretende a teoria dominante; assim como as explicações a partir da forma ou insuficiência de regulação, não chegam ao cerne da questão.
As razões mais profundas que permitem explicar a crise que se desdobra por todo o planeta encontra-se na própria dinâmica da acumulação que produz periodicamente uma superprodução de capital, decorrente da anarquia da produção capitalista, que conduz à uma pressão para a queda na taxa de lucro quando se esgotam as contra-tendências à queda dessa taxa. A superprodução de capital pode se manifestar através do excesso de produção vendável, não porque não hajam pessoas necessitadas ou desejosas de consumirem, mas porque a concentração da riqueza vai excluindo uma parcela cada vez mais importante da população da possibilidade de comprar mercadorias. O desenvolvimento do sistema de crédito permite que, ao invés da superprodução de mercadorias, o capital se acumule sob a forma de capital dinheiro, o qual pode se apresentar seja como capital portador de juros seja de maneira ainda mais “irreal”, sem deixar de ser real, de capital fictício [2]. Nós consideramos que este é um conceito chave para a análise da crise atual e das mutações precedentes sofridas pelo sistema de crédito. Seu princípio geral é a capitalização de uma renda futura a uma dada taxa de juros. Entre os principais teóricos da economia, somente Marx trata do capital fictício.
Mas, a categoria capital fictício está pouco elaborada no livro III d´O Capital de Marx [3], que foi organizado e editado por Friedrich Engels. Não há, no livro III, uma única definição de capital fictício, o que existem são pistas e desenvolvimentos das diversas possibilidades da evolução, ou das formas que podem ser assumidas, do capital portador de juros. Marx desenvolve o seu estudo relacionando as formas do capital portador de juros com o desenvolvimento do crédito na sociedade capitalista na Seção 5 do Livro III d´O Capital, especialmente a partir do capítulo XXV (intitulado “Kredit und fiktives Kapital” [crédito e capital fictício]) –, depois, sobretudo no capítulo XXIX ( “Bestandteile des Bankkapitals” [componentes do capital bancário]), e ainda nos capítulos XXX ( “Geldkapital und wirkliches Kapital – I” [capital monetário e capital real]) até o XXXIII (” Das Umlaufsmittel unter dem Kreditsystem” [os meios de circulação sob o sistema de crédito]) [4].
As principais formas de capital fictício estudadas por Marx são: o capital bancário, a dívida pública e o capital acionário, todos os três expressando as formas desenvolvidas na época em que ele escreveu [5]. Se a estas formas agregarmos o atual mercado de derivativos teremos, então, quase todo o capital fictício que impulsiona a acumulação de capital e forma o conjunto de capitais que comandam o processo de acumulação em geral e as formas particulares de gestão das unidades individuais de capital, nesta fase do capitalismo financeirizado.
Assim, o espaço por excelência de criação e expansão desse capital fictício é o sistema de crédito, constituído pelos bancos, bolsas de valores, bolsas de mercadorias e futuros, fundos de pensão (que gerenciam a previdência por capitalização), fundos de investimentos especulativos ( hedge funds ) e outras instituições similares que articulam as empresas capitalistas ao Estado capitalista. Certas instituições efetuam a securitização de dívidas e as convertem em ativos financeiros denominados de derivativos. Estes últimos são contratos que fixam os fluxos financeiros futuros em função das variações de preço de um produto subjacente, que podem corresponder a uma taxa de juros, taxa de câmbio, cotações da bolsa, commodities e até determinados eventos futuros.
Essas ferramentas de cobertura servem frequentemente como suporte para estratégias especulativas, permitindo a alavancagem de uma aposta limitada, principalmente quando são combinadas entre elas e dão lugar às vendas a descoberto ( short sell , sem contrapartida). As operações especulativas mais arriscadas podem conduzir, teoricamente, a perdas infinitas (sobre opções de venda ou ” put “, por exemplo). Os montantes em jogo nessas transações, induzindo a criação de capital fictício, atualmente, ultrapassam de longe aquele montante destinado à reprodução do capital diretamente produtivo. Por exemplo, em 2007, o total acumulado em 12 meses das exportações, de todos os países do mundo, representava pouco mais de três dias do volume de negócios dos derivativos ” over-the-counter ” (OTC, ou seja, contratos negociados fora da bolsa diretamente entre as partes envolvidas). As exportações foram de 13.700 mil milhões de dólares, durante, o ano e as operações com derivativos OTC, 4.200 mil milhões por dia. Apesar de sua natureza (em maior parte) parasitária, esse capital é beneficiário de uma redistribuição da mais valia e vem realimentar a criação do capital fictício adicional como meio para sua própria remuneração [6].
A exacerbação da crise
O conjunto de contradições que desencadeou a crise atual começou a se acumular a partir do esgotamento das forças que geraram o longo período de expansão, após a Segunda Guerra mundial, com o fim do acordo de Bretton Woods e o desenvolvimento dos novos mercados financeiros, em particular a formação e posterior desenvolvimento do mercado interbancário de Londres. Paralelamente, na esfera produtiva, a forma de organização da produção e de extração da mais-valia, baseada no fordismo e no taylorismo, também havia chegado aos seus limites e começaram a surgir novas formas de organização da produção e novos métodos como o toyotismo ou kanban. Durante a guerra fria, o desenvolvimento das forças produtivas foi impulsionado, em parte, pelo aumento das despesas estatais, induzidos principalmente pela rivalidade e pela competição entre os complexos industrial-militar dos EUA e da URSS, que se converteu em uma acelerada corrida armamentista. Esse desenvolvimento foi fundamental para a consolidação dos sistemas computadorizados na substituição do trabalho por máquinas, das novas invenções e da produção baseada nos sistemas de máquinas ferramentas comandadas por computadores, pela criação da internet e dos microcomputadores, revolucionando as bases da produção e dando um novo fôlego ao capital.
Após um longo período de superacumulação de capital, que se concentrou cada vez mais na esfera financeira sob a forma de capital-dinheiro, esse excesso de oferta acentuou a pressão sobre a tendência à queda na taxa de lucro. Nos Estados Unidos, a principal medida para superar a crise foi a aceleração no aumento da taxa básica de juros (a prime rate ), a partir do início de 1979. Em abril de 1980 ela chegou a 20% ao ano e atingiu 21,5%, em dezembro do mesmo ano. Essa política conduziu à crise da dívida que explodiu nos anos 1980, mas não foi suficiente para desvalorizar a totalidade do capital fictício excedente acumulado no sistema de crédito internacional, decorrente da criação secundária de moeda e capital conhecida como eurodólares e petrodólares. Na seqüência, ocorreram as explosões sucessivas das “bolhas financeiras”, em 1987, nos Estados Unidos, em 1994, no México, em 1997, nos países “emergentes” da Ásia, em 1998, na Rússia e no Brasil, em 2000, novamente nos Estados Unidos com a explosão da “bolha” da “nova economia” e em 2001, na Argentina, que ainda foram insuficientes para a desvalorização necessária do capital fictício. As desvalorizações decorrentes dos múltiplos escândalos decorrente das fraudes contábeis das grandes corporações internacionais (a Enron, por exemplo), também não foram suficientes.
A crise atual surgiu no contexto de mudanças da política monetária estadunidense devido à agravação dos gigantescos déficits internos e externos, o primeiro devido à necessidade de financiamento associada às guerras no Afeganistão e no Iraque; o segundo devido, em grande parte, à deslocalização das empresas para o México e para a China. Como resposta à redução no crescimento econômico nos anos 2000/2001, o Federal Reserve (FED) foi reduzindo a taxa básica de juros ( prime rate ) de 6,5%, em dezembro de 2000, até 1,75%, em dezembro de 2001, e em seguida até 1%, em junho de 2003, e a manteve neste nível até maio de 2004. Em termos reais, descontando a inflação, essa taxa tornou-se negativa. É durante esse período, de taxas negativas, que os mecanismos da crise dos sub-primes [7] foram sendo desenvolvidos e ampliados no setor imobiliário, no qual os riscos assumidos foram crescentes. Em seguida, em parte devido aos déficits decorrentes do esforço com as guerras imperialistas, o FED retoma um movimento de elevação da prime rate, a partir de julho de 2004, que foi fortemente elevada para 5,25%, em junho de 2006. Assim, a partir do final de 2006, os devedores mais frágeis começaram a interromper, em massa, o pagamento das parcelas de seus empréstimos hipotecários. O crescimento no número de inadimplentes foi acelerado pela retração econômica – agravada pela elevação das taxas de juros – e pela pressão contínua à redução dos salários reais. A prime rate foi mantida acima dos 5% até junho de 2007, apesar dos sinais cada vez mais evidentes da exacerbação da crise.
Em agosto de 2007, após uma série de quedas nos índices das principais bolsas de valores das principais economias, os Bancos Centrais dos países mais desenvolvidos intervieram maciçamente no mercado injetando centenas de mil milhões de dólares em linhas especiais de crédito para o sistema bancário [8]. Mesmo com todo esse volume de novos recursos, os mercados financeiros continuaram extremamente voláteis no segundo semestre do ano, afundando a cada anúncio das perdas registradas pelos maiores estabelecimentos bancários estadunidenses, do Citigroup ao Morgan Stanley. Em um artigo intitulado “Roleta russa financeira”, publicado em 15 de setembro de 2008 no New York Times, o premio Nobel de economia, Paul Krugman escreveu “E, quando as incógnitas desconhecidas se tornaram incógnitas conhecidas, o sistema experimentou corridas bancárias pós-modernas. Estas não se parecem com sua versão antiga: com poucas exceções, não estamos falando de multidões de poupadores desesperados batendo furiosos nas portas fechadas dos bancos. Estamos falando de chamadas telefônicas frenéticas e cliques de mouses, enquanto os operadores do mercado financeiro tentam conseguir linhas de crédito e procuram se prevenir contra os riscos de sua contraparte. Mas os efeitos econômicos – congelamento dos créditos, queda abrupta do valor dos ativos – são os mesmos das grandes corridas bancárias dos anos 1930″.[9]
