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10/05/2011

Mulheres da limpeza arrumaram as vassouras na escola da PSP por falta de pagamento

José Bento Amaro

As dívidas, acumuladas nos últimos oito meses, já rondam os 100 mil euros. Instrutores também estão a receber menos.

As empregadas da empresa de serviços de limpeza que trabalham na Escola Prática de Polícia (EPP) da PSP, em Torres Novas, recusaram na segunda-feira desempenhar qualquer tarefa naquelas instalações. Tratou-se de uma acção de protesto pelo atraso nos pagamentos (já serão oito meses) que a polícia acumula em relação à empresa. Para se proceder ao fornecimento de refeições, a PSP recorreu a funcionários civis e a alguns polícias.

O fornecimento de refeições aos cerca de 1300 instruendos e docentes da EPP acabou por ser assegurado por algumas funcionárias civis da PSP e por polícias que, por norma, desempenham tarefas mais viradas para a manutenção das instalações e segurança. As cerca de 30 mulheres da empresa Number One, Limpezas Técnicas Profissionais, que pertence ao grupo Conforlimpa, e que há mais de dois anos trabalham na EPP "ficaram debaixo de uma árvore, à sombra, à espera que lhes paguem", conforme disse ontem ao PÚBLICO um formador da PSP que, "por causa das retaliações", pediu anonimato.

Em dívida estarão cerca de 100 mil euros, relativos à prestação de serviços ao longo de oito meses. "O problema nem sequer é da direcção da escola, mas sim da direcção nacional da polícia, que, quando contratou a empresa tinha, certamente, o dinheiro necessário para proceder aos pagamentos", explicou ainda a mesma fonte.

O PÚBLICO tentou saber junto da administração do grupo Conforlimpa para quando o final da acção de protesto e qual o montante exacto da dívida. Num contacto telefónico efectuado para a sede da empresa, em Castanheira do Ribatejo, foi adiantado que o director da empresa, Armando Almeida Cardoso, só prestaria declarações pessoalmente. Também não foi possível fazer qualquer contacto com nenhuma das mulheres que têm trabalhado na limpeza das instalações policiais e que, de acordo com alguns polícias, auferem em média um salário a rondar entre os 300 e os 400 euros mensais.

Ontem, mais do que os problemas que podem resultar de não existir gente em quantidade suficiente para ajudar a servir as refeições, muitos polícias temiam, sobretudo, que as condições de higiene na EPP se viessem a deteriorar ao ponto de inviabilizar a continuidade das acções escolares. "Sem as senhoras da limpeza não há detergentes e sem estes não se limpa nada. Neste momento não há casas-de-banho limpas. Nem sequer há novos rolos de papel higiénico", disse um dos polícias contactados, lembrando que a situação era mais grave nas instalações onde se encontram instalados os candidatos a agentes.

Apesar dos contactos com a direcção nacional da PSP, em Lisboa, não foi possível obter em tempo útil qualquer explicação relativa a este caso, assim como em relação ao não pagamento dos subsídios aos instrutores (ver caixa). Desse modo, não é possível adiantar o que vai acontecer, por exemplo, com os cerca de 1000 instruendos que frequentam o curso para admissão à PSP, sendo certo que muitos formadores defendem que os alunos "devem ser mandados para casa até que estejam de novo reunidas as indispensáveis condições de higiene".

A insatisfação na EPP resultante da falta de condições financeiras e da consequente degradação das condições já terá sido comunicada à própria direcção do estabelecimento, com alguns dos mais de 50 formadores a exigirem voltar para as esquadras de origem.

Fontes policiais dizem ainda que os atrasos no pagamento a fornecedores são frequentes e que em breve poderão surgir novos problemas, nomeadamente com o gás, apesar de este estar contratualizado com a Galp.

http://www.publico.pt/Sociedade/mulheres-da-limpeza-arrumaram-as-vassouras-na-escola-da-psp-por-falta-de-pagamento_1493516

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