Um pouco por todo o país, os estudantes do ensino básico, secundário e superior saem hoje à rua para, a propósito do Dia do Estudante, focalizarem as atenções nos problemas que os afectam. Desde os levantados pelo processo de Bolonha ao abandono motivado por razões financeiras, no caso do superior; passando pela reivindicação do fim dos exames nacionais e do estatuto do aluno, no caso do secundário.
Em Lisboa, não se prevê nenhum caos como o gerado na passada semana pela contestação dos estudantes de Barcelona ao Processo de Bolonha mas, mesmo assim, alguns milhares de estudantes vão, a partir das 10h30, compor uma marcha de protesto desde o Largo de Camões até à Assembleia da República. Nos cartazes e nas palavras de ordem, o preço das propinas e Bolonha vão ser o denominador comum. "O processo de Bolonha criou um retrocesso muito grande no nosso sistema de ensino porque, ao encurtar os anos, limitou aquilo que é leccionado e contribuiu para transformar os alunos em carne para canhão e em meros executantes", criticou Fábio Vicente, representante dos alunos da Escola Superior de Tecnologia e Artes de Lisboa.
Acresce que, ainda por causa de Bolonha, os estudantes que queiram ir além dos três anos têm agora que pagar "dezenas de milhares de euros em mestrados ou pós-graduações", acrescentou Vicente, apontando ainda casos em que "as propinas aumentaram para os mil e tal euros, tornando impossível a muitas famílias arcar com essa despesa".
Em Coimbra, o presidente da associação académica, Jorge Serrote, concorda que o sistema de bolsas não tem sido capaz de responder "ao aumento estrondoso" dos pedidos de apoio. "Conheço estudantes cujos pais ficaram desempregados e que ficaram sem condições de prosseguir os estudos", disse Serrote, segundo o qual a alteração das regras técnicas na atribuição de bolsas "fez com que muitos estudantes tenham perdido a bolsa ou descido de escalão". Por causa disso, a Associação Académica de Coimbra promoveu, sexta-feira, uma "manif" que juntou 150 estudantes de cara tapada. Hoje, a iniciativa é diferente: "Vamos fazer um 'jogo das cadeiras' gigante que é uma analogia relativamente à saída dos estudantes dos órgãos de gestão da universidade", explicou Serrote. O jogo começa às 12h30, na Praça 8 de Maio.
Duas horas e meia antes, em Évora, os estudantes universitários vão concentrar-se na Praça do Giraldo, seguindo em manifestação até ao Governo Civil, onde entregarão um abaixo-assinado a exigir o fim das propinas e de Bolonha, além de uma maior participação dos estudantes nos órgãos da universidade.
No Porto, os estudantes das faculdades de Letras e de Engenharia da Universidade do Porto marcaram concentrações às portas dos estabelecimentos.
Ao nível do básico e do secundário, os estudantes vão concentrar-se nos Aliados, a partir das 9h30, seguindo depois até às instalações da Direcção Regional de Educação do Norte. Na lista de reivindicações cabem o fim do estatuto do aluno, a revogação do novo regime jurídico das escolas e a implementação da educação sexual. Ao PÚBLICO, Nicole Santos, representante dos estudantes, pediu ainda o fim dos exames nacionais. "São uma barreira no acesso ao ensino superior e vão contra o princípio da avaliação contínua", criticou.
Público.pt - 24.03.09
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