21 de janeiro de 2008 foi outro dia de pânico para a finança mundial, o FED reduziu agressivamente sua taxa básica de juros de 4,25% para 3,5% e para 3,0%, em apenas dez dias, e continuou reduzindo até chegar a quase zero (0,25%), em dezembro de 2008. Após a implementação das medidas anti-crise pela administração do governo de G.W. Bush, no primeiro semestre de 2008, as tendências ao colapso do sistema financeiro, decorrente da crise dos subprime, foram amenizadas e evitaram a aceleração na queda da demanda das famílias por bens de consumo. Mas, não resolveu as contradições decorrentes da crise desencadeada no primeiro semestre de 2007, que continuou fustigando os mercados financeiros internacionais com a elevada instabilidade e alta volatilidade de seus indicadores. Em julho de 2008, foi a vez de outro dos maiores emprestadores do mercado imobiliário norte-americano, o IndyMac (banco cujos ativos estavam na ordem de 32 mil milhões de dólares), sofrer a intervenção do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), agência encarregada de garantir os depósitos bancários. Esta foi a mais grave falência de um banco em mais de um quarto de século. Ela foi seguida por um programa urgente de socorro para salvar as maiores instituições financeiras do mercado imobiliário, Fannie Mae e Freddie Mac , este programa foi destinado ao socorro de um a dois milhões de devedores cujas dívidas podiam ultrapassar o montante total de 300 mil milhões de dólares [10]. Em setembro de 2008, os bancos de investimento, Lehman Brothers e Merryl Lynch praticamente foram à falência tendo sido comprados pelos Citigroup e pelo Bank of América, respectivamente. Ao mesmo tempo, a seguradora AIG (American International Group), a maior do mundo na época, teve que buscar recursos junto ao FED de Nova Iorque, tendo sido, posteriormente, estatizado ao custo de 85 mil milhões de dólares. O socorro total ao AIG ultrapassou os 140 mil milhões de dólares.
As políticas anti-crise
A destruição de capital fictício foi brutal. Durante o ano de 2008, a capitalização total das bolsas mundiais caiu de 48,3 para 26,1 milhão de milhões de dólares [11]. Entre primeiro de janeiro e 31 de dezembro de 2008, os principais índices da Bolsa de Nova Iorque, o Dow Jones Indus, o S&P 500 e o Nasdaq, caíram -33,8%, -39,8% e -40,5%, respectivamente. O índice Nikkei de Tóquio sofreu uma queda semelhante de -42,1%, assim como o ASX 200 de Sydnei (-44,1%). Na zona do Euro, a degringolada foi mais dura em algumas bolsas: -40,8% em Frankfurt (DAX 30), -42,7% em Paris (CAC 40), -48,4% em Milão (MIB 30), -52,3% em Amsterdam (AEX 25), -53,8% em Bruxelas (BEL 20), por seu lado o Euro Stoxx 50 perdeu -44,3%. Em outras áreas da Europa a tendência foi a mesma: -31,3% em Londres (FTSE 100), -34,8% para o Zurique SMI (Suiça) até -52,8% para o Oslo AS (Noruega). Na periferia européia, foi até mesmo pior: -52% em Telaviv (TA 100), -52,5% em Istambul (ISE Nat. 100). A pior queda foi em Moscou (RST), uma queda de 72,7%. Na Ásia “emergente”, as quedas foram de -45,4% para o índice TSE em Taipei, -48,6% para o STI em Cingapura, -51,9% para o SENSEX em Bombaim. Na China as quedas foram mais graves: -61,9% para Shenzhen beta e -65,4% para o SSE de Xangai. Nas outras bolsas do Sul, salvo algumas exceções como a Bovespa-BMF (-42,2%), as quedas foram bem menores, -24,5% no México (MXSE IPC), -24,0% em Santiago do Chile (IGPA) ou -28,0% em Joanesburgo (FTSE JSE). De janeiro a março de 2009, a evolução dos índices bursáteis ainda estavam fortemente negativos na maior parte dos mercados acionários, -15,9% para o CAC 40, -16,3% para o DJindus, -19,7% para o Euro Stoxx 50…
Os principais bancos centrais esforçaram-se na coordenação das suas intervenções, oferecendo linhas de crédito privilegiadas aos bancos e reduzindo continuamente suas taxas básicas de juros. O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, e o presidente do FED, Ben Bernanke, organizaram um gigantesco pacote para o socorro do sistema financeiro e mobilizaram um montante superior a 700 mil milhões de dólares para a compra dos títulos podres dos ativos bancários. De início, o projeto foi rejeitado na Câmara, mas foi aprovado no Senado após várias alterações, as principais foram, a forma de ajuda aos bancos, que passou a ser através da compra de ações, e a extensão da ajuda para outras empresas, o projeto passou de duas páginas para mais de 400 páginas, e sofreu um aumento para US$ 850 mil milhões. Desse total, foram aplicados cerca de US$ 500 mil milhões até o final do mandato de George W. Bush, inclusive com os empréstimos para salvar da falência a General Motors e a Chrysler, duas das maiores empresas automobilísticas do mundo.
Após a eleição e a posse de Barack Obama, um outro plano foi submetido ao Congresso dos EUA. Ele foi elaborado por um grupo de economistas que assessoram ou assessoravam o novo Presidente, grupo este que é constituído por alguns dos principais responsáveis pela expansão do capital fictício especulativo, pela desregulamentação dos mercados dos mercados financeiros e pela mundialização das políticas neoliberais. Entre eles estão Larry Summers, ex-Secretário do Tesouro na administração Clinton e ex-economista-chefe do Banco Mundial, atualmente é Conselheiro econômico da Casa Branca; Timothy Geitner, ex-presidente do FED de Nova Yorque e ex-diretor de política de desenvolvimento do FMI, atualmente é secretário do Tesouro; e, sobretudo, o próprio Paul Volcker, que presidiu o FED entre 1979 e 1987 e encaminhou as principais mudanças de estratégia estadunidense na adoção do monetarismo, atualmente é diretor do President´s Economic Recovery Advisory Board (Conselho Consultivo para a Recuperação Econômica).
O esperado plano de salvamento foi sancionado pelo presidente Obama em 18 de fevereiro de 2009. Ele acrescentava ao plano anterior, aprovado ainda durante o mandato de George W. Bush, cerca de 780 mil milhões de dólares, que elevou o total acumulado para mais de 1,6 milhão de milhão de dólares. Apesar da dimensão desse pacote, o presidente Obama não descartou, em caso de necessidade, a possibilidade de estender ainda mais a amplitude desse pacote ou de um novo plano para a próxima década. Sobre o total aprovado, “38% irão para ajuda a governos estaduais e locais e programas de assistência à população de baixa renda ou desempregada; 38% responderão por cortes nos impostos pagos principalmente pela classe média; e 24% serão gastos em obras públicas” (FSP, 14/02/2009), com o objetivo de criar quatro milhões de empregos. Isso não impediu as quedas nos principais mercados financeiros que continuaram sua degringolada em Nova Iorque, Londres, Frankfurt ou Paris, demonstrando não somente a insatisfação dos grandes proprietários do capital fictício frente ao plano, mas também uma aparente insuficiência de recursos injetados para salvar o sistema bancário.
A hipótese mais provável, na época, era de uma insolvência, confirmada pela sucessão de anúncios das perdas registradas pelos grandes oligopólios financeiros estadunidenses depois do último trimestre de 2008 (por exemplo, 58,7 mil milhões de dólares de prejuízos da Fannie Mae em 2009) [12]. No primeiro trimestre de 2009, o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), classificava 305 estabelecimentos bancários norte-americanos, com ativos de 220 mil milhões de dólares, como problemáticos [13]. É, durante essa turbulência que o presidente Obama afirmava perceber “o início do fim da crise” [the beginning of the end of the crisis] [14]. Naquele momento, o projeto de orçamento apresentado pelo governo ao Congresso, para o ano fiscal de 2010, enfatizava o aumento dos gastos sociais, uma redução dos gastos militares e o aumento nos impostos sobre as famílias mais ricas. O orçamento que alguns qualificaram como “socialista” ou “Robin Hood”, que cobra dos ricos e distribui para os pobres, não esqueceu dos ricos banqueiros, investidores e especuladores do mercado financeiro. Mesmo assim, esse projeto não acalmou o mercado e sofreu profundas críticas. O déficit fiscal previsto para o ano de 2009 era de 12,3% do PIB norte-americano, ou US$ 1,75 trilhão e previsão de US$ 1,17 trilhão, em 2010 [15].
Além das mais diversas tentativas de reativação da oferta de crédito pelos bancos centrais, desde 2007, as medidas de política econômica dos diversos planos dos governos do G7 (disfarçados em G20, na falta do G192) produziram poucos impactos em termos de recuperação da economia mundial. Entretanto, os gigantescos programas de salvamento dos grandes bancos (grandes demais para falirem) propiciaram uma enorme transferência de capital fictício que deveria ser desvalorizado para os Tesouros nacionais agravando fortemente as dívidas públicas dos Estados. A transmissão dos efeitos da crise que explodiu na esfera financeira para a esfera real acelerou os impactos sobre os níveis de produção, do emprego e do comércio internacional. A maior parte das grandes instituições internacionais, do FMI à OCDE, revisou continuamente para baixo suas previsões para o crescimento econômico para 2009-2010. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que a desaceleração econômica atual nos principais países do sistema capitalista mundial deverá ocasionar um aumento do número de desempregados na ordem de 20 milhões em 2009, enquanto que o total dos desempregados em todo o mundo deverá ultrapassar os 210 milhões neste mesmo ano. Os dados do US Bureau of Labour Statistics de outubro de 2009, revelam uma retomada da aceleração do desemprego nos Estados Unidos, quando a taxa de desemprego aberto ultrapassou 10% [16], com quase 16 milhões de desempregados.
Das interpretações às soluções
