Alguns chegam como voluntários, de coração aberto e estômago vazio. Vêm para ajudar, mas, vencido o silêncio envergonhado, confessam que também eles precisam de ajuda. São os novos pobres.
Despojados das estratégias que os utentes tradicionais das instituições aprenderam a dominar, os novos pobres aguardam a melhor altura para pedir ajuda. "Aparecem cada vez com mais frequência", constata Susete Santos, do Gabinete de Apoio Social do Centro Porta Amiga da Assistência Médica Internacional, no Porto. "E nós temos de estar cada vez mais atentos. Agora, temos de estar atentos até aos voluntários", explicou ao JN.
Entram pela porta que julgam envergonhá-los menos, a eles que nunca tiveram por que pedir ajuda. "São pessoas que nunca recorreram à Segurança Social, nunca tiveram institucionalizadas e que têm um grande desconhecimento da forma como as coisas se processam", descreve a técnica da AMI.
Fazem parte de uma pobreza encoberta que grassa silenciosa pelas ruas das cidades e que preocupa Susete Santos. A que se passa entre as quatro paredes de casa, escondida na vergonha de quem deixou de conseguir ganhar para viver a vida como dantes. O desemprego está na base da maioria das situações de carência que chegam às instituições. "Era bom que todas as novas situações chegassem até nós, mas acredito que há muito mais", calcula a socióloga da AMI Porto.
Números da Assistência Médica Internacional (AMI) indicam uma subida de 10% no número de casos que chegaram aos centros Porta Amiga, nos primeiros seis meses deste ano. "Estes valores demonstram uma nítida tendência para um crescente número de casos de pobreza persistente. A grande maioria destas pessoas encontra-se em plena idade activa, entre os 21 e os 59 anos de idade", explica a AMI.
No total, 5201 pessoas procuraram apoio social da organização, 80% das quais desempregadas. Um número que se aproxima dramaticamente do total atingido em anos anteriores. Destas, quase duas mil recorreram à ajuda pela primeira vez, o que indica a existência de cada vez mais casos de nova pobreza.
A propósito do Dia Internacional para Erradicação da Pobreza, comemorado ontem, republicaram-se as estatísticas que atestam o que as instituições percepcionam em parcelas dramáticas de pobreza, estrutural ou adquirida.
A Rede Europeia Anti-Pobreza (REAPN) cita dados do Instituto Nacional de Estatística relativos ao desemprego, segundo os quais no segundo trimestre havia 507,7 mil portugueses que tinham perdido o trabalho. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico estima que, no final do próximo ano, sejam 650 mil, mais 210 mil do que em 2007.
O JN acompanhou quatro voluntários que com o seu trabalho tentam esbater a pobreza, que, dizem os números, atinge 18% dos portugueses (ver páginas seguintes).
J.N. - 18.10.09
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