O estudo da Amnistia Internacional Portugal, desenvolvido em parceria com a Rede Europeia Anti-pobreza e o Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações do Instituto Superior de Economia e Gestão, tem por base uma amostra de 1.350 pessoas com 18 anos de idade ou mais e de 19 freguesias escolhidas de forma aleatória em todas as regiões do país.
Dos resultados preliminares do inquérito sobre "percepções da pobreza em Portugal", cujo conteúdo é revelado pela agência Lusa, ressalta uma conclusão: "Os portugueses sentem a pobreza e sentem-na numa proporção preocupante".
Setenta e sete por cento dos indivíduos inquiridos manifestam escassa ou nenhuma esperança na capacidade de recuperar de situações de pobreza. Setenta e cinco por cento consideram que o quadro regrediu nos últimos cinco anos e outros 50 por cento mostram-se convictos de que a situação vai continuar a ensombrar-se.
Quanto à percepção da intensidade e da extensão da pobreza, 59 por cento dos inquiridos situam a percentagem de pessoas pobres entre os dez e os 40 por cento. Quarenta por cento acreditam que metade da população vive em situação de pobreza. Somente seis por cento dos inquiridos descrevem como "miséria" a pobreza existente no país.
Novos grupos vulneráveis
No que toca à designação dos novos segmentos da sociedade mais vulneráveis à pobreza, 83 por cento dos portugueses inquiridos destacam os jovens à procura da primeira colocação no mercado de trabalho.
Se há duas décadas a percepção de vulnerabilidade recaía sobre os deficientes, doentes crónicos e minorias étnicas, a ideia que hoje prevalece estabelece um nexo entre a situação profissional e a pobreza. Em suma, a maioria dos inquiridos considera que a luta contra o fenómeno deve privilegiar a criação de postos de trabalho e o investimento público na formação profissional, no sector educativo e nos cuidados de saúde.
Já no que diz respeito à situação dos próprios inquiridos, os autores do estudo deixam também uma nota de preocupação. Vinte por cento dizem estar em risco de pobreza, enquanto sete por cento afirmam viver uma pobreza explícita e um por cento uma situação de miséria. Cinquenta e dois por cento afiançam viver com algum conforto, o que pode merecer duas leituras - uma resistência em reconhecer situações de pobreza ou a aceitação de uma situação de conforto reduzido.
Sinais de pobreza e atribuição de responsabilidades
Os inquiridos no estudo da Amnistia Internacional Portugal referem, como indicadores de pobreza, factores como a falta de água, de casa de banho ou de luz eléctrica. De acordo com o estudo, "a inexistência de condições mínimas da salubridade continua a ser o indicador de pobreza mais consensual, não havendo ainda menção alargada a formas de pobreza mais modernas".
Na óptica dos autores do inquérito, os resultados agora conhecidos tornam imperativa uma intervenção junto da opinião pública: "Não podemos esquecer que os conceitos de pobreza e de exclusão social são construídos e delimitados pelo mundo dos que se julgam incluídos. É aqui que é preciso, prioritariamente, actuar, não esquecendo os velhos pobres".
Grande parte dos inquiridos sustenta que cabe ao poder político apresentar soluções. Para a Amnistia Internacional e a Rede Europeia Anti-pobreza, isto significa que o país pode estar confrontado com uma desresponsabilização generalizada dos cidadãos face às situações de pobreza - uma percepção assente em afirmações como "eu pago os meus impostos, o Governo que resolva", ou "eu não tenho nada a ver com isso".
As organizações preconizam, por isso, a instituição de uma cultura social de co-responsabilização.
RTP - 20.10.09
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