A grande depressão dos anos 1930 colocou em evidência os limites da teoria neoclássica dominante na época. Sua explicação sobre o funcionamento do capitalismo se fundamenta na lei de Say, duramente criticada por Keynes [17] na Teoria Geral, e sobre o equilíbrio dos mercados através de um ajuste automático dos preços, impedindo teoricamente o surgimento espontâneo de uma crise. Como esta última crise – que muitos insistem em classificá-la de financeira – uma realidade que é difícil de negar. A maior parte dos autores neoclássicos (e dos comentaristas econômicos que a vulgarizaram na grande imprensa) interpreta a crise a partir de fatores externos aos mercados, em particular a intervenção do Estado ou a influência dos sindicatos dos trabalhadores, ou pelos excessos no comportamento dos agentes econômicos, que vai da cobiça desmesurada às fraudes, passando pela governança corporativa, que perturbam o livre jogo das forças do mercado. A lógica da concentração da propriedade e da riqueza privada assim como a da maximização, não são problemáticas, somente os casos de incompetência ou de corrupção são questionados.
As políticas neoliberais estão, portanto, em declínio, mas ainda exibem muita força e vigor. A gravidade da crise recolocou em cena as teses de John Maynard Keynes, crítico agudo da visão neoclássica de um ajustamento autoregulado do capitalismo. Há alguns anos, uma parte dos teóricos neoclássicos começou a abandonar certas posições mais duras da teoria, não para converterem-se ao keynesianismo, mas para relançarem a ambição da absorção dele pelo paradigma walrasiano, através da chamada segunda síntese neoclássica, realizada desde os anos 1940 por Sir John R. Hicks e Paul A. Samuelson. Encontramos, atualmente, entre os seus herdeiros mais eminentes, que permanecem fiéis à teoria neoclássica padrão, mesmo ao preço de algumas adaptações (sobre os ajustamentos de preços, as antecipações ou à concorrência imperfeita) Joseph Stiglitz, Paul Krugman e Olivier Blanchard. O primeiro, prêmio Nobel de economia em 2008, foi vice-presidente do Banco Mundial e não precisa de maiores apresentações. Krugman, prêmio Nobel em 2008, encerra seu livro, “A crise de 2008 e o retorno da depressão econômica”, escrevendo que “Keynes – que compreendeu a Grande Depressão [dos anos 1930] está atualmente, mais do que nunca, na ordem do dia”. [18] O terceiro, durante muito tempo professor no MIT, assessora ao mesmo tempo o diretor gerente socialista do FMI, Dominique Strauss-Kahn, como economista-chefe dessa instituição, e o prêmio Nobel da Paz de 2009, Barack Obama, como conselheiro dos Federal Reserve Banks de Nova Iorque e de Boston.
Todavia, é forçoso reconhecer que, apesar deles frequentemente divergirem quanto às proposições relativas ao grau de intervenção do Estado, as interpretações desses “novos keynesianos” e dos neoclássicos “tradicionais” fazem parte da mesma matriz político-ideológica da teoria econômica. Para os mais avançados dentre eles, apesar das nuances, variantes e sutilezas que os diferenciam, as propostas que eles apresentam são apenas a introdução de pequenas modificações no funcionamento do capitalismo, para que esse sobreviva o maior tempo possível (esse foi também o objetivo de Keynes). Quase todos aceitaram, temporariamente, uma intervenção direta e maciça do Estado através da compra de ações dos bancos, de companhias de seguros e de caixas de poupança à beira da falência, isso sem mesmo reivindicar direito de voto e muito menos de controle das empresas estatizadas. Pode-se perceber algumas medidas keynesianas nos pacotes anti-crise aprovados pelos governos dos Estados Unidos, desde o primeiro plano proposto pela equipe de George W. Bush no primeiro semestre de 2008 (como a devolução de uma parte do imposto de renda que havia sido pago, como tentativa de estimular a demanda de consumo) até, sobretudo, no programa do presidente Barack Obama (obras de renovação de infra-estruturas). Entretanto, a predominância é, claramente, de medidas de políticas neoliberais visando salvar o máximo de riqueza financeira, quer dizer, do capital fictício acumulado pelos oligopólios da alta finança [19].
A conversão dos planos emergenciais de salvamento do capitalismo em um intervencionismo do Estado através dos Bancos Centrais, acionados de forma muito pouco democráticas pelos dirigentes dos governos neoliberais do Norte, não deve trazer ilusões. A combinação de fortes reduções nas taxas de juros com a abertura de gigantescas linhas de crédito e de compra de ativos bancários permanecem dentro das concepções ortodoxas e seus idealizadores estão muito longe de escaparem dos dogmas da teoria dominante. O “Relatório da Comissão Stiglitz” [20] fornece uma boa ilustração. Redigido entre 2008 e 2009 a pedido do presidente da Assembléia Geral das Nações Unidas, Miguel d´Escoto, o documento final não questiona verdadeiramente os fundamentos da ideologia neoliberal, apesar dela estar debilitada pela crise. Segundo este relatório, as antigas certezas do neoliberalismo devem ser revistas, mas certamente não devem ser abandonadas. Os regimes cambiais devem permanecer flutuantes, as virtudes do livre comércio são reafirmadas frente ao perigo do protecionismo, as falhas da governança corporativa devem ser corrigidas, a gestão dos riscos financeiros continua a ser confiada aos próprios oligopólios privados e a regulação do sistema mundial continua submetido ao imperialismo estadunidense. Assim, estamos cada vez mais longe das manifestações de rejeição expressas cada vez mais pelos países do Sul, da China à Venezuela, contra a liberalização financeira mundial claro que dentro de certos limites, dificuldades e contradições, é verdade.
Por outro lado, uma parte dos economistas liberais, minoritária mas significativa, continua a se radicalizar e se aproximam das teses ultra-liberais austríacas inspiradas em Ludwig Von Mises e Friedrich August Von Hayek. Tendo como fundamento a reafirmação sobre o caráter do equilíbrio automático dos mercados essas análises da crise, das quais encontramos uma bela amostra na página internet do Instituto Von Mises [21] , são embaraçosas para nossos neoliberais “novos keynesianos” na medida em que elas defendem, desde o início, que a crise é o resultado do excesso de intervenção do Estado e que o Estado não deveria, de forma alguma, salvar os bancos e empresas problemáticas [22] . O que deveria ser feito, segundo eles, seria acabar com todas as regulamentações estatais que limitam a livre ação dos agentes econômicos nos mercados. As políticas públicas de habitação, financiadas por Fannie Mae e Freddie Mac , pretendiam, de maneira populista, que todos os cidadãos tivessem acesso ao mercado imobiliário. O mercado demonstrou que é impossível, nem todos podem ter sua casa própria. Os ultra-liberais desenvolvem seus argumentos contra os planos anti-crise e, em particular, contra a regulamentação externa das taxas de juros pelo Banco Central. Os mais radicais dentre eles chegam a defender a supressão pura e simples das instituições estatais, instituições públicas, do banco central e da moeda estatal [23]. Eles estão conscientes de que tais medidas conduziriam o sistema capitalista ao caos, mas sua confiança nos mecanismos de mercado os conduzem à defesa de que esse caos será benéfico para o capitalismo e que o capital se reconstituirá muito mais rapidamente e mais vigorosamente do que se for apoiado pelas intervenções estatais artificiais, que tomam a forma de diferentes auxílios públicos às empresas condenadas à falência.
Nenhuma dessas correntes de pensamento sugere uma reflexão sobre as condições de um processo que permita a superação do capital enquanto relação social de exploração e opressão – inclusive as propostas da esquerda que demandam a reforma do FMI, do Banco Mundial ou a criação de uma nova “moeda mundial”. Entretanto, existem vários defensores de que a crise atual conduzirá, provavelmente, ao colapso do capitalismo.
No início dos anos 1990, Robert Kurz [24], em diversas obras, já defendia que o modo de produção capitalista estava em vias de extinção e que o século XXI abriria um período de transição para uma nova forma de sociedade. Immanuel Wallerstein, que estuda as tendências longas do capitalismo a partir das teorias do sistema mundo, declarou em uma entrevista ao Le Monde em outubro de 2008: “Eu penso que há 30 anos entramos na fase terminal do sistema capitalista. A situação torna-se caótica, incontrolável pelas forças que a dominavam até agora, e vemos a emergência de uma luta, não entre os detentores e os adversários do sistema, mas entre todos os agentes para determinar o que vai substituí-lo. Eu reservo a palavra ‘crise’ à esse tipo de período. Bem, estamos em crise. O capitalismo atinge o seu fim.” [25] Ele acrescentou, em outra entrevista, ao jornal Público de Madri: “Nós podemos estar seguros que em 30 anos não viveremos mais sob o sistema-mundo capitalista.” [26] Essas interpretações alinham-se com certas análises da conjuntura mundial do capitalismo, principalmente a equipe do Global Europe Anticipation Bulletin (GEAB – LEAP), cujas previsões sobre a crise continuam cada vez mais pessimistas. “Desde fevereiro de 2006, o LEAP/E2020 tinha avaliado que a crise sistêmica global se desenrolaria segundo quatro grandes fases estruturantes, a saber as fases de eclosão, de aceleração, de impacto e de decantação. Esse processo descreveu bem os acontecimentos até hoje [15/02/2009]. Mas, […] a incapacidade dos dirigentes mundiais em medir a crise, caracterizada principalmente pela sua obstinação há mais de um ano em tratar das conseqüências da crise ao invés de atacar radicalmente suas causas, fará com que a crise sistêmica global entre em uma 5ª fase a partir do 4º trimestre de 2009: a fase chamada de deslocamento geopolítico mundial.” [27] Em seu boletim mais recente, GEAB 39 de 15/11/2009, avaliam que: “Para o ano de 2010, tendo como pano de fundo uma depressão econômica e social, e de um maior protecionismo, essa evolução vai condenar um grande número de Estados à escolher entre três opções brutais, a saber: a inflação, a forte alta da pressão fiscal ou a cessação de pagamentos. Um crescente número de países (USA, Reino Unido, Eurolândia, Japão, China…), tendo gasto todos seus cartuchos orçamentários e monetários na crise financeira de 2008/2009, com efeito não podem mais ter outra alternativa.” [28]
O aprofundamento das contradições

