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22/10/2009

Uma porta aberta para matar a fome

Cada vez há mais pessoas, sobretudo jovens, a procurar ajuda no projecto "Porta Solidária", que funciona desde Fevereiro na igreja de Nossa Senhora da Conceição. Faltam voluntários para responder às necessidades.
foto Fernando Timóteo/JN
Uma porta aberta para matar a fome

São 18.30 horas e está quase tudo a postos para a refeição ser servida. A azáfama é grande na cozinha modesta do bar da paróquia de Nossa Senhora da Conceição, no Marquês (Porto), e os cerca de 10 voluntários desdobram-se em tarefas, cuidadosamente estipuladas.

Uns distribuem a sopa, outros ocupam-se da louça. Tudo preparado para que nada falhe. O padre Rubens Martins vai dando uma ajuda antes da missa.

Há cada vez mais pessoas sem dinheiro para um prato de comida. "Cada vez vem mais gente nova", diz o padre, responsável pelo projecto "Porta Solidária", que existe desde Fevereiro.

Na rua, a fila de pessoas vai ficando composta à medida que se aproximam as 19 horas. Homens, mulheres, casais. Novos e velhos. O perfil de quem ali se apresenta, diariamente, de segunda a sexta-feira, para comer a sopa, é variado. Também há toxicodependentes e sem -abrigo.

Na mesa comprida, em madeira, vão-se acomodando os utentes. Além da sopa, há pão, água, bolos e um lanche (normalmente, sande, iogurte e fruta) para levar ao fim. "É o que houver. Hoje, por acaso, há iogurtes", refere Justa Barbosa, uma das voluntárias.

Os alimentos são doados, sobretudo, por particulares. A sopa é confeccionada no Externato de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, um dos associados do projecto. A Escola Superior Paula Frassinetti também colabora.

A refeição faz-se rápido. A fome aperta. "Muitas pessoas que cá vêm já tiveram uma vida razoável. Há homens que levam o saco do lanche para as mulheres que ficaram em casa, com vergonha", conta, ao JN, a voluntária Dulce Dias, reformada de 65 anos.

São os "novos pobres". "Pessoas que perderam o emprego ou que trabalham mas ganham muito pouco são cada vez mais frequentes", acrescenta o pároco.

António Freitas e a companheira, Maria Sacramento, vivem da reforma dele e da pensão de viuvez dela. O homem, de 65 anos, trabalhou "toda a vida" na construção civil, mas agora vê-se obrigado a recorrer a ajudas para comer. "Quando estamos mais atrapalhados vimos aqui", diz, enquanto devora o lanche.

Há cerca de 140 voluntários, que se distribuem em dois turnos. Justa Barbosa, comerciante, colabora com a "Porta Solidária" dois dias nas semanas ímpares e um dia nas semanas pares. Fecha a sua loja e vai para onde se sente "útil e realizada". Este ano, os alunos e os professores do Colégio de Nossa Senhora da Paz também participam no projecto. "Sinto-me bem a ajudar", explica Inês Sousa, de 14 anos. "O que mais me impressionou foi ver gente que, à primeira vista, nem parece ser necessitada", acrescentou a estudante.

Ainda assim, há poucos voluntários para responder às necessidades. "O serviço foi criado a pensar em 40 utentes, mas temos uma média de 120 por dia", explica o pároco. Por isso, Rubens Martins deixa o apelo: "Para ser voluntário, basta inscrever-se na paróquia ou através do nosso site (www.p-conceicao-porto.org/)".

J.N. 22.10.09

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