À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

17/06/2010

«Insustentável»

Carlos Gonçalves

Disse o PR Cavaco Silva, no discurso de 10 de Junho – «... como avisei na altura devida, chegámos a uma situação insustentável ...». Foi uma crítica directa ao Governo PS, explicitamente acusado de não ter olhos para a realidade, nem ouvidos para o Presidente, que «raramente se engana». Sócrates respondeu em defesa do Governo - «não estamos numa situação insustentável, estamos em dificuldades, como os outros países europeus». Estava encontrado o «facto mediático» - a «profunda contraposição» entre PR e Governo na avaliação do «estado da Nação».
Mas o silogismo é «insustentável». PR e PS vão continuar em situações de conflito no acessório, mas de «cooperação estratégica» no essencial, não apenas na política de direita, que vem de longe, mas em concreto neste PEC2, em que o PR se gaba de ter empurrado o «entendimento» de PS e PSD.
Mais, é «insustentável» que PR e PS estejam de facto de acordo quanto ao prosseguimento da ofensiva dos grandes interesses e aos PECs daí decorrentes e se juntem na encenação das «divergências necessárias», que, neste quadro, funcionam como um álibi mútuo. Quando foi candidato (derrotado) a PR, em 1995, Cavaco não hesitou em atacar o governo do (seu) PSD, tal como não hesita agora no mesmo «número» eleitoralista relativamente ao PS.
É «insustentável», do ponto de vista da ética política, que PS, PSD e PR, ciclicamente, façam de conta que nada têm a ver com a gravíssima situação do país, com o vórtice da ofensiva do capital financeiro, de exploração e regressão social, como se não governassem - juntos ou à vez - há 34 anos, conduzindo inexoravelmente Portugal até ao declínio nacional.
É «insustentável» um discurso de 10 de Junho, de PS, PSD e PR, de exaltação da história e coragem deste povo, na afirmação da soberania, para, no dia seguinte, na festa dos 25 anos da UE virem pregar a «oportunidade» e urgência de «mais do mesmo», «mais Europa», mais «Governo económico» do capital financeiro e menos independência nacional. Para estes senhores a pátria é a carteira, mais o cachecol com que se apoia a selecção e se oculta a luta de massas contra a política de direita.
É «insustentável» a política de direita do PS, do PSD e do PR. E é imprescindível a alternativa, patriótica e de esquerda.

http://www.avante.pt/noticia.asp?id=34008&area=25

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