As medidas adotadas pelos Bancos Centrais para enfrentar a eclosão da crise, em 2007, aguçou as contradições econômicas conseguindo, somente, evitar um colapso global do sistema financeiro. As estatizações dos bancos e as linhas de crédito abertas produziram como efeito a aceleração do endividamento dos principais Estados capitalistas, por um lado, e, por outro, evitaram uma maior desvalorização do capital fictício transferindo parte dele ao Estado e aos Bancos Centrais.
Nos Estados Unidos, a dívida pública passou de 9,0 milhão de milhões de dólares, no final de agosto de 2007, para 12,1 milhões de milhões de dólares [29] ou mais de 90% do PIB, no final de novembro de 2009, um aumento de quase 35% nesse período. As estimativas das dívidas estatais para vários países elaboradas pelo FMI, para 2009, são mais conservadoras. Mesmo considerando estas estimativas, nenhum desses países atende mais aos critérios de convergência do Tratado de Maastricht, que estabeleceu como meta o limite de endividamento em 60% do PIB. Segundo o FMI, a dívida bruta do governo norte-americano é de 84,8% do PIB, a do governo japonês é de 218,6%, a do governo italiano é de 115,8%, a do governo alemão é de 78,7%, a do governo francês é de 76,7%, a do governo canadense é de 78,2% e a do Reino Unido é de 68,7%. O crescimento, entre 2007 e 2009, foi de 22,9 pontos percentuais para os Estados Unidos, 31,0 pontos para o Japão, 12,3 pontos para a Itália, 15,3 pontos para a Alemanha, 12,9 pontos para a França, 14,0 pontos para o Canadá e 24,6 pontos para o Reino Unido [30]. Esse crescimento acelerado da dívida pública expressa, em parte, a transferência de parte do capital fictício dos grandes bancos e instituições financeiras para o Estado. Por outro lado, alimenta e amplia as avaliações e conjecturas sobre a possibilidade de uma nova explosão nos mercados financeiros decorrente de uma possível insolvência desses Estados.
Entre setembro de 2008, quando o Lehman Brothers faliu, e setembro de 2009, a emissão de moeda, base monetária ou passivo monetário do FED, passou de 908,0 mil milhões de dólares para 1.800,1 mil milhões de dólares (no final de outubro de 2009, chegou a 1.936,5 mil milhões), um aumento de mais de 100%, em pouco mais de um ano. No mesmo período, entre 2006 e 2007, o crescimento da base monetária tinha sido de 2,1% e 9,9%, respectivamente. Essa gigantesca criação primária de moeda, entre 2008 e 2009, apresentou um impacto pouco significativo nos meios de pagamentos (M 1 ), que cresceu apenas 14,3%, e menos ainda no M 2 , com aumento de 6,7% [31]. Assim, essa injeção de moeda, associada à queda na prime rate, , não atingiu o objetivo esperado de elevação do crédito bancário. Os empréstimos bancários totais do sistema bancário estadunidense, que tinha crescido 7,4%, no período anterior, cresceram 2,8%, entre setembro de 2007 e 2008, e diminuíram 8,2%, entre 2008 e 2009 [32]; entretanto, o total dos empréstimos renegociados aumentou quase 140%, após a falência do Lehman Brothers, segundo os dados do Federal Deposit Insurance Corporation. Entretanto, os ativos dos bancos norte-americanos cresceram com essa política do FED, de 12,7 milhões de milhões de dólares, em setembro de 2006, para 13,3 milhões de milhões, em setembro de 2009. O aumento nos ativos bancários significa, igualmente, um crescimento do capital fictício, fundado na expansão da oferta monetária do FED.
O crescimento do capital fictício se reflete no volume total de derivativos nos balanços dos bancos norte-americanos, estimados em valor nocional, que estão crescendo continuamente, tendo crescido mesmo durante o período mais duro da crise. Assim, o total de derivativos passou de 127,1 milhões de milhões de dólares, em setembro de 2006, para 174,6 milhões de milhões de dólares, em 2007, 177,1 milhões de milhões de dólares, em 2008, e 206,4 milhões de milhões de dólares, em setembro de 2009 [33]. A maior parte desses derivativos (99,8%, em junho de 2009) estão em poder de apenas 25 bancos comerciais, dentre os quais os cinco maiores são J.P. Morgan Chase, Goldman Sachs, Bank of América, Citibank e Wells Fargo Bank, com mais de 195,0 milhão de milhões de dólares ou 96,5% do total [34] . Deve-se destacar que os mais de 8 mil bancos dos Estados Unidos tinham ativos totais de 13,2 milhões de milhões de dólares, em 30 de setembro de 2009, segundo o FDIC, os 25 maiores bancos tinham 7,7 milhões de milhões de dólares, em junho de 2009, e os cinco maiores, apenas 5,5 milhões de milhões de dólares em ativos totais, segundo os dados do OCC.
Na medida em que a injeção de novos recursos não foi convertida em novos empréstimos, uma parte deles foi redirecionada ao mercado financeiro internacional, propiciando a acelerada recuperação dos índices das principais bolsas de valores, em 2009, e pressionando continuamente à desvalorização do dólar. Assim como o crescimento da dívida pública espalhou o fantasma da insolvência dos Estados, o gigantesco crescimento na oferta de dólares está alimentando as previsões sobre o seu colapso como moeda mundial e o fim da hegemonia mundial dos Estados Unidos [35].
À guisa de conclusão
O ano de 2009 está terminando com todas as economias do mundo retomando um tímido crescimento. No último World Economic Outlook, o FMI estima que a queda da economia mundial seja de apenas 1,1%, no ano. Muito menos do que as previsões mais pessimistas. As economias avançadas terão um retrocesso médio de 3,4%, destacando-se o Japão com -5,4% e os países da zona do Euro com -4,2%, os Estados Unidos sofrerão menos, apenas -2,7%. Por outro lado, as economias “emergentes e em desenvolvimento” crescerão 1,7%. As previsões para 2010 são otimistas, 3,1% de crescimento para a economia mundial, 1,3% para as economias avançadas e 5,1 para as emergentes e em desenvolvimento [36]. Afinal, a crise parece ter sido superada e o sistema capitalista mundial aparenta entrar novamente em um ritmo normal de crescimento, mesmo que ainda timidamente. Assim, as interpretações catastrofistas parecem ter sido refutadas e as dos defensores da intervenção estatal parecem plenamente confirmadas.
Nós discordamos do ponto de vista de que esta crise, por mais profunda que ela seja, conduza o sistema capitalista a um colapso imediato. Discordamos, igualmente, que a gigantesca criação de dólares levará ao fim o padrão dólar e do imperialismo estadunidense no sistema mundial. Como afirmamos no início, a intervenção estatal permite amenizar os impactos da crise estendendo-a no tempo e distribuindo-a no espaço, dessa forma, a aparente superação da crise não trará de volta, imediatamente, um período longo de expansão e de estabilidade da economia capitalista mundial. Além disso, a crise econômica é necessária, mas não é suficiente para mudar a correlação de forças entre as classes sociais em luta e muito menos para a decadência da hegemonia burguesa construída solidamente, em cada um dos países, através de uma ampla sociedade civil, no sentido gramsciano [37].
A crise atual abre um novo período para expandir a exploração da força de trabalho para a recuperação, ao menos parcial, da taxa de lucro. E isso tem como fundamento objetivo as enormes massas de trabalhadores desempregados devido à crise e o gigantesco contingente de famintos no mundo, dispostos a se submeterem às condições mais duras do trabalho assalariado para obterem o mínimo para atender suas necessidades básicas.
Quanto à superação do imperialismo estadunidense e a sua substituição por outra potência no curto prazo, como defende Wallerstein, é muito pouco provável [38]. Isso porque o centro do imperialismo é também o centro das unidades de capital mais poderosas do planeta que estão disseminadas e implantadas nas principais regiões do mundo, asseguradas pelas forças armadas mais poderosas do planeta. Da mesma forma, as pressões para a desvalorização do dólar decorrente da gigantesca emissão não são suficientes para a sua falência como dinheiro mundial. Primeiro, porque não há uma moeda concorrente com suficiente peso na economia mundial para substituir o dólar; segundo, porque os interesses e contradições entre os diferentes estados nacionais dificilmente serão superados para a criação de uma nova moeda mundial; terceiro, porque o FMI, em particular, está sendo regenerado como um dos guardiões do dólar, através das maciças injeções de recursos efetuadas recentemente; enfim, porque assim como as unidades de capital, o dólar também é respaldado pela força bélica da potência mundial.
A desvalorização acelerada do dólar, ademais, beneficia os EUA por dois motivos: primeiro porque desvaloriza as reservas internacionais dos países que acumularam uma gigantesca massa de dólares em suas reservas; segundo, porque torna mais competitiva as exportações, contribuindo na redução do déficit externo estadunidense. A desvalorização do dólar tornou-se um dos mecanismos através do qual uma parte dos custos da recuperação do sistema de crédito no centro do capitalismo está sendo transferida para os países periféricos. Por outro lado, os países que acumularam alguns milhões de milhões de dólares em reservas, em particular a China e o Japão, encontram-se em uma armadilha da qual é difícil escapar e acabam sendo obrigados a apoiarem e evitarem o colapso do dólar.
Essa nova manifestação da crise do capital colocou em evidência as contradições do próprio modo de produção capitalista e que o seu desenvolvimento não só não atende como é contrário às necessidades básicas e gerais da maioria da população mundial. A solução de suas contradições pode recolocar em marcha o ritmo da acumulação de capital, até a explosão de nova crise. A gravidade da crise atual e as contradições recolocadas em outro nível recomendam que é necessário repensar o desenvolvimento e colocar em pauta a urgência da necessidade de superação do modo de produção capitalista e a construção de uma nova sociedade.
Notas:
