Os cortes orçamentais que os diversos países da Europa possam fazer no combate à toxicodependência podem vir a ter custos sociais e económicos muito maiores no futuro do que as poupanças que venham a fazer-se agora. O aviso chegou hoje do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT) e pode ser lido no seu relatório anual.
Cortes no combate à toxicodependência com custos no futuro.
O risco de se tomarem "decisões políticas que obriguem a Europa a ter de suportar, a longo prazo, custos muito superiores às eventuais poupanças obtidas a curto prazo" chega hoje em forma de alerta por parte do OEDT.
No seu relatório anual o OEDT explica ainda que a poupança não só pode redundar em maior prejuízo como existe “o perigo de as medidas de austeridade causarem cortes na oferta de respostas eficazes numa altura em que a sua necessidade pode estar a aumentar".
"É necessário que os governos que estão a ponderar reduzir a despesa no domínio da droga tenham em conta a relação custo-eficácia das medidas existentes", refere o relatório numa das suas alíneas que bem pode ser aplicada a Portugal que recentemente anunciou cortes no Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT).
Recorde-se que foram anunciados cortes no IDT que vão levar à saída de 200 trabalhadores precários no âmbito das medidas de austeridade na administração pública.
Os responsáveis europeus pela monitorização do fenómeno da toxicodependência temem que o momento de austeridade económica e desemprego crescente que se vive possa ser acompanhado de um aumento das formas problemáticas do consumo de droga".
Toxicodependentes mais velhos estão em Portugal
No relatório anual do OEDT, divulgado hoje, pode ler-se ainda que
Portugal tem os toxicodependentes mais velhos da Europa, registando 28 por cento das pessoas com 40 anos ou mais em início de tratamento.
"Portugal reporta a percentagem mais elevada de consumidores de droga mais idosos em início de tratamento", pode ler-se no relatório o que, juntamente com dados recolhidos em outros países europeus, permite concluir que o consumo de droga já não pode ser visto só como um "fenómeno juvenil".
Portugal é um dos países da Europa Ocidental identificados pelo OEDT onde ocorreu "a primeira epidemia de consumo de heroína nas décadas de 1980 e 1990" e onde os serviços de tratamento de substituição de opiáceos assistem uma percentagem "muito substancial" de pessoas mais velhas.
Mortes por cocaína aumentam
Ainda segundo o relatório do OEDT as mortes por cocaína estão a aumentar na Europa, tal como o consumo em alguns países, com destaque para o facto do o número de mortes associadas ao consumo de cocaína se situar em mil por ano, dando o exemplo do Reino Unido onde o número subiu de 161 em 2003 para 325 em 2008.
"Ainda há demasiados europeus que consideram o consumo de cocaína como um complemento relativamente inócuo de um estilo de vida bem sucedido", afirmou o director do OEDT, Wolfgang Gtz, que alerta ainda para o facto de a cocaína provocar mortes "mesmo quando consumida ocasionalmente e em pequenas doses".
O relatório revela que 14 milhões de europeus já consumiram cocaína, dois milhões no último mês, e que em 2008 cerca de 70 mil europeus começaram tratamento por problemas de consumo de cocaína, quer em pó quer na forma "crack", destinada a ser fumada.
No consumo de cocaína Portugal está em 16º lugar numa lista de 28 países, incluindo o Canadá e os Estados Unidos, com cerca de 1,2 por cento de utilizadores entre os 15 e os 34 anos.
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