«Se não têm pão, que comam bolos!», foi a resposta de Maria Antonieta perante o povo que se manifestava exigindo pão.
Tirando polémicas académicas que existem e têm importância nesse exacto limite, pouca importa se a frase foi de facto pronunciada ou se tendo-o sido o foi com a intenção e o tom que rasgou os timpânos do povo francês. O que é certo é que se passaram mais de dois séculos e a frase persiste na memória colectiva, poderosa ilustração de uma élite indiferente ao sofrimento de que o seu luxo se alimenta, desligada da realidade, convencida da sua natural ou divina superioridade, candidamente capaz de todos os crimes.
É díficil não nos lembrarmos de Maria Antonieta quando ouvimos a ministra da Saúde dessa coisa moribunda, putrefacta e perigosa a que se chama «Governo de Sócrates» recomendar aos portugueses que aproveitem «a contenção que é preciso fazer, para fazerem sopa em casa e não gastarem em fast food».
Porque, como a Rainha de França, a sra. ministra do Governo que corta a direito nas prestações sociais já perdeu a noção que o povo português não precisa de conselhos piadosos sobre o que comer, mas de comida, não precisa de ser obrigado a comer sopa, mas de ser livre de comer o que precisa e quer.
Porque, como a esposa de Luis XVI, a sra. ministra do Governo que rouba nos salários dos trabalhadores para meter no bolso dos banqueiros, acha natural que apenas uma minoria de parasitas possa comer tudo o que quer e que o povo se alimente ou de sopa ou «daquelas porcarias que comem os pobres» nas palavras da Susaninha de Quino.
Porque, como Maria Antonieta, a sra. ministra do Governo que está a destruir o SNS é tão ignorante que nem se apercebe que insulta quando insulta, que mofa quando quer ser séria, que revolta quando quer acalmar.
A sra. ministra e a Coisa de que faz parte estão condenados, a própria burguesia já está a tentar parir os siameses que os substituam. Mas estas declarações ilustram apenas uma situação muito mais grave e profunda, e são o reflexo de uma reconstruída élite que orbita o grande capital monopolista. Torna-se cada dia mais urgente e necessária uma profunda ruptura com a política de direita!
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