[1] HERRERA, Rémy; NAKATANI , P. . La crise financière: racines, raisons, perspectives. La Pensée (Paris), v. 353, p. 109-113, 2008.
[2] Esta forma de capital torna-se cada vez mais especulativa e parasitária. Ver: CARCANHOLO, R. e NAKATANI, P. O capital especulativo parasitário: Uma precisão teórica sobre o capital financeiro, característico da globalização. Ensaios FEE, vol. 20, no. 1, p. 284-304, 1999.
[3] MARX, Karl. O Capital. Crítica da Economia Política. Livro III, vol. IV e V. Os Economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1986.
[4] Para a edição em alemão: Marx, Karl. Das Kapital – Kritik der politischen Ökonomie, Buch III: Der Gesamtprozeß der kapitalistischen Produktion . Band 25, Berlin: Institut für Marxismus-Leninismus, Dietz Verlag, 1964; e em português MARX, Karl. O Capital. Crítica da Economia Política. Livro III, vol. IV e V. Os Economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1986.
[5] Há outras formas de capital fictício que podem surgir em um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas e que desaparecem quando o próprio desenvolvimento dessas forças suprime as bases do surgimento daquela forma especifica de capital fictício. Marx mostra como o capital empregado na compra e venda de uma mercadoria exportada da Inglaterra para a China converte-se em capital fictício duplicado nas duas pontas do negócio, nos dois países, através do sistema de crédito. A existência desse capital fictício era possível devido ao longo tempo necessário para o transporte da mercadoria. A rapidez com que o sistema de transporte passou a entregar as mercadorias, nos dias de hoje, acabou com essa forma de criação do capital fictício. (MARX, 1986, op. cit. p. 301).
[6] CARCANHOLO, R. e NAKATANI, P. O capital especulativo parasitário: Uma precisão teórica sobre o capital financeiro, característico da globalização. Ensaios FEE, vol. 20, no. 1, 1999, p. 284-304 e CARCANHOLO, R e SABADINI, M. S. Capital fictício y ganâncias fictícias. Herramienta, no. 37, 2008, p. 59-80.
[7] As chamadas hipotecas sub-prime são empréstimos que foram concedidos para famílias, sem uma fonte de renda regular e sem um bom cadastro bancário, para a aquisição de imóveis. Em contraste com a prime rate, a taxa de juros cobrada nestes empréstimos era de mais de 8% ao ano, aumentando até 14%, depois dos dois primeiros anos. Esse enorme diferencial entre a taxa básica de juros e a taxa paga pelos devedores hipotecários estimulou fortemente a oferta de crédito devido ao excesso de capital dinheiro acumulado. Devido ao risco de inadimplência foram desenvolvidos várias formas de derivativos (MBS, CMO, ABS, CBO) que supostamente anularia o risco pela sua diluição entre os vários participantes do mercado.
[8] O Banco Central Europeu (BCE) ofereceu US$ 130,0 mil milhões, o Federal Reserve (FED) fez o mesmo em um montante de US$ 24,0 mil milhões, seguido pelo Banco Central do Japão, num total de US$ 8,4 mil milhões. Esse conjunto de operações coordenadas e quase simultâneas ultrapassou 350,0 mil milhões de dólares após cinco dias de intervenção.
[9] KRUGMAN, Paul. Financial Russian Roulette. New York Times, 14 de setembro de 2008. Erro! A referência da hiperligação não é válida..Também ocorreram corridas bancárias à moda antiga, como ao banco Northern Rock, na Inglaterra, estatizado em fevereiro de 2008. Nem o Brasil escapou dessas corridas bancárias, conforme entrevista de Mário Torós, diretor de política monetária do Banco Central, ao Valor Econômico, em 13/11/2 009.
[10] http://cnnmoney.printthis.clickability.com/pt/cpt?action=cpt&titl.
[11] Segundo os dados estatísticos de 2008 elaborados por Thomson Financial Datastream, disponíveis em janeiro de 2009.
[12] Segundo o jornalista britânico Martin Wolf, principal comentarista econômico do Financial Times: “uma proporção considerável de bancos está insolvente, seus ativos valem menos do que seus passivos. O FMI estima que as perdas potenciais de créditos pode chegar a 2,2 milhão de milhões de dólares nos Estados Unidos. Outros cálculos sugerem que elas ultrapassariam 3,6 milhão de milhões de dólares”. Why Obama´s new tarpp will fail to rescue banks. http://news.ft.com/comment/columnist/martinwolf . Acesso em 10/02/2009.
[13] Esse número subiu para 552, com ativos de 346 mil milhões de dólares, no terceiro trimestre de 2009, num total de 8.099 instituições. FDIC. Quartely Banking Profile. http://www2.fdic.gov/qbp/2009sep/qbp.pdf
[14] The Washington Post, 17 de fevereiro de 2009. ” Economy Watch: Coverage of the Financial Crisis “. In: voices.washingtonpost.com/… . Acesso em 18 de fevereiro de 2009.
[15] O déficit efetivamente verificado, divulgado em 16/10/2009, foi de US$ 1,4 milhão de milhões, ou 10% do PIB.
[16] data.bls.gov/… . Acesso em 17/11/2009.
[17] KEYNES, John M. A Teoria Geral do Emprego do Juro e do dinheiro. Col. Os Economistas. 2ed. São Paulo: Abril Cultural, 1985. p. 25-26.
[18] Extraído da edição francesa: KRUGMAN, Paul. Pourquoi les crises reviennent toujours? Paris: Seuil, 2009.
[19] O governo americano injetou mais de 140 mil milhões de dólares para o salvamento da American International Group (AIG) que utilizou 62,1 mil milhões de dólares para o pagamento de Credit Default Swaps, ao preço nominal, para 16 grandes corporações financeiras, entre elas a Société Gènérale (16,5 mil milhões), Goldman Sachs (14 mil milhões), Merril Lynch (6,2 mil milhões), Deutsche Bank (8,5 mil milhões), UBS (3,8 mil milhões) e Calyon (4,3 mil milhões), essas seis instituições receberam mais de 85% do total. (SIGTARP, novembro 2009, p. 20). Special Inspector General (SIGTARP) for the Troubled Asset Relief Program. www.sigtarp.gov/… . Acesso em 23/11/2009.
[20] ONU. Report of the Commission of Experts of the President of the United Nations General Assembly on Reforms of the International Monetary and Financial System . ONU: Nova Iorque, 2009. Disponível em:http://www.un.org/ga/econcrisissummit/docs/FinalReport_CoE.pdf . Acesso 23/11/2009.
[21] Ver, por exemplo, os artigos publicados de Frank Shostak, Lew Rockwell, Hans-Hermann Hope, entre outros em: www.mises.org.br.
[22] BLUMEN, Robert. Salvar ou deixar falir? 2009, www.mises.org.br/Article.aspx?id=414 . Acesso em 20/11/2009. Ver também SHOSTAK, Frank. O problema do crédito: o que fazer para recuperar os mercados? 2008, Erro! A referência da hiperligação não é válida. . Acesso em 24/11/2009.
[23] ROTHBARD, Murray N. O setor público: desestatizando a segurança, as ruas e as estradas. 2008. http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=174 . RON, Paul. Um Banco Central é incompatível com uma economia livre. 2009.
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=223 . MURPHY, Robert P. O plano de Hayek para a adoção de moedas privadas. 2009.
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=232 . Acesso em 24/11/2009.
[24] Kurz, Robert. O colapso da modernização. Da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
25. Le Monde, 11/10/2008. Disponível em: www.lemonde.fr/… . Acesso em 31/01/2009
[25] Público, 31/01/2009. Disponível em:
http://www.publico.es/dinero/196245/capitalismo/existira/anos. Acesso em 31/01/2009.
[26] GEAB 32, Sumário. Disponível em: http://www.leap2020.eu/GEAB-N-32-Sommaire_a2797.html. Acesso em 02/03/2009.
[27] GEAB 39, Sumário. Disponível em: www.leap2020.eu/… Acesso em: 25/11/2009.
[28] Dados disponíveis em:
http://www.treasurydirect.gov/NP/BPDLogin?application=np. Acesso em 01/12/2009.
[29] Para os dados do FMI:
http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2009/02/weodata/weorept. aspx.
Acesso em 28/11/2009.
[30] Dados disponíveis em:
http://www.federalreserve.gov/releases/h3/hist/h3hist2.pdf. Acesso em 27/11/2009.
[31] A queda foi de 7,8 milhão de milhões de dólares, em 30 de setembro de 2008, para 7,1 milhão de milhões, em setembro de 2009.
http:www2.fdic.gov/sdi/main.asp. Acesso em 01/12/2009
[32] http:www2.fdic.gov/sdi/main.asp. Acesso em 01/12/2009.
[33] Office of the Comptroller of the Currency (OCC).
http://www.occ.treas.gov/ftp/release/2009-114a.pdf . Segundo o Bank for International Settlements (BIS), o montante total de derivativos no sistema financeiro internacional caiu de 683,8 milhão de milhões de dólares, em junho de 2008, para 547,4 milhão de milhões, em dezembro de 2008, e aumentou para 604,6 milhão de milhões de dólares, em junho de 2009. BIS. Quartely Review, December 2009. Disponível em:
http://www.bis.org/statistics/otcder/dt1920a.pdf . Acesso em 01/12/2009.
[34] Este ponto de vista era defendido por Arrighi antes mesmo da eclosão da crise em seu livro publicado originalmente em 2007. ARRIGHI, Giovanni. Adam Smith em Pequim. Origens e fundamentos do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008. Nós preferimos utilizar a categoria de imperialismo para tratar das relações entre países e utilizamos o conceito de hegemonia na relação entre classes sociais.
[35] FMI. Perspectivas de la Economia Mundial. Outubro de 2009, p 185.
http://www.imf.org/external/spanish/ index.htm . Acesso em 30/11/2009.
[36] Para Gramsci, a sociedade civil é parte integrante do Estado capitalista em sentido amplo, não são duas esferas ou instâncias da sociedade capitalista que se opõem, como se usa habitualmente.
[37] Não é o caso de Robert Kurz, que defende que a transição deverá durar todo o século XXI.
* Paulo Nakatani é Professor do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Remy Herrera, amigo e colaborador de odiario.info, é Professor da Universidade de Paris1, Pantheon-Sorbone, França, membro do CNRS e Coordenador do Fórum Mundial das Alternativas.
Este texto, comunicação dos dois autores apresentada na mesa 2 do VI Colóquio da Sociedade Latino-americana de Economia Política e Pensamento Crítico (SEPLA), é uma versão modificada e actualizada do artigo “Crise financière ou crise de surproduction? Éléments pour une critique marxiste des mesures anti-crise”, elaborado para publicação na revista La Pensée. Publicado em www.rediu.org/NAKATANI.mesa2.pdf.

