No seguimento do processo de insolvência do grupo CRH, dezenas de pessoas estão a ser despedidas semanalmente nos vários call centers que têm trabalhadores afectos a este grupo. Chegam-nos notícias de despedimentos diários em Coimbra, além de notícias de aumento de pressão sobre os trabalhadores através do endurecimento dos objectivos a cumprir: critérios de avaliação absurdos, banco de horas onde se aponta o tempo extra, para ser gozado quando a empresa o permitir, omissão de informação sobre o processo de insolvência. Mas o mais grave é que, em alguns casos, os comunicadores são chamados a uma sala, onde apenas com a presença do chefe, são levados a pedir a demissão, sob ameaças de processos disciplinares, perdendo todos os direitos que deveriam ser assegurados. São despedidas cerca de duas dezenas de pessoas por semana desta forma, só num call center. Mas a situação é recorrente noutros locais.
O grupo CRH pediu a insolvência em Novembro do ano passado e comprometeu-se a não despedir trabalhadores. O processo de insolvência foi iniciado depois de a empresa ter declarado dívidas de mais de 11 milhões de euros ao fisco e à Segurança Social (de acordo com um comunicado do grupo), que comprometiam a viabilidade das várias empresas detidas pela CRH. Agora estão a cobrar as dívidas em direitos dos trabalhadores! Os Precários Inflexíveis irão acompanhar de perto este processo e apelam a que os trabalhadores alvo de despedimentos e abusos nos contactem e denunciem as várias situações.
Segue-se a história deste processo:
Em 15 de Novembro de 2010 a CRH, uma das maiores empresas do sector de recursos humanos, pediu a própria insolvência com o objectivo de apresentar um plano de recuperação, mantendo a gestão actual. Este grupo do qual fazem parte várias empresas entregou no Tribunal de Comércio de Lisboa o pedido de insolvência, depois de ter falhado o processo de reestruturação iniciado em 2009. No conjunto são cerca de 4000 trabalhadores, sendo que perto de três mil são da subsidiária CRH-Consultoria e Valorização, que se dedica à gestão de recursos humanos, ligada a trabalho temporário e centros de atendimento telefónico (call centers). Fornece mão-de-obra a grandes empresas, nomeadamente à PT e à EDP. Além da CRH, a Temphorário, uma empresa do mesmo grupo, que pediu também a insolvência.Em Maio de 2010 a CRH havia já encerrado o seu centro de atendimento de chamadas localizado no Vale do Ave, concelho de Guimarães. Era suposto este centro de atendimento ser o maior empregador do parque tecnológico do AvePark, com 600 trabalhadores, mas contava apenas com 70…
No dia 2 de Dezembro, o Tribunal de Comércio de Lisboa declarou a empresa insolvente, por ser incapaz de cumprir as suas obrigações, por acumulação de dívidas. Fontes próximas confirmam que as dívidas dizem respeito a impostos e contribuições à Segurança Social, embora esteja também presente no grupo de credores o Banco Millenium BCP. Pela mesma altura, a empresa elaborou um plano que conta com “o apoio e a análise de uma das maiores e mais credíveis consultoras internacionais de gestão” e que incluía propostas de “períodos de carência e dilatação dos prazos de pagamento” das dívidas, segundo declarações ao jornal Público.
Outro compromisso do grupo foi a garantia de que não recorreria ao despedimento de nenhum funcionário. Aliás, na altura, a empresa referiu que previa “manter o ritmo normal de mais de 70 contratações por mês”, segundo declarações ao mesmo jornal.
O caso levou a que o grupo parlamentar do PCP questionasse o Governo por várias vezes acerca deste processo. Numa das questões é referido que foi circulado um email no dia 9 de Dezembro (já depois de deferido o processo de insolvência) entre os trabalhadores do Contact Center da EDP em Seia que dizia: “O ano de 2010 tem-se revelado um ano bastante positivo para o Grupo CRH, especialmente num contexto económico extremamente difícil. O Grupo CRH aumentou a sua presença em todos os clientes, ganhou novos contratos, e dessa forma continuando a seleccionar, recrutar e formar novos colaboradores, retendo em simultâneo os mais antigos”.
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