Clínicos registados em Inglaterra aumentaram 19%. França e Espanha são outros destinos. Sindicato diz que número irá aumentar.
Apesar de a falta de especialistas estar a levar o Ministério da Saúde a recorrer a clínicos estrangeiros, o número de médicos portugueses a procurar outros países europeus está a crescer. No Reino Unido passou de 107 em Agosto para 127 em Maio, um aumento de 19%. Há dois anos eram 98.
Em França há 52 portugueses inscritos na respectiva Ordem e noutras 10 regiões espanholas há 40. Em Barcelona, por exemplo, passaram de dois, há cinco anos, para 26.
Para Paulo Simões, do Sindicato Independente dos Médicos, estes números dizem sobretudo respeito a profissionais que estão a fazer formação. Portugal tem ficado, até agora, um pouco à margem deste movimento de migrações de médicos, mas já se começa a notar a diferença, com a procura de médicos por parte de empresas de recrutamento britânicas.
"Com a maior abertura da sociedade portuguesa é natural que os médicos entrem nesse mercado", considera o coordenador do Observatório da Emigração, Rui Pena Pires.
Diferenças entre ordenados
O sociólogo diz que a emigração de médicos vai aumentar nos próximos anos porque há diferenças muito grandes entre o que os países têm para oferecer, não apenas a nível financeiro, mas também a nível de realização profissional e pessoal. "Os números ainda são pequenos, mas é uma tendência que vai aumentar nos próximos cinco a dez anos", concorda o cirurgião Paulo Simões. Até porque, por enquanto, Portugal tem falta de médicos mas numa "década pode ficar com médicos a mais".
Os portugueses que procuraram os países estrangeiro para fazer cursos de medicina, por outro lado, acabam muitas vezes por continuar a carreira noutros países e não regressam aos hospitais portugueses. De tal forma que a Ministra da Saúde, Ana Jorge, chegou a fazer um levantamento do número de alunos portugueses em outros países para os tentar convencer a regressar.
Até porque o inglês é a "língua oficial" de muitos dos cursos leccionados na República Checa ou na Polónia. O Colégio dos Médicos de Lleida, na Catalunha, tem quatro portugueses inscritos e nenhum fez o curso em universidades nacionais. "O que nos preocupa não é a saída de profissionais qualificados, é a perda de condições para atrair imigrantes capazes de compensar essas saída", diz Rui Pena Pires. Paulo Simões diz ainda que seria até positivo para a medicina em Portugal haver mais intercâmbio de conhecimento, porque isso serviria para dinamizar algumas áreas.
Já em Portugal. mais de 11% dos médicos com autorização para exercer são estrangeiros. De acordo com dados da Ordem dos Médicos (OM), dos quase 40 mil clínicos que estão aqui inscritos, 4400 são de outras nacionalidades. Uma tendência que se acentuou nos últimos cinco anos, segundo a OCDE: em 2007 estavam registados 3654.
Maioria de médicos são da UE
A maioria dos clínicos são cidadãos comunitários (2 631), sobretudo espanhóis, diz o bastonário Pedro Nunes. Isto por poderem registar-se sem realizar mais testes - uma medida que se aplica em toda a Europa - e devido à proximidade geográfica e linguística.
A facilidade da língua explica também a predominância do Brasil: há quase 700 médicos brasileiros inscritos. Há ainda 325 médicos de outros países da América do Sul. É a este continente que o Ministério da Saúde tem ido buscar mais profissionais para suprir a falta de médicos. Assim, passaram de 95 em 2007 para 325 actualmente. Para os clínicos extra-comunitários, o processo para verem reconhecidas as suas com- petências é mais complicado: têm que pedir equivalências a uma universidade nacional.
O bastonário salienta que muitos profissionais inscrevem-se na Ordem para tirar a especialidade, e depois abandonam o País.S obretudo profissionais dos países africanos de língua oficial portuguesa. Por isso, o número de médicos estrangeiros a exercer em Portugal pode ser inferior, diz o bastonário Pedro Nunes. Até porque, actualmente muitos espanhóis que estavam a trabalhar nos hospitais e centros de saúde começaram a regressar ao seu país.
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