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24/06/2009

Destruídos mais de 300 postos de trabalho num só dia em Portugal

Não foram precisas sequer 24 horas. Em menos de um dia, três fábricas portuguesas deram sinais de que a crise vai mesmo de Norte a Sul do país e colocaram mais de 300 pessoas no desemprego ou, pelo menos, sob ameaça directa do mesmo.

A empresa têxtil Mateus e Mendes de Castelo Branco fez a estreia, ao anunciar o despedimento das suas 150 trabalhadoras. O exemplo foi seguido pela fábrica de calçado Evasion, no concelho de Santa Comba Dão, que fechou ontem portas, arrastando para o desemprego 30 pessoas. E, a completar o quadro, a Pioneer quer encerrar as suas actividades no Seixal, colocando outras 127 pessoas no desemprego.

Em declarações ao PÚBLICO, Acácio Santos, porta-voz da Pioneer Technology Portugal (PTP), adiantou que "a intenção da empresa é encerrar a produção de auto-rádios no final de Outubro". Cerca de 127 dos 136 trabalhadores efectivos irão ficar desempregados, mas o número total de perdas de postos de trabalho deverá ser maior, visto que a PTP emprega mais de uma centena de trabalhadores de agências de trabalho temporário.

De acordo com o porta-voz da empresa, "apenas nove postos de trabalho ficam garantidos", todos eles da divisão de electrónica automóvel, que presta serviços de controlo de qualidade, apoio ao cliente e serviços logísticos relacionados com o fornecimento de mecanismos de CD para outros fabricantes de auto-rádios em Portugal. Segundo Acácio Santos, este negócio irá manter-se, apesar do fecho da produção, visto que "há contratos até 2012".

Já no caso das fábricas de Santa Comba e de Castelo Branco, nenhum trabalhador irá restar para contar a história. A Mateus e Mendes, que estava já parada há duas semanas, sem encomendas, tem um processo de insolvência em curso, devendo apresentar nas próximas semanas uma proposta de recuperação. Quanto à fábrica de calçado Evasion, "tinha encomendas, mas apresentava dificuldades em pagar ao fisco e à segurança social", explicou à agência Lusa o presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, João Lourenço.



Pioneer reúne com sindicato

No caso da Pioneer, o plano de encerramento deve-se sobretudo à "redução drástica do mercado europeu de auto-rádios, agravada pela crise mundial do sector automóvel", que fez a empresa enfrentar um "decréscimo constante da sua produção", explicou a PTP em comunicado.

Há apenas cinco meses, a fábrica do Seixal tinha conseguido sobreviver à vaga de dez mil despedimentos e do fecho de 30 unidades de produção pelo mundo inteiro, decidida pela casa-mãe no Japão, na sequência do abandono do mercado dos televisores. Contudo, o adensar da crise no sector automóvel decretou a sentença de morte da PTP.

"Em 2006/2007, as vendas de auto-rádios da Pioneer na Europa cifravam-se em 1200 milhões de euros mas, este ano, prevê que não ultrapassem os 516 milhões", disse ao PÚBLICO o porta-voz da empresa, adiantando que a fábrica do Seixal é a única do grupo japonês na Europa. No ano passado, os prejuízos da Pioneer em Portugal chegaram aos 3,4 milhões de euros, fruto da queda nas vendas aos fabricantes mas também das vendas ao público final.

Além de ser fornecedor de primeira linha da construtora automóvel sueca Saab, a PTP concentra a maioria da sua produção no mercado de reposição de auto-rádios, um segmento que já há muito tempo deixou de ser o que era. "A queda das vendas não tem só a ver com a concorrência dos fabricantes asiáticos e com a actual crise mas também com a própria mudança dos consumidores, que deixaram de comprar auto-rádios de marca e passaram a contentar-se com os que já vinham instalados no seu automóvel", explicou o porta-voz da empresa.

Consciente deste problema, o Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas (SIESI) tinha vindo a pedir a reorientação da actividade da fábrica do Seixal. "Queríamos saber qual a capacidade da fábrica de colocar outros produtos", explicou ao PÚBLICO Paulo Ribeiro, do SIESI. "No dia 2 estivemos reunidos com a administração, que disse que estava a ser feito um estudo por uma empresa de consultoria sobre a situação da fábrica", adianta.

O SIESI vai estar hoje à tarde reunido com a administração da PTP, onde "vai tentar perceber o que se passa", embora reconheça que, "por ser uma decisão estratégica da empresa, torna-se difícil voltar atrás".

Ainda assim, Paulo Ribeiro considera que a intenção ontem anunciada pela Pioneer contraria o que está a acontecer com outras empresas do ramo em Portugal. "Os nossos concorrentes estão a recuperar, pedindo aos trabalhadores que trabalhem horas extraordinárias e levantando o lay-off", explica.

O SIESI pediu já também uma audiência aos ministérios do Trabalho e da Economia para discutir a situação da Pioneer, defendendo que o "Estado português tem de ver o que se passa, visto que apoiou financeiramente a Pioneer a estabelecer-se em Portugal".
Publico.pt - 24.06.09

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