Mil milhões de pessoas em todo o mundo não têm condições para se alimentarem, situação agravada pela crise de um sistema que não só não resolve os principais flagelos da humanidade, como os tem vindo a agravar.
Segundo dados provisórios divulgados sexta-feira, 19, pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) – o relatório final da Agência para o ano de 2009 só deverá ser apresentado em Outubro –, o número de famintos ao nível mundial ultrapassa os mil milhões de pessoas. Esta cifra traduz um aumento em mais de 100 milhões face aos números apurados em 2008 e bate todos os recordes anteriores, isto é, nunca desde que se elaboram estatísticas sobre a matéria existiram tantas pessoas a passar fome.
A FAO diz que o problema agravou-se a partir de meados dos anos 90 em todas as regiões do planeta, exceptuando na América Latina e Caribe, onde, ainda assim, as consequências da actual crise capitalista mundial estão paulatinamente a anular os progressos alcançados nas últimas duas décadas. Por oposição, o Médio Oriente é uma das regiões onde a fome registou um maior crescimento no último ano.
Por áreas do globo, o maior número de famintos, 642 milhões, 63 por cento do total, concentram-se na Ásia e Pacífico, seguindo-se a África subsaariana, 265 milhões, a América Latina, com 53 milhões, o Médio Oriente e o Norte de África, 42 Milhões, e os países mais industrializados, com 15 milhões. A maioria dos seres humanos que consomem menos de 1800 calorias diárias reside em países considerados em vias de desenvolvimento, acrescenta a FAO.
Para aquela agência da ONU, o problema não está na escassez agrícola, pelo contrário, as previsões apontam para um dos melhores anos de colheitas de sempre. A questão, diz a organização, reside na conjugação explosiva dos aumentos no preço dos alimentos, das matérias primas e dos combustíveis em todos os países. «Não há falta de comida, há é falta de poder de compra», conclui o secretário-geral da FAO, Jaques Diouf.
No final de 2008, o preço dos alimentos era em média 24 por cento superior ao estabelecido dois anos antes. Nos países mai pobres, esta diferença chega aos 80 por cento.
O desemprego e a pressão exercida pelo capital sobre os salários, factores que empurraram milhões de pessoas para a pobreza e a indigência, são também considerados centrais nos valores avançados pela FAO. De acordo com indicadores difundidos recentemente pela OIT, até ao final deste ano o número de desempregados ao nível mundial vai variar entre os 210 e os 239 milhões, ou seja, mais 59 milhões que em 2007 e um número jamais observado.
A diminuição da ajuda dos países ricos aos homólogos pobres e dependentes é, finalmente, outro dos factores que contribui de forma determinante para o aumento do número de famintos, aduz a FAO.
Recorde-se que no ano passado em Roma, a organização recebeu promessas de correcção do volume das doações por parte das nações e blocos capitalistas, palavras que estão ainda por concretizar.
Crise está para durar
Acrescem aos dados avançados a semana passada pela Agência das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, os números apurados pelo Banco Mundial. Segundo aquela estrutura, o Produto Interno Bruto Mundial deverá cair cerca de 3 por cento em 2009, mais 1,25 pontos que o previsto no transacto mês de Março. Europa e Ásia sofrem contracções de quase 5 por cento, diz o BM.
Contrariamente ao ano passado, quando as economias dos países «emergentes» compensaram o abrandamento económico nos países dominantes – cresceram 5,9 por cento funcionando como escape para a reprodução de capital – este ano estima-se que aquelas não ultrapassem um crescimento do PIB na ordem de 1,2, contribuindo, para tal, a diminuição em quase 50 por cento do total de investimentos nas economias em vias de desenvolvimento ou nas economias mais débeis. Pelos cálculos do BM, em cerca de 90 por cento dos países em vias de desenvolvimento serão necessários créditos que ultrapassam, no total, um milhão de milhões de dólares.
Nestas contas não entram a Índia e a China, que se estima continuarão a crescer, este ano, em 5,8 e 7,2 por cento, respectivamente. Esta última deverá, apesar dos efeitos da crise, ultrapassar brevemente o Japão como a segunda economia mundial. O cenário é admitido pelo próprio governo nipónico e pelo Fundo Monetário Internacional.
Aumento do desemprego, da pobreza e das carências alimentares são algumas das consequências que o presidente do BM, Robert Zoellick, admite virem a atingir com particular severidade os povos, particularmente os dos países mais pobres.
Avante - 25.06.09
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