Instituições ligam intensificação de pedidos de bolsas de estudos ao aumento do desemprego. Administradores da acção social reúnem-se para analisar situação.
Com a crise económica como pano de fundo e a previsível subida do desemprego, as universidades esperam que a tendência de crescimento do número de bolseiros - em torno dos 4% desde 2006 - se agrave este ano. Isto quando o número de alunos com bolsas de estudo no último ano lectivojá chegou aos 21% dos estudantes do ensino superior. Isso quer dizer que este ano devemos superar a fasquia dos 73 mil estudantes apoiados pela acção social.
Amanhã mesmo, os administradores dos serviços de acção social dos institutos superiores vão reunir-se em Tomar, tendo o impacto da crise económica na agenda de trabalhos. "Estamos muito preocupados com esta questão, pois o actual clima económico e social não permite nenhuma falha na prontidão e eficácia no sistema de atribuição de bolsas de estudos", disse ao DN o coordenador nacional dos administradores dos serviços de acção social dos institutos, Rui Teixeira.
Se bem que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior rejeite avançar uma estimativa sobre o previsível número de bolseiros - até porque o período de candidatura ainda se mantém - as universidades têm sentido na pele o aumento de pedidos de ajuda. Assim como uma subida do incumprimento nos pagamentos. Uma situação que atravessa tanto o ensino superior público como privado, universidades ou politécnicos.
"É provável que haja um incremento nos pedidos de bolsa, mas não necessariamente uma explosão do número de bolseiros", até porque os pedidos podem subir, mas nem sempre os candidatos se enquadram nos apertados critérios para atribuição, salientou ao DN o responsável pela área da acção social da Universidade de Lisboa, Luís Fernandes. Aquele responsável estima em cerca de 3200 o número de alunos que vão receber bolsa este ano naquela instituição, calculando uma despesa da ordem dos 700 mil euros mensais com aqueles subsídios. O valor mensal por aluno ronda os 200 euros.
O substancial aumento de pedidos de ajuda começou, sobretudo, a sentir-se no último ano lectivo, no auge da crise económica. Em meados deste ano, o reitor da Universidade Lusíada , João Redondo, admitia ao DN um agravamento do incumprimento no pagamento das propinas e das solicitações de apoio. Para além dos 1200 alunos que em 2007/2008 estavam já abrangidos pelo fundo de apoio social da universidade - o equivalente a 12% do total de alunos -, registou um pedido de apoio especial de mais de 200 alunos. Cenário idêntico verificou-se, por exemplo, no Instituto Politécnico de Leiria.
Como explica Luís Fernandes da Universidade de Lisboa, "a situação no início do ano é uma coisa, e no meio é outra. Basta um dos pais ficar desempregado para que o aluno deixe de ter condições financeiras e tenha necessidade de recorrer à acção social".
As situações inesperadas de desemprego contribuem, aliás, para explicar, nem que seja parcialmente, o aumento da desistência de alunos que se tem registado em várias instituições do ensino superior. No Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, por exemplo, a taxa de desistências rondou os 30% no último ano lectivo. Em causa estão propinas da ordem dos 800 a 900 euros, no ensino superior público, que, para muitos, se tornam incomportáveis.
O presidente do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Rui Teixeira, admite que a situação se complique nas regiões mais afectadas pelo desemprego, o que não é o caso da sua. Mesmo assim, conta ter de apoiar cerca de 3500 alunos este ano. Cerca de 1100 poderão começar a receber já entre Outubro e Novembro.
D.N. - 11.10.09
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