http://www.odiario.info/?p=2010

Trabalhadores da Soflusa avançam com pré-aviso de greve para os dias 4,5 e 6 de Abril

Os trabalhadores da Soflusa, empresa responsável pelas ligações fluviais entre o Barreiro e Lisboa, avançaram hoje com um pré-aviso de greve para os dias 4, 5 e 6 de abril, devido a questões relacionadas com a marcação de férias.

Segundo José Augusto, dirigente sindicalista do setor, em causa está o facto de a empresa estar a afastar um protocolo estabelecido entre as partes no que diz respeito à marcação das férias.
“Existe um protocolo que regulamenta a marcação de férias na empresa e essa protocolo está a ser afastado pela empresa de forma unilateral, o que motiva uma reação dos trabalhadores com este pré-aviso de greve, de três dias, duas horas por turno”, disse à Lusa José Augusto.
O sindicalista refere que além da violação ao Acordo de Empresa, que motiva a greve agendada para quarta-feira, surgiu mais esta questão específica.
“Vamos ver se a empresa reconsidera”, salientou.
Os trabalhadores Soflusa têm já agendada para quarta-feira uma greve de duas horas por turno por considerarem que a empresa não está a cumprir o acordo, estando também agendada uma greve de 60 dias ao trabalho extraordinário e greve às saídas para fora da rio Tejo.
No mesmo dia, também a Transtejo, empresa responsável pelas restantes ligações fluviais no Tejo, vai efetuar uma greve nos mesmos moldes que a Transtejo, pois os motivos da luta são os mesmos.

http://www.destak.pt/artigo/90483-trabalhadores-da-soflusa-avancam-com-pre-aviso-de-greve-para-os-dias-45-e-6-de-abril

Fenprof agenda quatro protestos à porta do Ministério para as próximas duas semanas

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) vai realizar nas próximas semanas, à porta do Ministério da Educação, quatro "ações de denúncia e protesto" sobre a situação profissional dos docentes, rede escolar, avaliação de desempenho e horários de trabalho.

Em comunicado, a estrutura sindical indica que estas são as "dimensões" do "grande problema" que hoje se vive no setor da Educação.
Os protestos, que o secretário geral da Fenprof, Mário Nogueira, já apelidou de "manifestódromo", estão marcados para terça e quinta-feira da próxima semana e 29 e 31 de março, sempre entre as 11:00 e as 15:00.
"No local e em cada um dos dias será feita a divulgação de dados, colocados painéis que ilustrarão as situações relatadas e suas consequências e, sobre alguns dos temas, desenvolvidas rábulas alusivas às situações em causa", afirma a Fenprof, em comunicado.
Sobre a situação sócio-profissional da classe, será abordada a "crescente" precariedade, a suspensão dos concursos e o congelamento da carreira, enquanto sobre a rede escolar serão focados os problemas registados na sequência do encerramento de escolas e da criação de "mega-agrupamentos".
A avaliação de desempenhodos docentes será naturalmente outro dos temas, nomeadamente o seu caráter "injusto, burocrático e gerador de problemas e conflitos", sendo o último protesto, no dia 31, dedicado aos horários de trabalho "absurdos" dos professores.

http://www.destak.pt/artigo/90501-fenprof-agenda-quatro-protestos-a-porta-do-ministerio-para-as-proximas-duas-semanas

CGTP: Central sindical espera "grande manifestação"

A CGTP espera ter "uma grande manifestação nacional" hoje em Lisboa, tendo em conta a mobilização demonstrada pelos trabalhadores ao longo das últimas semanas.
"Temos expetativas muito boas para a manifestação tendo em conta o envolvimento dos trabalhadores nos plenários realizados nos locais de trabalho e a disponibilidade demonstrada para participar na manifestação", disse à agência Lusa Arménio Carlos, da comissão executiva da Intersindical.
A Inter convocou para hoje uma manifestação nacional que pretende que seja um "dia de indignação e de protesto" contra o desemprego, o aumento do custo de vida e as injustiças sociais.
"Teremos uma grande manifestação de trabalhadores e desempregados", disse Arménio Carlos acrescentando que a manifestação será "de protesto e confiança" de que com a luta serão encontradas alternativas para as atuais politicas "e um caminho de progresso para o país.
A CGTP convocou a manifestação para protestar contra o aumento do desemprego e da precariedade, em defesa de aumentos salariais e das pensões e por novas politicas económicas e sociais.
A ação de protesto contará com a participação do cantor Vitorino e dos "Homens da Luta".
A manifestação vai começar com duas pré-concentrações: uma da função pública nas Amoreiras e outra do setor privado no Saldanha.
Os manifestantes juntam-se depois no Marquês de Pombal para descer a avenida da Liberdade até aos Restauradores onde serão feitas as intervenções sindicais e será aprovada uma resolução.
Este é o segundo sábado consecutivo em que Lisboa é palco de uma grande manifestação contra o desemprego e a precariedade. A da última semana não foi convocada por nenhuma estrutura sindical, foi promovida pela chamada "geração à rasca", jovens sem emprego ou com vinculo precário. 

