O Governo de José Sócrates foi «sensível aos apelos dos responsáveis do sector» – segundo as especiosas palavras do próprio «sector» – e decidiu baixar a taxa do IVA aplicada ao jogo do golfe, reduzindo-a dos actuais 23% para 6%.
Ou seja, o golfe, desporto retintamente de ricos e afins (basta ver as dezenas ou centenas de euros para o simples aluguer do campo para uma só partida ou os milhares de euros a dispender pela parafernália necessária à sua prática) está a ser tratado pelo Governo de José Sócrates como «artigo de primeira necessidade», neste tempo de tanta e tão propalada crise. Pior: o golfe está a ser considerado como artigo mais necessário que o leite com chocolate ou as bolachas (para só darmos dois exemplos), a quem este mesmo Governo retirou do cabaz do IVA reduzido por, certamente, os julgar «supérfluos».
Mas o golfe, não! Essa actividade, segundo a óptica do Governo, é tão fundamental ao funcionamento do País e está tão deprimida com a crise (apesar dos torneios milionários que grassam por todos os green nacionais e estrangeiros), que o Governo foi «sensível» aos apelos do «sector» para os seus «pobres» utentes pagarem menos impostos directos.
Entretanto, as pensões miseráveis de 200 euros foram congeladas irrevogavelmente e uma grande parte de artigos de primeira necessidade passaram a ser taxados, em sede de IVA, como «artigo de luxo».
Que dizer de gente desta, que já tão descaradamente exibe o seu desprezo pelo povo que diz servir?
Saídas
Só em 2010, saíram do País para emigrar para o estrangeiro 23 mil inscritos nos Centros de Emprego como desempregados, a um ritmo de 2000 por mês. Isto apenas segundo números oficiais.
Trinta e seis anos depois do 25 de Abril, eis o que a recuperação capitalista e monopolista engendrou: o regresso à emigração em massa.
Com uma diferença: agora, a generalidade destes emigrantes não é analfabeta – como o eram em grande número antes do 25 de Abril – e muitos até são licenciados.
Essa diferença – a da alfabetização generalizada e o crescimento exponencial de licenciados – deve-se às conquistas democráticas obtidas com a Revolução de Abril. O regresso ao tempo dos bidonville – os bairros de barracas que abrigavam os emigrantes portugueses nos arredores de Paris – está há umas boas duas décadas a ser paulatinamente reintroduzido no País, pela «governação democrática» do PS e e do PSD.
Reduções
«Obrigada» a reduzir despesas pela imposição dos PEC do PS/PSD, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) anunciou que, em relação às «despesas com pessoal» decidiu optar por emagrecer os subsídios de férias e não os salários.
Muito atenciosos, não há dúvida.
Mas o que, obviamente, a CGD nem sequer considerou foi «cortar» ligeiramente nos lucros sempre crescentes e fabulosos (aliás, como todo o sector bancário), pois os seus accionistas – sobretudo a minoria que realmente manda e se repoltreia nos lucros obscenos – não conjuga o verbo reduzir, nem permite que alguém a tal ouse aludir.
Para o capital, as «reduções» são só nas despesas a fazer com quem produz e lhe assegura os lucros sempre – e implacavelmente – crescentes.
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