A diferença de salários entre homens e mulheres está a aumentar nas profissões qualificadas, alerta Virgínia Ferreira, socióloga e coordenadora de um livro que celebra os trinta anos da lei da igualdade em Portugal.
Nas últimas três décadas houve mudanças evidentes na relação das mulheres com o mundo laboral, mas nem todas são positivas. "Os diferenciais salariais têm tido uma evolução muito lenta", declarou à Lusa a socióloga do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Para Virgínia Ferreira, a situação deve-se, em parte, à segregação do mercado de trabalho quanto à presença de mulheres nos diferentes sectores de actividade, "fenómeno que se tem agravado ao longo destes 30 anos".
Ou seja, apesar de haver muito mais mulheres no mercado de trabalho, estas tendem a ingressar em profissões já de si com uma elevada taxa de feminização, destacando-se sectores como os serviços pessoais e domésticos, apoio à vida familiar ou restauração, com baixas remunerações. "Existem cada vez mais mulheres em profissões que exigem diplomas de ensino superior, mas o peso das profissões pouco qualificadas no total é muito grande", salientou a docente.
Por outro lado, as disparidades salariais entre profissionais qualificados, com diplomas de ensino superior, têm aumentado, "o que ainda é pior". Virgínia Ferreira cita o exemplo de um estudo sobre a banca que acompanhou a progressão de homens e mulheres recém-licenciados e sem experiência profissional, contratados na mesma altura, e concluiu que, cinco anos mais tarde, eles já ganhavam mais do que elas.
"As características do mercado de trabalho em Portugal valorizam a permanência no local de trabalho, em detrimento de produtividade, bem como a disponibilidade para trabalhar além do horário de trabalho e uma maior mobilidade que está mais associada à mão de obra masculina", justifica.
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