Abertura da administração para manter cem trabalhadores em 'lay-off', despedindo 'apenas' 490 pessoas, não serve para atenuar o mal-estar em Vila do Conde. "A empresa não teve o mínimo de respeito por ninguém", dizem.
Ao fim de 10 anos na Qimonda, naquele que foi, praticamente, o único emprego que verdadeiramente teve, João (nome fictício) não sabe o que o futuro lhe reserva. Com o mais recente anúncio da administração da empresa de que vai avançar com o despedimento colectivo de 590 trabalhadores - número que ontem admitiu, em reunião com a comissão de trabalhadores, poder vir a reduzir em cerca de cem -, João não sabe se será um dos 'felizes contemplados' com uma das cartas de despedimento. E como, ao contrário de outras empresas, a administração não tenciona informar pessoalmente os trabalhadores abrangidos pela medida, João sabe que não lhe resta outra alternativa que não a de diariamente, e até ao fim desta semana, visitar a caixa de correio em busca da tão temida sentença.
"Não foi tido em conta o espírito da fábrica ou que quem lá estava há dez anos e deu o seu melhor merecia ser tratado de outra forma", diz, amargurado. Pelo contrário, lamenta, "a administração não teve o mínimo respeito pelos trabalhadores em toda esta situação. Primeiro, é por sms que nos diz para acedermos ao site da empresa, onde somos confrontados com o comunicado dando conta da intenção de despedir 590 pessoas de imediato. Depois, vai ser por carta que informa: Estás despedido, pronto!".
João tem a vantagem de ser solteiro. Pelo menos, não tem as responsabilidades acrescidas que uma família acarreta. Mas admite que muitos são os casos de casais que trabalham na Qimonda e que estão" angustiados por não saberem o que vai ser o seu futuro" e "irritados porque a empresa não está a ser correcta nem os está a respeitar". Quanto mais não seja, sublinha, porque "a Qimonda está mal mas não foi pelo mau trabalho das pessoas".
Dos muitos casais que conhecia na Qimonda, João destaca dois jovens que foram pais há mês e meio e que estão ambos em lay-off, "sem saberem o que lhes vai acontecer", ou um outro caso em que "o marido foi lá a semana passada despedir-se para que não ficassem os dois na mesma situação e afinal parece que não serviu de nada".
Ou talvez tenha servido. A administração da Qimonda reuniu ontem com a comissão de trabalhadores e admitiu reduzir em 100 o número de pessoas a despedir, em resultado da aplicação de critérios sociais ao processo, evitando, por exemplo, despedir marido e mulher ou salvaguardar casos de famílias monoparentais. Isto para além da necessidade de assegurar algumas funções mais especializadas. À saída da reunião, Bruno Maia, representante dos trabalhadores, garantiu que "não há nade de concreto, nem qualquer compromisso". Diz não saber sequer quem são as pessoas a dispensar nem ter sido, tão pouco, informada de quantos funcionários já poderão ter saído. Mas fonte contactada pelo DN adianta que terão sido 150 os trabalhadores que rescindiram por iniciativa própria pelo que, em lay-off estarão já não 800 mas apenas 650.A trabalhar na Qimonda estão 250.
Atendendo a que o lay-off termina a 4 de Novembro e que os funcionários a despedir têm de ser informados duas semanas antes deste prazo, as cartas de despedimento têm de chegar até ao fim desta semana. Quanto aos que ficarem em lay-off, poderão manter os contratos suspensos até 4 de Abril, altura em que a empresa terá de decidir se tem condições para os reintegrar ou se avança, então, para o despedimento.
D.N. - 14.10.09
Sem comentários:
Enviar um comentário