A crise económica tem criado situações de desemprego nas famílias e explica as centenas de novos pedidos de bolsas de acção social no ensino público. Algumas instituições não escondem que a tendência é negativa.
Os sinais de crise assumem diversas formas nas universidades. "Alguns alunos têm procurado os serviços sociais da Universidade do Porto (UP) para dar conhecimento da alteração da sua condição sócio-económica, é verdade. No entanto, onde se nota mais é no aumento da procura das cantinas", explica João Carvalho, administrador dos Serviços de Acção Social da UP. Os números são ilustrativos: até ao dia 19 deste mês, havia 6630 pedidos contra os 6053 em 2007/08. Os serviços só aprovaram 4244 bolsas, mas ainda têm 700 pedidos do 1.º ano parados por falta de elementos.
"Todos os anos (e desde 2005) o número de candidatos tem aumentado significativamente (200 a 400 por ano, embora o número de alunos global seja mais ou menos constante ou inferior de ano para ano). O Minho é a zona de Portugal com o PIB mais baixo e logicamente esta situação tem-se agravado nos últimos anos", refere, ao JN, o gabinete de Comunicação da Universidade do Minho. Esta instituição recebeu 6870 pedidos de bolsa até Fevereiro, mais 351 relativamente ao ano passado e mais 565 se recuarmos dois anos.
A mais antiga universidade do país também não está imune às dificuldades que as famílias portuguesas atravessam. As 6156 candidaturas à acção social recebidas no presente ano lectivo representam o maior aumento (+324) dos últimos 10 anos na Universidade de Coimbra (UC). De acordo com fonte oficial da UC, houve 500 pedidos fora de prazo que foram aceites. "O grande problema é que os critérios de atribuição de bolsas não mudam. É necessário rever escalões. Se um aluno se bastava há dois anos com 100 euros de bolsa, hoje precisa do dobro", alerta responsável da UC.
Na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), surgiram 3598 candidatos em 2008/09, um aumento de 327 em relação ao ano anterior. "Este número pode ainda ser alterado uma vez que o afluxo de candidaturas tem sido constante", refere fonte oficial da instituição. Actualmente, os bolseiros da acção social já representam 50,93% dos alunos da UTAD. Em 2005/06, a proporção era de 44,8%.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) "não tem, neste momento, conhecimento de pedidos de auxílios de emergência face a situações económicas especialmente graves ocorridas durante o ano lectivo e que não sejam enquadráveis no âmbito do processo normal de atribuição de bolsas de estudo", esclarece fonte oficial do gabinete do Ministério. O financiamento público do sistema de acção social passou de 187 milhões de euros em 2005 para 222 milhões de euros em 2009, o que representa um aumento médio de 4,4% ao ano e um crescimento global de 19% no conjunto dos quatro anos.
72975 bolseiros
Este total de alunos bolseiros no ano lectivo de 2007-2008 (público e privado) corresponde a um aumento de cerca de 2600 novos bolseiros face ao ano anterior.
222 milhões de euros
É quanto o Governo calcula gastar com estas bolsas em 2009, 4,4% mais do que no ano anterior e um aumento global de 19% face a 2005.
3822 candidatos em Lisboa
A Universidade de Lisboa recebeu 3822 candidaturas, mais 4,5% do que no ano anterior.
10,5 milhões de euros
Valor do orçamento da Universidade do Minho para bolsas de acção social. Esta instituição tem 6870 candidatos e afirma que o afluxo tem aumentado consideravelmente.
J.N. - 23.03.09
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