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07/11/2010

Número de alunos que almoçam na escola cresce 30%

Aumentam as dificuldades das famílias, que já não conseguem dar as refeições  aos filhos e acabam por inscrevê-los na cantina. Há autarquias que querem distribuir no básico pequeno-almoço e lanche reforçados
Este ano, mais 30% dos alunos do 1.º ciclo passaram a almoçar nas escolas. Só em Gaia, esse aumento foi de quase mil alunos. Ou seja, das 12 mil crianças que frequentam a primária, 10 mil comem na escola e quase todas têm a refeição paga pela acção social escolar. Os números são avançados às associações de pais pelas autarquias.
Muitos destes alunos passaram a comer na escola porque os pais já não lhes conseguem garantir um almoço em casa, explica Albino Almeida. "De forma até envergonhada, as famílias optam por inscrever os filhos nos almoços da escola, sem lhes dizer que já não têm comida", acrescenta o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap).
Também no concelho de Matosinhos, o aumento de alunos que almoça nos refeitórios é significativo. As escolas passaram a servir cerca de cinco mil almoços por dia, quando no ano passado distribuíam cerca de três mil. Apesar do aumento ser expressivo, a Confap não se mostra surpreendida. "Não é surpresa que isto aconteça, mas só estávamos à espera que aumentasse desta forma em Janeiro, quando houver mais cortes", diz Albino Almeida.
O representante dos pais adianta mesmo ao DN que algumas autarquias estão a planear distribuir um pequeno-almoço e um lanche reforçado, para alimentar as crianças que só comem na escola.
No entanto, as autarquias receiam não ter capacidade financeira para fazer face a todos os pedidos de ajuda.
"Com os cortes anunciados a situação não irá aliviar, vai é agudizar-se e não sabemos até quando vamos poder aguentar porque todos nos debatemos com estes cortes orçamentais", queixa-se António José Ganhão, responsável pelo pelouro da Educação da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP).
Muitas câmaras municipais fizeram acordos com as instituições de solidariedade social para responder aos apelos da população mais carenciada. Mas quem ajuda também teme já não conseguir responder a todos os apelos.
"Ainda não estamos no limite e vamos conseguindo remendar as coisas, mas as dificuldades estão a aumentar, temos mais pessoas a pedir ajuda e também tivemos um corte nos apoios", admite o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel de Lemos. Do lado das autarquias também há o reconhecimento de que apesar de ainda conseguirem "remediar a situação", no futuro tudo se pode complicar. "Não vemos soluções para este problema", alerta António José Ganhão.
Tanto as autarquias como as instituições de solidariedade têm alertado para o facto de muitas crianças apenas comerem refeições quentes na escola. Para resolver esta situação, algumas câmaras - como a de Sintra - decidiram abrir as cantinas ao fim-de-semana e durante as férias, noticiou ontem o semanário Expresso. Agora vão também dar pequeno-almoço e lanche mais completos.
Esta alimentação reforçada já é feito pelas Misericórdias. "Já há muito tempo que nos vemos obrigados a reforçar o lanche de sexta--feira e as refeições de segunda-feira porque sabemos que as crianças não comem em casa", sublinha Manuel de Lemos. 

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1704859

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