Os credores da Flor do Campo, têxtil de Santo Tirso parada há três anos, votam hoje a terceira proposta de plano de insolvência da empresa, que prevê o pagamento de 30 por cento do montante em dívida em dez anos.
“Os trabalhadores vão votar contra a proposta [do administrador judicial], porque não é possível abdicar de 70 por cento dos seus salários em atraso e receber os 30 por cento ao fim de 12 anos”, disse hoje à Lusa Marlene Correia, do Sindicato dos Trabalhadores dos Sectores Têxteis, Vestuário, Calçado do Porto (SINTEVECC).
Em declarações à Lusa, a dirigente sindical considerou a proposta do administrador judicial “algo nunca antes visto”, uma vez que “feitas as contas, a maioria dos trabalhadores receberia menos de dez euros por mês, o que nem sequer paga a deslocação”.
“O nosso maior medo tem a ver com o facto de a Segurança Social ser o maior credor da empresa e na assembleia de credores ter a maioria [dos votos]”, disse, à Lusa, Marlene Correia.
A dirigente sindical realçou que “os trabalhadores estão a ficar desesperados, porque o fundo de desemprego está a acabar”.
Em declarações à Lusa, a representante dos 400 trabalhadores da Flor do Campo disse ainda não acreditar na proposta de viabilização da empresa, que está parada há três anos.
“É um estudo de viabilidade que parte de uma realidade que não é actual”, acrescentou.
De acordo com a dirigente sindical, a proposta de viabilização da empresa prevê que “neste momento, já estivessem a ser integrados os primeiros trabalhadores, sendo que, em 2011, a Flor do Campo, devia já dar trabalho a 150 pessoas”.
A solução que será apresentada para votação hoje envolve a reestruturação financeira do passivo da sociedade, através de uma operação harmónio: a redução do capital social da empresa para zero euros e no aumento do capital social até ao máximo de 2,5 milhões de euros.
A têxtil Flor do Campo, empresa de fiação, tecelagem e acabamentos que empregava 400 trabalhadores, em S. Martinho do Campo, está parada há três anos na sequência dos pedidos de suspensão ou rescisão dos contratos então apresentados pelos funcionários, após vários meses de incumprimento no pagamento dos salários.
Os trabalhadores apresentaram também, há mais de dois anos, um pedido de insolvência por “não verem futuro” para a empresa, mas o despacho de prosseguimento da acção apenas viria a ser emitido pelo Tribunal Judicial de Santo Tirso, em 2008.
Foi então nomeado um administrador judicial para a Flor do Campo, que apresentou aos credores um plano para viabilização da empresa em Dezembro de 2008.
No total, as dívidas da Flor do Campo rondam os 53 milhões de euros, sendo cerca de 20 por cento relativa aos créditos dos trabalhadores.
Público.pt - 20.10.09
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
1 comentário:
Parece-me curioso como pessoas que estão desempregadas com o subsidio de desemprego a acabar rejeitar uma proposta de poder ter emprego e ainda receber 30% de um valor que dificilmente receberão em Liquidação.
É interessante ver o sindicato a defender não o emprego mas sim o fecho de mais uma fábrica.
Seria interssante fazer uma análise caso a caso das motivações que levam a alguém mandar liquidar em vez de garantir os postos de trabalho. Quando a qualquer momento se aquele plano não for cumprido pode ser pedida nova insolvência.
Enviar um comentário