http://noticias.sapo.pt/info/artigo/1137988.html

17/03/2011

Même la face émergée du lobbying manque de transparence…

Les députés peuvent-il légiférer et contrôler le gouvernement seuls sans interroger les acteurs concernés par leurs réformes ? 577 individus, même élus du peuple, ne peuvent pas tout connaître des sujets sur lesquels l’Assemblée Nationale se penche. Il est donc logique qu’ils interrogent et questionnent des acteurs publics et privés, syndicats ou associations. Mais qui auditionnent-ils donc ? Avec quels « experts », lobbyistes, représentants d’intérêt sont-ils en contact ? C’est pour répondre à ces questions que nous mettons à disposition, avec Transparence International France, une analyse et une application sur le lobbying.
3 000 internautes pour numériser 15 000 personnes auditionnées
Comme à notre habitude, nous sommes partis de documents publics : les 1 250 rapports parlementaires publiés entre juillet 2007 et juillet 2010. Ces rapports incluent régulièrement, en annexe, une liste des personnes auditionnées. Avec l’aide de plus de 3 000 internautes, nous avons référencé 15 000 individus intervenus lors de 9 000 auditions. Ces personnes représentaient au total près de 5 000 organisations.
Des chiffres bien différents des 130 organisations référencées dans le registre des lobbyistes tenu par l’Assemblée nationale. Cela pose un sérieux problème quant à la transparence de l’activité d’influence, si souvent critiquée. Autant les députés ont besoin d’interroger les acteurs impactés par leurs projets de loi, autant les citoyens ont le droit de savoir quels sont ces acteurs.
Le secteur public globalement plus écouté, le secteur privé se focalise sur certains thèmes
Toutes les données collectées sur ces auditions, part importante du processus parlementaire pour les lobbyistes, ont donc été cartographiées afin d’obtenir une vision plus factuelle du travail d’influence qui s’y opère.
Il ressort ainsi que les parlementaires auditionnent pour leurs rapports majoritairement les organisations publiques (48,3 %). Viennent ensuite les organisations représentatives (20,9 %), puis le secteur économique privé (16,4 %). La société civile n’est entendue qu’à hauteur de 7,5 %.
Nous avons également exploité les thèmes attribués par l’Assemblée à ses rapports. On peut noter que sur les thèmes « économie », « culture », « énergie », « internet », « médias » et « transports », le secteur privé (entreprises et leurs associations) est proportionnellement plus écouté. Les organisations représentatives (syndicats représentatifs, associations professionnelles, …) sont proportionnellement plus écoutées sur les thèmes traitant de l’agriculture, de la justice, des collectivités territoriales, des pouvoirs publics, de l’emploi et du sport. Enfin, les associations, fondations et ONG de la société civile sont plus écoutées que la moyenne sur les thèmes « femmes », « société », « anciens combattants » et « aide au développement ».
Le Parlement doit rendre le lobbying plus transparent
Le premier enseignement tiré de cette étude est la nécessité d’une plus grande transparence en matière de lobbying parlementaire : il n’est pas normal que seule une minorité de rapports des députés contienne la liste des personnes auditionnées (nous n’en avons trouvé que dans 38 % des rapports publiés depuis 2007). De même le registre des représentants d’intérêts devrait être révisé : il n’est pas normal qu’il ne recense que 130 organisations quand nous avons pu en dénombrer 5 000 durant ce travail.
Avoir un registre à l’image du travail effectif des parlementaires est dans l’intérêt de tous : sans transparence, le dialogue pourtant nécessaire entre les députés et la société pourra être suspecté de partialité. De plus, ce registre pourrait être un outil au service des députés : ils sont souvent désemparés face aux sollicitations des différents acteurs. Avoir un vrai registre qui encadre réellement les pratiques du lobbying, maintenue par l’institution, qui référence les groupes d’intérêt et leurs « expertises » devrait être le prochain défi à relever pour le parlement.
Comme pour toutes nos réalisations, en nous appliquant à nous même les principes de transparence que nous demandons aux institutions démocratiques, les outils et les données utilisés et créés dans le cadre de ce projet sont mis librement à disposition de tous sous licences libres.

GEAB N°53 - Global systemic crisis: Second half of 2011 – Crise systémique globale : Deuxième semestre 2011 – Préparez-vous à l'implosion du marché des Bons du Trésor US

Au-delà de ses tragiques conséquences humaines (1), la terrible catastrophe qui vient de frapper le Japon va se révéler le choc fatal pour le marché chancelant des bons du Trésor américain. Dans le GEAB N°52, notre équipe avait déjà expliqué comment l'enchaînement des révolutions arabes, cette chute du « mur des pétro-dollars » (2), allait se traduire courant 2011 par l'arrêt des achats massifs de Bons du Trésor US par les pays du Golfe. Dans ce GEAB N°53, nous anticipons que le choc brutal que subit l'économie japonaise va entraîner non seulement l'arrêt des achats de T-Bonds US par le Japon, mais qu'il va obliger les autorités de Tokyo à vendre durablement une part importante de leurs réserves en bons du Trésor US afin de financer le coût énorme de stabilisation, de reconstruction et de relance de l'économie nippone (3).

Le Japon et les pays du Golfe représentant à eux seuls 25% du total des 4.400 milliards USD de la dette fédérale US (Décembre 2010), LEAP/E2020 considère que cette situation nouvelle qui s'affirme au cours de ce premier trimestre 2011, sur fond de réticence croissante de la Chine (20% des Bons du Trésor US) à continuer à investir dans les titres fédéraux US (4), porte en germe l'implosion du marché des Bons du Trésor US pour le second semestre 2011 ; un marché qui n'a désormais plus qu'un seul acheteur : la Réserve fédérale US (5).

Il est certain que le contexte de la crise des titres des collectivités locales US (Munis) et des dettes publiques européennes (de l'ensemble de la périphérie de l'UE y compris les Royaume-Uni) que notre équipe a anticipée pour cette période (voir GEAB N°50 ) ne fera qu'amplifier le phénomène. Il est d'ailleurs tout-à-fait significatif que PIMCO, le plus important gestionnaire de fonds obligataire au monde ait décidé fin Février 2011 de se débarrasser de ses bons du Trésor US. Et c'était avant la catastrophe au Japon (6) !

Principaux détenteurs de la dette fédérale US (10/2010) - Sources : US Treasury / Dave's Manuel
Principaux détenteurs de la dette fédérale US (10/2010) - Sources : US Treasury / Dave's Manuel
Mais au-delà des chocs japonais et arabes (voir GEAB N°52 ), le processus d'implosion du marché de la dette fédérale US au second semestre 2011 s'accélère sous l'effet de quatre autres phénomènes :

. la mise en place de l'austérité budgétaire aux Etats-Unis (comme anticipé dans le GEAB N°47) qui condamne les collectivités locales US à une crise majeure du marché de leur dette (« Munis »)
. l'impossibilité pour la Fed de mettre en place un QE3
. l'inéluctable hausse des taux d'intérêt sur fond d'inflation mondiale
. la fin du statut-refuge de la devise américaine.

Bien entendu, l'ensemble de ces phénomènes sont liés et, caractéristique d'une crise majeure, on entre dans une période qui va voir leurs impacts se renforcer mutuellement, conduisant à ce choc brutal du second trimestre 2011. On pourrait d'ailleurs ajouter un cinquième phénomène : la paralysie décisionnelle complète du pouvoir US. L'affrontement quotidien, sur pratiquement tous les sujets, entre Républicains (radicalisés par les « Tea-Parties ») et Démocrates (démoralisés par une administration Obama qui a trahi l'essentiel de ses engagements électoraux (7)), tend chaque jour un peu plus à démontrer que Washington est désormais une sorte de « nef des fous », ballotée par les évènements, sans stratégie, sans volonté, sans capacité d'action (8). Autrement dit, selon LEAP/E2020, quand l'implosion du marché des Bons du Trésor US va commencer, il ne faudra s'attendre à rien d'autre à Washington qu'à une prodigieuse cacophonie qui ne fera qu'aggraver la crise.

Dans ce communiqué public du GEAB N°53, nous avons choisi de présenter plus en détail notre anticipation du choc japonais à l'échelle globale notamment en matière d'inflation et de géopolitique. Les autres phénomènes qui conduisent à l'implosion du marché des Bons du Trésor US au second semestre 2011 sont analysés dans ce GEAB où nous formulons également des recommandations pour faire face à l'évidente aggravation du processus de dislocation géopolitique mondiale.

La triple catastrophe qui vient de frapper le Japon (tremblement de terre, tsunami et accident nucléaire) constitue un événement crucial qui va accélérer et intensifier la crise systémique globale, et en particulier le processus de dislocation géopolitique mondiale. L'ampleur des destructions, le choc direct sur les infrastructures énergétiques de la troisième (ou quatrième économie de la planète (9)), la gravité des accidents dans les centrales nucléaires (10), constitue l'un de ces chocs majeurs auquel le système international actuel n'est plus capable de résister comme nous l'anticipions dans le GEAB N°51 (« 2011 : l'année impitoyable »).

Le Japon, déjà très affaibli par une crise économique chronique qui dure depuis vingt ans et dont l'endettement public est l'un des plus importants au monde, se retrouve désormais face à la double nécessité de financer une reconstruction à grande échelle et d'assurer la transition pour une période indéterminée caractérisée par une limitation de l'énergie disponible et des disruptions de ces circuits d'approvisionnement commerciaux et industriels. Or le Japon est une composante fondamentale du système de gouvernance mondiale de ces dernières décennies. Tokyo est l'une des principales places financières de la planète, l'un des trois pôles de gestion des marchés des devises (avec Londres et New-York) et l'économie japonaise fournit quantité de composants électroniques vitaux pour l'économie mondiale. Enfin, comme nous l'avons analysé dans GEAB par le passé, c'est avec le Royaume-Uni, l'un des deux « flotteurs » (11) qui permet aux Etats-Unis de gérer les affaires planétaires en matière économique, monétaire et financière depuis plus de cinquante ans.

Ce « flotteur » est déjà depuis quelques années attiré de manière croissante dans l'orbite chinoise, au rythme de la montée en puissance de la Chine et de l'affaiblissement des Etats-Unis. La crise déclenchée par le tremblement de terre va, selon LEAP/E2020, accélérer fortement cette évolution notamment parce qu'aujourd'hui, seule la Chine est en mesure d'apporter une aide financière massive au Japon (12), tout en aidant directement son économie en ouvrant encore plus aux entreprises japonaises l'immense marché chinois (13).

