O número de pessoas com mais do que um emprego aumentou 5% no ano passado. O Instituto Nacional de Estatística estima que em 2008 tenham estado 339 mil empregados nesta situação. Muitas vezes, por uma simples questão de dinheiro. O inquérito ao emprego aponta para a existência de 1,6 milhões de portugueses com rendimentos abaixo de 600 euros
A maioria assume os dois trabalhos no sector dos serviços
Um divórcio atirou a Mara para uma jornada de trabalho de sete a dez horas, todos os dias da semana. De segunda a sexta assume a tempo inteiro um projecto de aplicações financeiras do Banco Espírito Santo. Ao sábado e ao domingo atende ao balcão numa loja de chocolates das Amoreiras.
"Levanto-me, trabalho, como e durmo. Para já, é a única opção." No banco, onde está há nove anos, tem um ordenado acima da média. Mas os 930 euros por mês deixaram de ser suficientes quando, por volta dos 30 anos, passou a suportar os encargos sozinha. Diz que nunca teve dificuldade em encontrar em emprego. O da loja, que paga o carro, é mediado por uma agência de trabalho temporário. "Hoje em dia, ter carro e casa só é acessível a um casal." Ou a quem também trabalha ao fim-de-semana.
O caso da Mara está longe de ser isolado. Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que, no ano passado, estiveram nesta situação mais de 339 mil pessoas, o valor mais alto desde, pelo menos, 1998. Que superou o anterior máximo registado em 2003, ano de recessão. Num ano em que o emprego cresceu 0,5%, o número de pessoas com mais do que um emprego aumentou 4,7%. Por isso, a proporção tem vindo a crescer e estes casos representam agora 7% da população empregada. O valor mais alto registou-se no segundo trimestre, mas o ano terminou a subir.
Alexandra (nome fictício), licenciada em Direito, é outro exemplo concreto dos casos detectados pelo Inquérito ao Emprego no último trimestre do ano passado. Os honorários dos processos oficiosos poderiam ser suficientes se o M inistério da Justiça "pagasse atempadamente". Chegou a esperar oito meses. Pouco depois de ter contactado uma agência de trabalho temporário integrou o departamento de facturação de um dos maiores grupos de telecomunicações. Por um horário de trabalho a tempo inteiro, recebia o salário mínimo e prémios.
Não deixou de pedir licenças para aceitar alguns processos. "Depois da expectativa que se cria ao fim de tantos anos de curso e do estágio, desistir custa um pouco. Lido com pessoas que estão exactamente na mesma situação."
No início do ano resolveu dedicar-se exclusivamente à advocacia. Espera que a situação dure, pelo menos, até Maio. A opção tomada no ano passado assegurou as despesas básicas: "Ter um pouco de independência financeira, ir ao cinema e de vez em quando comprar roupa." Aos 31 anos, queria já ter saído de casa dos pais.
Duzentas mil das 339 mil pessoas com mais do que um emprego tinham a ocupação principal no sector dos serviços. A maioria das quais (60%) com um segundo trabalho dentro do mesmo sector.
1,6 milhões com menos de 600 euros
O dinheiro não será a única motivação de todos os que procuram um segundo emprego.
O retrato traçado pelo INE denuncia, contudo, que os salários baixos ainda são muito frequentes. Apesar de uma significativa quebra - de 7% no ano passado -, os dados relativos ao ano passado apontam para a existência de mais de 1,6 milhões de pessoas com um rendimento mensal inferior a 600 euros. O equivalente a 42% de todos os trabalhadores por conta de outrem.
D.N. - 20.02.09
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
20/02/2009
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