A crise levou 17 mil milhões de euros às famílias e os próximos tempos adivinham-se difíceis, sobretudo para os jovens e pessoas com rendimentos baixos, mais sujeitos ao desemprego. Os juros vão voltar a subir.
O impacto da crise financeira nas poupanças das famílias foi analisado pelo Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia, que deixou alguns avisos: 2009 continuará a ser um ano mau para os grupos sociais mais frágeis, entre os quais os jovens (os mais atingidos pelo desemprego ou trabalho precário) e as pessoas com mais baixos rendimentos que, por norma, têm menos qualificações e são também mais sujeitas ao desemprego.
E o estado de coisas ainda pode piorar, se a economia europeia recuperar mais depressa do que a portuguesa, avisa o gabinete de estudos: é que isso levará ao aumento dos juros ainda que a economia portuguesa não esteja preparada para lidar com dinheiro mais caro. Ou seja, as famílias devem preparar-se para novas subidas das prestações ao banco.
Menos um TGV e um aeroporto
Para já, e tomando como base dados até ao primeiro trimestre deste ano, o certo é que as famílias portuguesas viram o pé-de-meia encolher, sobretudo as que tinham dinheiro investido em fundos, incluindo planos de poupança reforma sem capital garantido, ou acções.
Em Março deste ano, o património dos particulares tinha baixado para 124,6% do Produto Interno Bruto (PIB), contra 133% em 2007 ou 172% no ano de 1998. Ou seja, em 2008 e no primeiro trimestre deste ano, as famílias perderam o equivalente a 17 mil milhões de euros das suas poupanças. Grosso modo, corresponde ao investimento previsto para construir o comboio de alta velocidade e do aeroporto de Lisboa.
Ainda assim, o impacto junto dos portugueses foi menor face ao sentido em países como a Espanha, a Grécia ou a Irlanda.
Por cá, não só o património das famílias baixou, como o destino dado ao dinheiro mudou. "A instabilidade decorrida no mercado de capitais e a elevada volatilidade dos mercados financeiros internacionais" levaram as pessoas a preferir produtos seguros, como depósitos a prazo, diz o relatório.
O documento ressalva, contudo, que, entretanto, a Bolsa de Valores tem recuperado, revelando "uma maior apetência pelo risco pela parte dos investidores". A subida da Bolsa vai-se traduzir, no futuro, "numa melhoria da riqueza das famílias, associada à valorização" do mercado.
Mas uma coisa é o património (o valor total de riqueza que cada pessoa tem) e outra é o rendimento (o dinheiro que a pessoa ganha, de uma forma ou outra). E o rendimento cresceu, no passado recente, embora menos do que em anos anteriores. O Gabinete de Estudos indica que, no ano passado, os rendimentos com origem em rendas ou juros subiu muito menos do que o costume, mas as remunerações de trabalho aceleraram. E dá como exemplo o aumento salarial da Função Pública.
Além disso, o estudo fala do impacto das medidas de combate à crise no rendimento das famílias, sobretudo o prolongamento do subsídio de desemprego, a redução do IVA e de algumas contribuições para a Segurança Social, que beneficiaram as empresas.
J.N. - 06.10.09
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