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22/06/2009

Alimentos para carenciados são insuficientes para as necessidades

O Centro Porta Amiga, da AMI, no bairro Amarelo, Monte de Caparica, não tem como responder aos crescentes pedidos de ajuda alimentar por parte dos habitantes do bairro: "São insuficientes em quantidade e em diversidade", reconhece a directora.

Passa pouco das 9h30. À porta do centro há dezenas de pessoas à espera, umas sentadas, outras de pé. É dia de distribuição de géneros alimentares.

Maria da Luz Cachapa, directora técnica do Centro, afirma à agência Lusa que, "devido ao exponencial aumento da procura, é impossível ao Centro manter a regularidade semanal que a distribuição de géneros tinha".

"Actualmente as pessoas vêm de três em três semanas. Atribuímos senhas aos utentes, para que a distribuição esteja controlada e possamos ser justos com todos", explica.

"Os alimentos são insuficientes. Estamos a repartir por muito mais pessoas o mesmo número de alimentos", acrescenta.

Américo Godinho, 52 anos, está desempregado há três anos. Afastou-se da família e "não tem ninguém que lhe valha". Recorre à ajuda alimentar da AMI desde o mês passado.

"A minha vida está do avesso", conta. "Perdi a casa, perdi a minha família e não consigo sequer pagar o passe para procurar emprego", conta.

"Aqui, deixam-me tomar banho todos os dias e dão-me um saco ou dois com alimentos, depende do que há".

Américo Godinho garante que o que leva daqui não é suficiente para se alimentar até à data em que regressa, a meio do próximo mês: "O que levo daqui não me chega nem para uma semana, quanto mais para um mês!", afirma.

"Passo muita fome, muita fominha. Há dias em que o desespero com a fome é tanto que só me apetece deitar-me e esperar que a morte me leve, não vejo outra solução", termina.

A directora técnica sublinha ainda o problema da falta de diversidade dos géneros que chegam ao centro: "Temos pouca diversidade de alimentos. Não temos carne e peixe para dar, o que é lamentável. Damos, com mais frequência, arroz, massas, leite, pão, frutas ou vegetais".

Júlia São Pedro, 68 anos, tem a seu cargo uma neta de 12 anos, e, para se governar, uma reforma de 200 euros. Procura a ajuda alimentar da AMI há 13 anos.

"Venho pela comida e pelo carinho. É claro que a comida não chega. Vimos cada vez mais de longe a longe, e é um saquinho. Umas couves, umas frutas" mas "não é disso que a gente se alimenta", afirma.

"Mas aqui dão-nos o que têm. E quem dá o que tem a mais não é obrigado", termina.

Maria da Luz Cachapa afirma que os pedidos de ajuda alimentar vêm cada vez mais da classe média que não resistiu à crise: "Muitas pessoas que vêm procurar a nossa ajuda estão numa situação em que têm que optar entre comprar comida e pagar a renda de casa", conta.

"É visível a relação entre o aumento dos casos de desemprego e o aumento drástico da procura de géneros alimentícios", termina.

Cada um dos utentes levou para casa uma senha com a data em que pode voltar a vir buscar alimentos. Daqui a três semanas cá estarão, de novo, "a esperar pelo que houver, mesmo que sejam migalhas".

Os alimentos que o Centro Porta Amiga da AMI distribui pelos moradores dos bairros que o circundam são provenientes das campanhas do Banco Alimentar contra a Fome, do Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAC), e de alguns particulares.

A distribuição de géneros alimentares do Centro Porta Amiga da AMI do Monte de Caparica chegou, em 2008, a 540 pessoas.

A AMI está em Almada desde 1996. Em Dezembro de 2008 tinha perto de 4 000 pessoas inscritas no seu centro.

Público.pt - 22.06.09

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