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21/01/2010

Qimonda: Sentimentos de "revolta" e "incerteza" para quem ainda trabalha na fábrica

“Uma grande revolta e incerteza em relação ao fututo”, é assim que uma das trabalhadoras da Qimonda descreve os sentimentos que se vivem dentro da fábrica que despediu centenas de pessoas nos últimos 12 meses.

A trabalhar na unidade há alguns anos, esta operária, que não se quis identificar, diz que quer “acreditar na viabiliadade da empresa”, mas, “no fundo”, teme que isso “nunca mais vá acontecer”.

As poucas pessoas que operam na Qimonda, vão-se cruzando nos corredores e na cantina, mas as suas caras são o espelho da “desmotivação”, descreveu.

“[A administração] impõe regras, horários e muda turnos, mas nós não somos tidos nem achados em nada, ninguém nos pergunta se achamos bem, se queremos ou podemos alterar a nossa vida de um momento para a outro”, lamentou ainda.

As poucos palavras que vão surgindo das chefias vão no sentido de “todos trabalharem pelo bem da empresa”, algo que “é cumprido, mas apenas porque ninguém quer ser despedido”, disse à Lusa.

Um ano depois de terem começado os problemas na Qimonda, esta funcionária questiona-se, quase todos os dias, sobre “como é que a fábrica chegou a esta situação”, mas diz que ainda não encontrou uma resposta.

Mesmo assim, e porque gosta do que faz, já prometeu que vai “continuar a lutar pela viabiliadade da unidade, até ao fim”.

Apesar dos sentimentos de “impotência” e “incerteza” que diz sentir em relação ao futuro, esta operária não tem dúvidas: quem está em lay-off “não vai regressar à fábrica”. “Não vamos pintar o cenário de cor-de-rosa, é uma ilusão pensar assim”, frisou.

Resta agora “cumprir ordens”, o que faz sempre com uma “grande angústia”, porque a Qimonda “mudou, e mudaram também todos aqueles que lá trabalham”.

E se ainda há 235 pessoas que continuam na fábrica, muitas centenas já foram despedidas nos últimos 12 meses. José Branco foi um deles. Após seis anos de trabalho naquela unidade, está desempregado, valendo-lhe o ginásio, onde passa cerca de quatro horas por dia, para “carregar baterias e manter a mente sã”, disse à Lusa.

Para já, ainda não conseguiu arranjar emprego, porque as poucas oportunidades que lhe apareceram implicavam “salários demasiado baixos” para aquilo que auferia na Qimonda.

Vai-se mantendo com o subsídio de desemprego, mas quando acabar está preparado para se “agarrar ao que aparecer”.

Hoje, e olhando para o último ano, José Branco lamenta que uma “empresa de excelência, onde todas as pessoas gostavam de trabalhar, se tenha transformado nisto”.

Todos os dias se lembra que trabalhou naquela que era a referência nacional e, se um dia o chamassem de novo, “não hesitava um minuto e voltava, mesmo que tivesse que fazer um horário de 12 horas”, confessou à Lusa.

Mas essa é uma possibilidade que vê como “muito remota”, até porque acredita que em Maio, quando terminar mais um lay-off, “vão surgir mais despedimentos”.

Vai valendo a José Branco o facto de ser muito novo, porque aos 25 anos ainda se acredita que se tem uma vida pela frente.

Mas, no fundo, sente que nunca mais vai encontrar “uma outra empresa de excelência como era a Qimonda”.

http://www.destak.pt/artigo/51466

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