Part déclinante du Dollar US dans les transactions internationales (série N°1) et dans les réserves mondiales de change (série N°2) - Sources : BRI / FMI / Wall Street Journal, 03/2011
Part déclinante du Dollar US dans les transactions internationales (série N°1) et dans les réserves mondiales de change (série N°2) - Sources : BRI / FMI / Wall Street Journal, 03/2011
En ce qui concerne l'inflation mondiale, on peut déjà identifier cinq canaux par lesquels la crise japonaise va renforcer les pressions inflationnistes actuelles :

1. le coup d'arrêt brutal au développement des politiques d'équipement en nucléaire civil sur l'ensemble de la planète (14) qui va rapidement accroître la pression sur les prix du pétrole (15), du gaz et du charbon
2. la pénurie de nombreux composants électroniques vitaux qui va générer une hausse des prix des équipements électroniques (des ordinateurs en passant par les TV à écrans plats (16)) du fait des coupures d'électricité qui affectent les usines et de la désorganisation des transports (17)
3. une pression accrue sur les prix alimentaires et énergétiques (18) mondiaux du fait d'un accroissement significatif des importations alimentaires du Japon (notamment du riz) puisque la région touchée est l'une des grandes régions agricoles du pays (voir carte ci-dessous)
4. un nouveau recul de la globalisation économique suite aux conséquences mondiales du quasi-arrêt de l'économie japonaise, championne à la fois des exportations et du « flux tendu » (19), qui va limiter d'autant l'effet « déflationniste » des échanges mondialisés (20)
5. et enfin, un double phénomène de perte de valeur du Yen du fait d'injections massives de liquidités par la Banque du Japon et du renchérissement direct du « loyer » de l'argent au niveau mondial (hausse des taux) à cause des besoins gigantesques du Japon pour assurer sa reconstruction

Utilisation des terres japonaises (rouge : double récolte - riz et blé / saumon : récolte unique - riz / marron : récolte unique – blé / vert : forêt) - Source : Columbia University, 2009
Utilisation des terres japonaises (rouge : double récolte - riz et blé / saumon : récolte unique - riz / marron : récolte unique – blé / vert : forêt) - Source : Columbia University, 2009
Ces anticipations n'intègrent évidemment pas le scénario de catastrophe ultime qui verrait la région de Tokyo massivement contaminée par la radioactivité suite à une fusion explosive d'un des réacteurs de la centrale de Fukushima (21). Une telle situation conduirait, à l'image de ce qui est arrivé à Tchernobyl, à créer une zone d'exclusion touchant cette région où habitent plus de trente millions d'habitants et qui est au cœur de flux planétaires essentiels, et entraînerait une catastrophe humanitaire sans précédent historique et une disruption immédiate des marchés économiques, financiers et monétaires mondiaux. Il n'y a tout simplement pas de « plan B » à un « arrêt brutal » du nœud global que constitue Tokyo et sa région.

En souhaitant que cette situation extrême ne se réalise pas, notre équipe estime que le choc déjà avéré va donc se traduire par une aggravation brutale de la crise systémique mondiale et que le marché des Bons du Trésor US en sera la première grande victime collatérale dès le second semestre 2011 comme nous l'analysons en détail dans ce numéro du GEAB. Le pire n'est heureusement pas certain, mais le très grave ne fait en revanche plus de doute.

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Notes:

(1) Dans ces circonstances tragiques, l'équipe de LEAP/E2020 souhaite exprimer sa solidarité avec le peuple japonais et en particulier avec nos nombreux abonnés et visiteurs japonais. Nous tenons également à souligner que notre analyse très « clinique » des conséquences de la catastrophe qui vient de survenir au Japon n'est pas une marque d'indifférence mais tout simplement le respect de notre méthodologie qui vise à limiter au strict minimum possible les éléments subjectifs au sein de nos anticipations.

(2) Même le Telegraph du 24/02/2011 interprète désormais les révolutions populaires arabes comme la chute de l'empire américain du Moyen-Orient.

(3) Source : JapanToday, 14/03/2011

(4) D'après le FT Deutschland, la banque centrale chinoise aurait même reçu consigne de ne plus en acheter du tout. Source : FT Deutschland, 10/03/2011

(5) Avant la catastrophe japonaise, on estime que la Fed, devenue désormais le premier détenteur de Bons du Trésor US, achetait déjà plus de 70% des nouvelles émissions. Dans les semaines à venir, cette proportion va se rapprocher progressivement de 90% à 95%. Car même malgré sa docilité vis-à-vis des pressions US, le Royaume-Uni, qui s'enfonce chaque jour un peu plus dans la nouvelle phase de la crise, la « double-dip-flation » comme la nommé notre équipe, n'a plus les moyens d'acheter les Bons du Trésor américain : il est trop occupé à racheter les titres de sa propre dette publique. Et, d'après Karen Ward, une des principales économistes d'HSBC, le gouvernement britannique risque même de devoir faire face à des émeutes de la faim si les prix alimentaires continuent à s'envoler comme ils le font depuis plusieurs semaines. Source : SkyNews, 09/03/2011

(6) A court terme, la fuite hors des valeurs boursières (japonaises et autres) peut bénéficier aux Bons du Trésor US, mais c'est un phénomène transitoire. Source : CNBC, 09/03/2011

(7) Le dernier en date est la réouverture des procès de Guantanamo alors qu'il avait promis la fermeture de la prison au plus tard un an après son élection, s'attirant ainsi des millions d'électeurs de la gauche du parti démocrate.

(8) L'autre grand pays occidental dont les élites dirigeantes sont dans la même situation est la France.

(9) Selon que l'on considère ou non l'Euroland comme une économie à part entière. Or le sommet du 11 Mars dernier qui approfondit encore l'intégration budgétaire et financière des pays de la zone Euro rend de plus en plus aberrante la position consistant à vouloir continuer à comptabiliser de manière séparée les grands agrégats économiques des pays de la zone Euro. Ainsi, avec 8.400 milliards €, le PNB de l'Euroland se situe en seconde position derrière les Etats-Unis (10.428 Milliards €), au cours actuel de 1€ pour 1,4$ et très largement devant la Chine (4.100 milliards €) et le Japon (3.850 milliards €). Sources : Wikipedia, Eurozone, Liste pays par PNB.

(10) Sans même évoquer à ce stade le risque d'une neutralisation partielle ou totale de la région de Tokyo, l'une des métropoles-clés du monde de ces dernières décennies, suite à une contamination nucléaire.

(11) A l'image d'un trimaran.

(12) Il faut garder à l'esprit que Pékin cherche par tous les moyens à se débarrasser rapidement, mais de manière rentable, de sa montagne de Bons du Trésor et autres Dollars US. Le cataclysme que connaît le Japon va ainsi offrir aux dirigeants chinois une occasion unique de rapprocher stratégiquement Tokyo de Pékin.

(13) A l'inverse, la très controversée présence des troupes américaines au Japon va ressortir, pour l'opinion nippone, comme d'autant plus anachronique et inutile face au désastre actuel. C'est un autre exemple, comme on a déjà pu le constater dans le cas des révolutions arabes, de l'inutilité croissante de l'immense appareil militaire américain : crise après crise, il devient évident qu'il n'a pratiquement aucune utilité pour permettre au gouvernement américain d'influer sur les évènements.

(14) Il est en effet certain que le nucléaire civil vient de subir un coup d'arrêt brutal dont il aura beaucoup de mal à se remettre, notamment parce que cette catastrophe s'inscrit dorénavant dans ce conflit entre élites et opinions publiques que la crise systémique globale exacerbe chaque jour un peu plus. Parmi les pays qui vont subir de plein fouet cette « révolution » vis-à-vis du nucléaire, on peut déjà citer la France qui a fait depuis près de cinquante ans du nucléaire civil l'un des fleurons de sa technologie et de ses exportations. Source : Spiegel, 14/03/2011

(15) Un facteur qui va renforcer l'évolution inexorable de la région du Golfe vers une situation de chaos, voire de conflit direct entre Shiites et Sunnites, entre les peuples de la région et leurs dirigeants, entre l'Iran et l'Arabie saoudite. L'envoi de troupes saoudiennes à Bahreïn est un indice de l'escalade des risques dans la région tout comme l'implication financière des Emirats Arabes Unis qui tentent de pallier dans l'urgence quarante ans de désintérêt pour des segments entiers de leurs populations. Sources : AlJazeera, 15/03/2011 ; New York Times, 10/03/2011 ; AlJazeera, 10/03/2011

(16) Un des rares facteurs « baissiers » qui permettait de cacher l'envolée des prix de l'alimentation ou de l'énergie au sein de nombreux indices des prix. Ainsi même en Chine et dans toute l'Asie du Sud-Est, l'impact des pénuries de composants japonais se fait déjà sentir avec hausse des prix immédiate puisque l'industrie électronique japonaise a massivement délocalisé des parties entières de sa production à travers toute l'Asie, tout e conservant des fabrications stratégiques au Japon. Source : China Daily, 15/03/2011

(17) Et partout dans le monde, on va connaître des pénuries de voitures japonaises et de pièces de rechange pour ces véhicules. Etant donné l'importance mondiale de l'industrie automobile japonaise, il n'y aura pas de solution de substitution aisée à mettre en place. Ainsi même en Inde, pourtant peu dépendant des marques japonaises, l'impact se fait déjà sentir directement avec l'annulation par les grands groupes japonais de ventes et de promotion des nouveaux modèles. Source : Times of India, 15/03/2011

(18) Plusieurs raffineries japonaises ont été détruites. Cela implique des importations japonaises accrues de produits raffinés qui génèrent déjà des hausses des prix de l'essence aux Etats-Unis. Source : USAToday, 14/03/2011

(19) Les économies exportatrices chinoise et allemande (ainsi que celle de Corée du Sud, Taiwan, …) vont également subir les conséquences négatives de cette évolution.

(20) Il est important de garder à l'esprit que le recul de la mondialisation des échanges au profit d'un recentrage sur des zones économiques régionales dotées d'une monnaie unique ou dominante (UE, Asie, Amérique latine, …) entraîne un recul simultané des besoins en Dollars US pour financer les échanges internationaux. Voir différents GEAB précédents.

(21) Ce qui induirait également des conséquences internationales en matière de retombées radioactives.

Mercredi 16 Mars 2011
 
http://www.leap2020.eu/GEAB-N-53-est-disponible-Crise-systemique-globale-Deuxieme-semestre-2011-Preparez-vous-a-l-implosion-du-marche-des-Bons_a6074.html
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