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02/04/2009

Por melhores salários

Na Imprensa Nacional Casa da Moeda, na Portucel, na Celulose do Caima, na Portugal Telecom, os trabalhadores e as suas estruturas representativas não aceitam mais perdas salariais e decidem recorrer a formas de luta e protesto.

Na INCM, a administração pretende encerrar o processo de negociação da revisão salarial, aplicando 1,3 por cento, muito abaixo até dos 2,9 por cento impostos à Administração Pública pelo Governo. A comparação foi agora feita pelo Sindicato das Indústrias de Celulose, Papel, Gráfica e Imprensa, porque na INCM os valores decididos para o sector Estado serviram para recusar aumentos superiores... Para 2009, o critério mudou, para manter o objectivo. Sindicato e trabalhadores responderam com greves de duas horas em cada turno, durante quatro dias. De 26 a 31 de Março, nos períodos de greve, ocorreram concentrações à porta dos edifícios da Imprensa Nacional e da Casa da Moeda. Naquele período houve igualmente greve ao trabalho suplementar.
À população e aos jornalistas, foi distribuído um folheto a explicar que, nos últimos anos, os salários têm evoluído muito abaixo dos níveis oficiais da inflação, que a administração tem reduzido pessoal, aumentando os ritmos de trabalho e procurando impor polivalência de funções, enquanto ameaça alterar para pior o regime de benefícios sociais.
Na Caima Indústria de Celulose, em Constância, o mesmo sindicato convocou três dias de greve, porque a administração decidiu congelar a actualização salarial que deveria vigorar desde Janeiro e, além disso, anunciou ainda a intenção de reduzir uma dezena de postos de trabalho. A posição patronal «apanhou os trabalhadores de surpresa, porque os resultados que a empresa tem apresentado não faziam prever uma decisão tão injusta e penalizadora», referia o sindicato, ao convocar a paralisação para o período entre as 8 horas de 25 de Março e a mesma hora de dia 28.
Na Portucel, junto ao acesso para a fábrica de pasta, na Mitrena, uma concentração deu, sexta-feira à tarde, o «tiro de partida» para uma greve de 24 horas, a realizar brevemente, conforme decisão já tomada em plenário pelos trabalhadores. A administração tinha decidido, dias antes, encerrar o processo de revisão salarial, sem alterar a sua posição (1,6 por cento) e recusando as propostas e alternativas apresentadas pelos sindicatos da Celulose e da Química, como referia um comunicado conjunto das estruturas da CGTP-IN na empresa.
A par das melhorias salariais, um dos objectivos da luta dos trabalhadores é acabar com situações de precariedade de emprego e discriminação salarial. Manuel Carvalho da Silva, intervindo durante a concentração, apontou as gritantes diferenças entre os critérios de actualização dos salários, por um lado, e de remuneração dos gestores e dos accionistas, levando a que o gestor principal do grupo Portucel Soporcel acumule 4,4 milhões de euros por ano, enquanto os jovens trabalhadores contratados através de empresas de prestação de serviços auferem o salário mínimo nacional.
Numa nota em que dá conta da presença solidária do deputado Bruno Dias, na concentração, a Comissão Concelhia de Setúbal do PCP acusa a empresa de recorrer a trabalhadores precários para funções de carácter permanente, criando situações em que, para o mesmo trabalho, haja diferenças salariais de mais de 300 euros.

Transportes

Para ontem, a Fectrans/CGTP-IN convocou uma concentração de dirigentes e activistas sindicais do sector de transporte de passageiros, junto à sede da associação patronal Antrop. Esta encerrou as negociações salariais com uma proposta de 1,2 por cento, o que é agravado por ser uma situação que se repete desde o ano 2000. Neste sector, acusa a federação, são contratados trabalhadores a tempo parcial, que as empresas obrigam a estar de serviço todo o dia, a troco de um salário inferior ao mínimo.
Igualmente para ontem, estava marcada mais uma reunião de negociação na Soflusa, depois da empresa ter evoluído para 2,9 por cento, ao nível do que está a ser negociado noutras empresas do sector. Em comunicado conjunto, o sindicato dos Ferroviários, o Sitemaq e o Simamevip reafirmaram as suas propostas, esperando uma posição da administração, para discutirem depois com os trabalhadores. Entretanto, anunciaram a apresentação de um pré-aviso de greve, a partir de 17 de Abril e por tempo indeterminado, para garantir o direito ao tempo necessário para tomar uma refeição, previsto no Acordo de Empresa em vigor.

Congelados na PT

Contra a posição expressa pela Portugal Telecom, nas negociações salariais, de não aumentar os salários acima de 900 euros e de apenas aumentar um por cento os que não superam aquele valor, o SNTCT/CGTP-IN promoveu na sexta-feira, junto à sede da PT, em Lisboa, uma concentração de activistas. A acção, que teve o apoio da Comissão de Trabalhadores, marcou no exterior a realização da assembleia geral de accionistas, que decidiu atribuir aos accionistas mais de 500 milhões de euros de dividendos e aprovou o aumento do número de administradores, com o aval do Estado.
Além dos 6500 trabalhadores no activo, o congelamento salarial atinge ainda outros cerca de oito mil, que estão com suspensão do contrato ou na pré-reforma.
Avante - 02.04.09

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