Nastassja Hoffet
Enquanto mais de 20 mil pessoas participam do V Fórum Mundial da Água encerrado domingo em Istambul, algumas organizações de mulheres trabalham para assegurar que as decisões políticas sobre este recurso vital levem em conta suas preocupações.
Aproximadamente um bilhão de pessoas carecem atualmente de água potável, e outros 2,5 milhões não têm acesso a saneamento. Os especialistas observam que as mulheres e as meninas são as mais afetadas pela crise hídrica, já que são as que têm maiores responsabilidades domésticas, como a limpeza, a cozinha, a coleta de água e o cuidado com crianças e doentes.
Essas tarefas as expõem a muitos riscos, com a contaminação por doenças relacionadas com a água e a violência em zonas de conflito, e frequentemente as impedem de ir à escola ou ter um trabalho. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), as mulheres e as meninas das nações em desenvolvimento caminham, em média, seis quilômetros por dia para transportar 20 litros de água. “Quando usamos água mais rápido do que sua reposição, não é sustentável”, disse Peter Gleick, diretor do Instituto Pacífico, uma organização independente dedicada à pesquisa, com sede no estado norte-americano da Califórnia.
Ao contrário do petróleo, a água é uma fonte renovável. Porém, está limitada por sua localização e seu fluxo. Muitos especialistas afirmam que o mundo atingiu um teto hídrico, o que significa que os recursos disponíveis são eclipsados por uma demanda maciça e crescente. “Em poucos anos o problema será exacerbado pela mudança climática”, disse à IPS Tracy Rackez, especialista em questões ambientais no Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), acrescentando que “precisamos encontrar maneiras de fazer as mulheres e os homens terem igual acesso à água limpa”.
As mulheres também tendem a ser mais responsáveis pelo cultivo de alimentos para consumo em casa e os mercados locais – em algumas áreas são 70% dos que se dedicam à agricultura em pequena escala – e têm um papel essencial na melhoria da eficiência hídrica, especialmente na irrigação por gotejamento e coleta de água da chuva, acrescentou Rackez. “Há muitas inovações e numerosas ferramentas que precisam estar nas mãos das mulheres para ajudá-las a serem mais eficientes”, ressaltou.
A derrocada e a ineficiência dos atuais modelos de uso de água – particularmente no setor agrícola, onde 40% da produção procedem de fontes não renováveis – também têm drásticos impactos ambientais. Por exemplo, o rápido crescimento demográfico e a industrialização na China fizeram com que 80% das plantas dos mangues secassem, levando à extinção de espécies. A qualidade da água chinesa diminuiu severamente devido aos dejetos industriais e lançamento de esgoto sem tratamento. Este uso excessivo da água também tem repercussões econômicas. Empresas e indústrias tiveram de cancelar projetos por não conseguirem a qualidade hídrica que necessitavam.
É muito importante que os países pobres avancem “em seu desenvolvimento econômico e social para reconhecerem o nível de recursos hídricos renováveis que têm disponíveis dentro das fronteiras nacionais, e para que busquem otimizar seu uso em todos os setores, em particular na agricultura”, disse à IPS Andrew Hudson, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Expandir soluções existentes como a irrigação por gotejamento e a reciclagem da água requer uma tecnologia avançada, uma economia inteligente e melhor governabilidade em matéria de recursos hídricos. “Não há dúvidas de que podemos cultivar mais alimentos com menos água”, disse Gleick.
De fato, os programas de eficiência hídrica também poderiam reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa economizando energia, já que 80% da água do mundo são usados para produzir alimentos e na indústria. Porém, poucos governos priorizam a água e menos ainda o saneamento, por isso essas questões são desatendidas, disse Hudson. Ao mesmo tempo, o acesso à água limpa é internacionalmente reconhecido como um direito humano, o que implica a responsabilidade de os governos a fornecerem. Uma em cada seis pessoas carece de acesso a ela.
A indústria da água embolsa, em média, SU$ 400 bilhões ao ano em serviços, equipamento e venda do elemento. Por outro lado, US$ 11,3 bilhões anuais poderiam ajudar a cumprir o Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da Organização das Nações Unidas de reduzir pela metade a proporção estimada (de 2,6 bilhões de pessoas) que não têm água nem saneamento adequados, segundo o Unicef. “A maioria dos países tem de reconhecer que oferecer serviços de água e saneamento à população é o condutor mais importante para um crescimento econômico de longo prazo”, afirmou Hudson.
Em Istambul, organizações como Aliança de Gênero e Água, Plataforma de Mulheres Turcas pela Água e Associação Mulheres pela Água organizaram sessões para potencializar a participação e a visibilidade das líderes comunitárias, especialistas e políticas. “É importante que os homens abram este mundo às mulheres”, afirmou Anta Seck, engenheira hídrica e diretora de manejo de recursos hídricos e planejamento no Senegal. “As mulheres são responsáveis pelo uso da água. Portanto, é importante desenvolver sua capacidade para o manejo hídrico, e isso inclui obter títulos avançados”, disse no Fórum Mundial da Água. IPS/Envolverde - 23.0309
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
23/03/2009
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