À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

22/01/2010

Professores portugueses têm dos horários mais carregados

Segundo o relatório 'Education at a Glance 2009', da OCDE, professores nacionais passam mais tempo nas escolas do que média da UE e OCDE. Apesar de calendário mais curto.

Os professores do ensino público português dão mais horas de aulas por ano (684 a 855) e passam mais tempo na escola (1261 horas) do que a maioria dos colegas da OCDE e da União Europeia (a 17). Isto, com um calendário escolar mais curto. Ou seja: têm menos dias de trabalho anuais. Mas acabam por fazer mais horas. Os números constam do relatório Education at a Glance 2009, da OCDE, e baseiam-se em dados de 2007.

O estudo atribui às escolas portuguesas 171 dias de aulas em todos os ciclos, contra médias que chegam aos 187 dias na UE e da OCDE. Na realidade, o número oficial de dias de aulas no ensino obrigatório português é de 180. E o valor avançado corresponderá a uma média ditada pelo facto de as aulas do 9.º ao 12.º anos acabarem uma a duas semanas mais cedo por causa dos exames nacionais.

Em todo o caso, o ano lectivo português é indiscutivelmente mais curto. Serão os professores compensados com mais dias de férias do que os colegas estrangeiros? Mário Nogueira, líder da Fenprof, defende que não.

E acrescenta que para quem tem alunos nos exames nacionais o trabalho até é maior: "Em época de exames, passam todo o dia nas escolas, entre vigilâncias de provas e as aulas que dão aos seus alunos de outros anos, por exemplo do 7.º e 8.º anos", afirma.

O mesmo relatório avança outro indicador mais favorável aos professores portugueses. De resto, até aparentemente contraditório com os restantes: o tempo de trabalho "estatutário" (com e sem serviço) em Portugal é de 1432 horas anuais. Um valor inferior em quase duas centenas de horas às médias de OCDE e da UE.

Mas Paulo Guinote, autor do blogue A Educação do meu Umbigo, defende que esse dado estará ligado à forma como é contabilizada a chamada componente individual de trabalho - o número de horas dedicadas a tarefas como preparar aulas e corrigir testes.

"É possível que noutros países essas horas entrem na contagem do tempo total e em Portugal não, porque entre nós esse trabalho é geral mente feito em casa", explica. "Já em alguns países nórdicos, por exemplo, há uma tradição de não levar trabalho para casa."

Mário Nogueira admite a mesma explicação: "Se os professores portugueses dão mais aulas e passam mais tempo ao serviço da escola, é óbvio que não trabalham menos do que os outros", diz. E acrescenta: "Aliás, se os professores fizessem todas as 35 horas semanais na escola, provavelmente não teriam tempo para cumprir todas suas as tarefas administrativas. Nem as escolas teriam espaço para os acolher ao mesmo tempo."

Carlos Pato, líder do Sindicato de Professores no Estrangeiro e docente no Luxemburgo confirma que os colegas deste país "têm cargas horárias menos pesadas", aproveitando os intervalos "por exemplo, para fazerem as reuniões que em Portugal acontecem para lá dos horários dos professores e que muitas vezes não são contabilizadas".

Ministério da Educação e sindicatos estão actualmente a negociar a revisão dos horários. Já a reorganização do calendário escolar não está, pelo menos para já, em cima da mesa.

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1476019

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails