A média de remuneração dos trabalhadores do sector privado em Portugal era, em 2008, de 843 Euros[1]. O facto de o trabalhador ser homem ou mulher ou de trabalhar num ou noutro distrito do país reflecte-se em acentuadas desigualdades relativamente a este valor médio.
No Gráfico 1 pode justamente observar-se as variações da remuneração média de acordo com o sexo do trabalhador e o distrito do estabelecimento onde trabalha. Para além de Lisboa se destacar enquanto o distrito onde as remunerações médias são mais elevadas (tanto para os homens como para as mulheres), sobressai também a disparidade, em todo o país, das remunerações entre os sexos. A remuneração média das mulheres é sempre inferior à dos homens e à média global. É em Setúbal que essa desigualdade é mais acentuada: enquanto os homens auferem, em média, 926 Euros, as mulheres têm uma remuneração média de 706 Euros, ou seja, a remuneração das mulheres corresponde a 76% da dos homens. O distrito em que esta disparidade é menor é Vila Real: as mulheres auferem, em média, 622 Euros, o que corresponde a 91% da remuneração média dos homens (681 Euros). No entanto, este é também um dos distritos com uma das mais baixas médias a nível nacional (com valores inferiores só estão Bragança e Guarda).
Considerando também o distrito do estabelecimento, mas desta vez cruzado com o nível de habilitações do trabalhador (Gráfico 2), observa-se, por um lado, uma relação directa entre o nível de habilitações e a remuneração média: quanto mais elevado aquele, mais alta é esta também. Por outro lado, o gráfico permite também constatar que é ao passar para as habilitações de nível superior que o aumento remuneratório é mais acentuado.
Em termos de território, nota-se, uma vez mais, a preponderância de Lisboa: exceptuando no caso dos trabalhadores com habilitações inferiores ao 1º Ciclo do Básico, em todos os outros níveis de habilitações as médias de remuneração são as mais elevadas do país (naquele caso, é a Madeira que se destaca, com uma remuneração média de 608 Euros).
O Gráfico 3 dá conta da remuneração média por Indicador socioprofissional individual de classe[2] e distrito do estabelecimento. Os Empresários, Dirigentes e Profissionais Liberais (EDL) destacam-se claramente em alguns distritos: Lisboa, Madeira, Setúbal e Porto. Os Profissionais Técnicos e de Enquadramento (PTE) apresentam uma média mais homogénea nos vários distritos (embora Lisboa sobressaia também aqui), sendo que na Guarda apresentam uma remuneração média consideravelmente superior à dos EDL (mais 110 Euros).
As remunerações médias dos Empregados Executantes (EE), dos Operários (O) e dos Assalariados Agrícolas (AA) são relativamente uniformes entre si e nos vários distritos. No caso dos EE, Lisboa surge com a remuneração média mais elevada (739 Euros), enquanto no caso dos operários é Setúbal que está em primeiro lugar (724 Euros) e Évora destaca-se quanto aos AA (602 Euros).
No Gráfico 4 podemos observar as desigualdades de remuneração dos trabalhadores portugueses de acordo com o seu nível de habilitações e o sexo. Em ambos os sexos, a remuneração dos trabalhadores com ensino superior destaca-se claramente. No entanto, é também neste nível de habilitações que a disparidade entre homens e mulheres é mais acentuada: as mulheres com ensino superior auferem, em média, 68% da remuneração dos homens com o mesmo nível de habilitações, enquanto as que têm um nível de ensino inferior ao 1º ciclo do ensino básico têm uma remuneração correspondente a 86% da dos homens com as mesmas habilitações.
Por último, o Gráfico 5 dá conta da remuneração média dos trabalhadores por sexo e indicador socioprofissional individual de classe. Os EDL surgem com as remunerações médias mais elevadas (2.034 Euros), seguidos pelos PTE (1.370 Euros), EE (657 Euros), O (628 Euros) e AA (546 Euros). Em todos estes grupos de classe, as mulheres auferem remunerações mais baixas do que os homens. É no caso dos EDL que essa diferença é mais importante: as mulheres auferem 73% da remuneração média dos homens.
Quadros em anexo:
[1] Neste texto são considerados os trabalhadores por conta de outrem a tempo completo e que auferiram a remuneração base completa (n= 2.268.276).
[2] Tendo como base a tipologia ACM (Almeida, Costa e Machado), o indicador socioprofissional individual de classe é construído a partir das variáveis "profissão" e "situação na profissão". O facto de a base de dados dos Quadros de Pessoal só ter informação relativa às remunerações dos trabalhadores por conta de outrem faz com que na categoria dos EDL's a informação apresentada não contemple os empregadores. Por outro lado, os Trabalhadores Independentes, que também integram a tipologia ACM, não fazem parte dos trabalhadores abrangidos por este inquérito. Ver exemplo de operacionalização desta tipologia no artigo "Classes sociais na Europa"
http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=indicators&id=48&lang=pt
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