Um grupo de 14 parlamentares do Conselho da Europa acusa os monopólios farmacêuticos de terem influenciado quadros científicos e as autoridades de saúde com o fim de aconselharem os governos a promover programas de vacinação «ineficazes».
O tema vai ser debatido na próxima sessão da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, que terá lugar entre os dias 25 e 29 deste mês. A iniciativa partiu do deputado alemão Wolfgang Wodarg, médico e epidemiologista, antigo membro do Partido Social-Democrata, e presidente da comissão de Saúde do Conselho da Europa.
No seu país, Wodarg foi uma das poucas vozes que se ergueram no Bundestag para alertar para os perigos para a saúde de uma das vacinas contra a Gripe A. Os seus argumentos levaram o governo germânico a rescindir o contrato com a multinacional fornecedora, e a vacina Optaflu, produzida pela Novartis, não foi administrada na Alemanha por falta de garantia total de inocuidade.
No Conselho da Europa, a exposição de Wodarg revelou-se suficientemente fundamentada para convencer os membros da Comissão de Saúde a aprovar, por unanimidade, a abertura de uma investigação sobre o papel das farmacêuticas, da Organização Mundial de Saúde (OMS) e dos estados na gestão da Gripe A.
Na proposta de recomendação que os parlamentares irão discutir, os 14 subscritores de vários grupos políticos (socialistas, populares e liberais) apontam o dedo aos grupos farmacêuticos, cuja influência «incitou ao desperdício de recursos – já pouco abundantes – destinados aos cuidados de saúde a favor de estratégias de vacinação ineficazes, expondo assim inutilmente milhões de pessoas de boa saúde ao risco de efeitos secundários não conhecidos de vacinas que não foram suficientemente testadas».
O documento faz ainda referência «às campanhas da “gripe aviária” (2005/06) e a seguir da “gripe porcina”», as quais terão «causado numerosos danos, não somente a certos pacientes vacinados e aos orçamentos de saúde pública, mas também à credibilidade e responsabilidade de importantes agências sanitárias internacionais.»
Por último, os subscritores salientam que «a preocupação de definir uma pandemia alarmante não deve estar sujeita à influência de comerciantes de medicamentos», e recomendam a abertura de investigações nacionais e ao nível europeu.
A origem do pânico
Wolfgang Wodarg não nega a existência da chamada «Gripe A», mas sublinha que, tratando-se as gripes de ocorrências sazonais normais, nada justifica do ponto de vista científico toda a campanha alarmista artificialmente criada em torno deste caso.
Em entrevista ao jornal L’Humanité (7.01), o deputado alemão afirma que as suas suspeitas começaram precisamente com a súbita declaração de epidemia pela OMS: «Os números eram muito baixos e o nível de alerta muito elevado. Ainda não havia mil doentes e já se falava da pandemia do século». E a alegação de que se tratava de um vírus novo também não era convincente, já que isso é uma característica das gripes: «Todos os anos aparece um novo tipo “gripal”».
Mas como é que a OMS pôde declarar uma falsa pandemia? Simplesmente alterando a definição de pandemia que vigorou nos seus critérios até Abril de 2009. Ou seja, como explica Wodarg, «antes desta data era preciso não só que a doença eclodisse em vários países ao mesmo tempo mas também que tivesse consequências muito graves, com um número de casos mortais acima da média habitual. Este último aspecto foi eliminado na nova definição de forma a considerar-se apenas o critério do ritmo da difusão da doença».
De facto, segundo o critério anteriormente vigente, a «Gripe A» nunca poderia ser declarada como pandemia uma vez que desde o início se observou um índice de mortalidade muito abaixo do normal. Ou seja, se uma «banal» gripe sazonal provoca normalmente entre 300 mil e 500 mil vítimas em todo o mundo, o diabolizado H1/N1 foi responsável até ao momento por 13 mil mortes no planeta. Como também é normal nas gripes, os casos fatais atingem praticamente em exclusivo grupos de risco, isto é, indivíduos que já anteriormente tinham a saúde fragilizada.
Face aos dados disponíveis, há mesmo quem considere esta epidemia como uma das mais benignas que se conhecem desde que a medicina moderna regista as ondas gripais.
Sem nunca ter explicado as razões da mudança do critério, a OMS teve outras atitudes suspeitas no entender Wodarg: «Por exemplo, a recomendação da OMS de administrar duas injecções de vacinas. Nunca tal aconteceu. Não havia nenhuma justificação científica para isso. Também houve a recomendação de utilizar somente vacinas patenteadas. E no entanto não havia nenhuma razão que impedisse de acrescentar, como se faz todos os anos, certas partículas antivirais específicas deste novo vírus H1N1, “completando” as vacinas utilizadas na gripe sazonal».
As malhas de um negócio
As campanhas planetárias de intoxicação da opinião pública não são novidade para ninguém. Diariamente os órgãos de comunicação bombardeiam-nos com visões catastrofistas do presente e do futuro imediato, parecendo tudo servir para criar o pânico e alimentar um clima permanente de ansiedade e de medo. Essas momentosas campanhas surgem e desaparecem quase sem deixar rasto, e sem que nunca venha a público um balanço sério do que de facto aconteceu ou apuradas responsabilidades pelo fomento do pânico.
Um desses casos foi o da chamada «gripe aviária», descoberta por um reputado «caçador de vírus» holandês, Albert Osterhaus, hoje alvo de acusações no seu país de favorecimento de interesses comerciais, e que é um dos membros do grupo de especialistas conselheiros da OMS designado SAGE (Strategic Advisory Group of Experts).
Para além de virólogo, Osterhaus revelou-se também um criador de mitos, prevendo logo em 2003 a propagação mundial, via excrementos de aves migratórias, do alegadamente mortífero vírus H5N1. Só que em 2006, depois de terem sido destruídos milhões de frangos em vários países, Osterhaus e os seus colegas foram obrigados a reconhecer que em nenhuma das 100 mil amostras fecais recolhidas foi encontrada a menor prova do vírus. E para além da morte de um veterinário holandês, que terá sido provocada pelo H5N1, segundo garantiu o próprio virólogo, não se registou nenhuma outra morte humana. (ver artigo de William Engdahl em odiario.info, de 05.01).
Contudo, a encenação de Osterhaus não foi em vão. A pandemia aviária não se confirmou, mas a histeria criada à sua volta foi bem real, o que permitiu uma intensiva sensibilização dos governos e organismos públicos para a necessidade de ter as coisas preparadas no caso de uma tal eventualidade ocorrer, tanto mais que as políticas reaccionárias seguidas nas últimas décadas no domínio da saúde e da investigação privaram os sistemas públicos dos meios necessários para fazer face a uma situação de emergência.
É então que se definem novos planos internacionais de combate a uma pandemia, os quais visam sobretudo assegurar o fabrico rápido de vacinas em caso de alerta, e pressupõem, portanto, uma negociação directa entre os estados e as multinacionais do medicamento. Estas comprometem-se a fornecer uma resposta pronta, em troca os estados garantem-lhes que comprarão os seus preparados.
Este vantajoso «acordo» para a indústria farmacêutica poderia render-lhe milhares de milhões caso fosse declarada uma pandemia. Chamaram-lhe gripe A…
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32142&area=8
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