O padre José Maia, presidente da Fundação Filos, afirmou hoje que o Estado olha para a falência de empresas mas que "ainda não viu instrumentos adequados para prevenir a falência de famílias e de pessoas".
No dia em que a Filos, uma instituição de solidariedade social, prestou contas da sua actividade na zona oriental do Porto, José Maia realçou à Agência Lusa que o mais preocupante são as famílias e as pessoas que vão à falência.
"Elas estão em primeiro", disse o padre José Maia, ex-presidente da União das Instituições Particulares de Solidariedade Social e ainda vigário da Paróquia da Areosa, relevando que a Filos "está nessa linha, para prevenir essas falências".
Nesse sentido, disse, a Fundação Filos aposta forte no trabalho de rua sistemático e pretende estimular os laços de vizinhança entre as comunidades urbanas.
"É questão de vida ou de morte", considera José Maia, acrescentando que "um bom vizinho é melhor que um mau parente".
A Filos decidiu criar o Movimento Comunidades de Vizinhança, com "a intenção de recapturar alguns dos sentidos mais radicalmente democratizantes e transformadores destas ideias e de as recriar na prática", no Porto.
O movimento vai apoiar-se no "voluntariado" e no que José Maia designa por "sentinelas de rua", ou seja, equipas com um formação específica, que rua a rua, possam ser "um sonar" da respectiva realidade social.
"Isto não é um trabalho de pressas, mas pretende ser uma revolução, que faça acontecer aquilo que nos prometeram, ou seja, o povo é quem mais ordena", adianta.
Para começar, disse, essas "sentinelas" vão intervir nas Ruas de Costa Cabral, onde a Fundação tem a sua sede, de D. João IV e do Bonfim.
"O objectivo é ir aos "cafés e casas comerciais e contactar gente que nos vai ajudar a perceber muito bem aquela rua, quem precisa e quem pode ajudar", explica.
A Filos ambiciona fazer "uma radiografia rua a rua", para depois procurar "humanizar as cidades".
José Maia justifica este projecto sustentando que "o Porto é uma cidade entaipada, que precisa de ser humanizada com base numa filosofia de suporte social".
É sua convicção que este "projecto social tem uma vantagem, que é ter um efeito facilmente replicável".
No último ano, a Fundação Filos acompanhou 375 famílias do Porto oriental que, ao abrigo do Rendimento Social de Inserção no Porto oriental, receberam 1.135 mil euros.
Há famílias que foram apoiadas e hoje têm uma vida melhor, como aconteceu com um indivíduo que tirou o curso de operador de sistemas informáticos através da instituição.
"O meu primeiro contacto com a Fundação ocorreu em Maio de 2006. Nessa altura tinha requerido o rendimento social de inserção e a forma como me atenderam desde o primeiro momento foi muito profissional e cordial", afirma o ex-beneficiário.
Num testemunho prestado à Filos, o mesmo indivíduo, casado com uma cidadã estrangeira e com filhos, diz que hoje, "pela primeira vez, depois de nove penosos anos de desemprego, pode sentir verdadeiro apoio por parte de uma instituição.
O curso proporcionou-lhe "uma nova perspectiva e visão de futuro, pela primeira vez em dez anos", sublinha. Casos como este são as "medalhas" que Fundação gosta de exibir, refere José Maia.
Mas nem tudo são rosas e o responsável refere que "as política de financiamento do Estado, como estão, não dão para fazer" o que faz falta.
"Na Filos, todo o dinheiro que vem, todinho, é para dar aos técnicos, não ficamos com um cêntimo", frisou.
Os problemas sociais, agravados pela crise económica e pelo desemprego galopante, são "muitos, uns explicitados, outros agasalhados", sustenta José Maia.
"Vejo muitos problemas, há muito tempo, e nós vamos ter problemas nas periferias urbanas, como os outros países tiveram", antevê o padre, ressalvando que não é sua intenção ser "catastrofista".
"Todos temos que dar um contributo para solucionar estes problemas e o papel da Fundação Filos não é alarmar, é dizer que está disponível para este combate", afirma.
RTP - 31.03.09
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