Um ano depois da declaração de insolvência, operários dizem-se sobrecarregados e defendem integração dos colegas em 'lay-off'.
Um ano depois de ter sido declarada a insolvência da Qimonda (23 de Janeiro), na Alemanha, a maioria dos poucos trabalhadores ainda ao serviço da fábrica de Vila do Conde viram os seus turnos aumentar de oito para 12 horas depois de terem surgido algumas encomendas.
Bruno Maia, um dos elementos da já extinta comissão instaladora de trabalhadores da Qimonda, é muito crítico em relação a esta recente opção da administração da empresa.
"É uma estratégia que não faz sentido, porque seria mais razoável chamar as pessoas que estão em lay-off do que sobrecarregar quem está ao serviço", defende o operário.
Apesar de considerar que este "ligeiro acréscimo" de encomendas pode representar "uma nova esperança para a Qimonda", Bruno Maia, ele próprio em lay-off há nove meses, continua a acreditar que "há falta de estratégia" por parte do "Governo e também da própria administração da unidade".
Desde que este processo começou que tem sido anunciado "um conjunto de boas intenções que esbarram sempre na falta de investimento e não se tem vislumbrado evolução com efeitos para os trabalhadores", argumentou.
Bruno Maia também alerta para o facto de a empresa, à semelhança de outras em Portugal, "optar pela concentração dos horários dos trabalhadores", algo que "o Código do Trabalho deveria proibir", diz.
Até porque um turno de 12 horas "é desgastante para o trabalhador" e, além disso, "não promove o emprego e não atenua a crise que se vive em Portugal", frisou.
Uma outra crítica que este trabalhador faz ao Governo tem que ver com a "formação que foi prometida aos trabalhadores em lay-off".
Houve formação, "mas não acrescentou nada de novo nem foi apetecível porque incidiu sobre áreas que já dominávamos", disse Bruno Maia, que queria algo mais "específico e profissionalizante".
No dia em que foi declarada a insolvência na Alemanha, recorda, ficou a garantia de que essa situação não iria ter efeitos em Portugal.
Só que poucos dias depois começavam os problemas em Vila do Conde que culminaram com o despedimento de mais de 1200 trabalhadores.
Hoje, a unidade opera com 230 pessoas e mais 135 estão em regime de lay-off até Maio.
Ao olhar para trás, Bruno Maia reconhece que o "contexto económico é difícil", mas lamenta que "ninguém tenha conseguido acautelar os interesses da empresa e dos trabalhadores".
Nestas considerações que faz enquanto elemento activo que foi em todo este processo, critica também o facto de hoje a "estrutura administrativa na unidade se manter igual àquela que trabalhava quando a Qimonda tinha mais de 1700 funcionários ao serviço".
Bruno Maia, que foi à fábrica nos últimos dias, diz que vê um conjunto de pessoas "desmotivadas, apreensivas e com receio do futuro", sentimentos nos quais se revê, até porque também não sabe o que o espera depois de Maio.
A 'queda' da Qimonda deveu-se a "incompetência e desleixo" não só da administração da unidade, mas também do Estado, afirma Miguel Moreira, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Eléctricas do Norte (STIEN).
O sindicalista exemplifica com o facto de ter sido feita uma "transferência de 60 milhões de euros para a casa-mãe", na Alemanha, quando a fábrica portuguesa "já estava com problemas financeiros", algo que não entende sobretudo numa unidade que teve um "forte" apoio do Estado português. "O Estado escondeu o jogo, ou então, não sabia mesmo nada do que se passava", frisou.
Mas Miguel Moreira sublinha que os problemas na fábrica de Vila do Conde foram anteriores ao processo de insolvência, reportando--se, mais concretamente, a 2007.
"Tudo começou quando a administração da empresa portuguesa mudou os turnos da produção de oito para 12 horas e foram despedidas mais de 100 pessoas", e adianta: "A queda da Qimonda começou nessa altura."
http://dn.sapo.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=1475843
Sem comentários:
Enviar um comentário