Michael Cox é um dos mais reputados professores do Departamento de Relações Internacionais da London School of Economics, onde preside ao Centro de Estudos da Guerra Fria e ao Centro de Estudos de Diplomacia e Estratégia. É um académico recorrentemente escutado quer por empresários quer por políticos. Mas, desta feita, os seus apelos para que o G20 tenha o “arrojo” necessário para enfrentar a actual crise, parecem ter caído em saco roto. “O que prevalece é preocupação com a evolução do défice ou da inflação”, quando pela frente está a certeza de “milhões e milhões de desempregados”. “É decepcionante”.
Quais são as suas expectativas para o encontro de amanhã?
Infelizmente, a minha expectativa é que esta cimeira do G20 confirme a incapacidade de a actual geração de líderes compreender o que está a acontecer e, como tal, que confirme também a incapacidade dos Governos de actuar da forma radical que a situação efectivamente exige. E temo que, mais uma vez, os países mais pobres e frágeis acabem por ser quem vai suportar o essencial do tremendo custo, económico e social, que esta crise vai provocar, e que ninguém parece querer encarar.
Está, portanto, muito pessimista...
Eu nunca esperei muito deste G20, mas na semana passada estava menos pessimista do que estou agora.
Porquê?
Por que está cada vez mais claro que não vão sair deste encontro as decisões concretas e radicais de que o mundo precisa. Não vamos ter o investimento massivo que é necessário para ultrapassar esta crise, porque, simplesmente, não há pensamento estratégico. Ninguém parece conseguir descolar-se da “velha escola”.
Concorda com a linha dos EUA, que tem vindo a pressionar no sentido de reforçar os estímulos à economia. Barack Obama falava precisamente de “medidas radicais”.
Barack Obama começou por tentar puxar o pensamento mundial nesse sentido, mas também ele está a ser travado pelas forças mais conservadoras, como vimos pelas suas declarações nesta semana. É uma pena. Porque esta crise não se resolve com os instrumentos de política convencionais. É preciso arrojo.
Uma das primeiras versões do projecto de conclusões da cimeira falava de novos estímulos orçamentais da ordem dos dois biliões de dólares, mas essa referência acabou por cair. É a visão de países como a Alemanha, mais preocupada com a sustentabilidade dos défices e com eventualidade de hiperinflação no futuro, que est á a prevalecer...
Infelizmente sim. E a Alemanha não está sozinha. As últimas declarações de grandes países como a Austrália e a África do Sul vão no mesmo sentido. E as consequências vão ser tremendas. O que está a prevalecer é o velho pensamento e a preocupação com os problemas teóricos e não com os reais. Falta visão estratégica. No Congo, por exemplo, há hoje mais 300 mil desempregados da indússtria do cobre, e ninguém parece preocupar-se com a miséria em larguíssima escala que esta crise está a gerar.
E ela vai alastrar-se a todo o mundo, mesmo o desenvolvido. Vamos ter milhões e milhões de desempregados, com consequências gravíssimas em termos de estabilidade social e mesmo institucional. E, não obstante, o que prevalece é a preocupação com a evolução do défice ou da inflação, quando, paradoxalmente, o que temos é risco de deflação na Europa e uma deflação reinstalada no Japão. É muito decepcionante, mas é isso que está a acontecer: o G20 vai concentrar-se em problemas teóricos e esquecer os reais.
Jornal de Negócios - 02.04.09
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
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