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15/08/2010

A regra e a sua excepção

Jorge Cordeiro

Da maré de estudos e análises, sempre acompanhados das devidas projecções e correspondentes previsões que a partir dos centros de gestão capitalistas vão brotando, deu à costa novo exemplar. Este da OCDE, concebido a partir de uns denominados indicadores dos ciclos económicos que, sujeitos a apurado exame e científico escrutínio por um não pouco numeroso lote de credenciados investigadores económicos, conduziu à tão trabalhosa quanto surpreendente conclusão de que «os próximos meses vão ser difíceis». Sem desprimor para o labor investido em tão apurado estudo, sempre se dirá que com mais rudimentares recursos, sem conhecimentos em fórmulas ou equações e por mera empírica constatação de vida, já um lote imenso de leigos em matéria económica havia alcançado tal coisa. Em regra bastaria olhar para o que resta de salário a meio do mês, examinar o cabaz das compras necessárias e olhar para o fundo que foi possível cobrir, sentir o peso do crédito nos orçamentos familiares disponíveis ou conhecer a angústia da ausência de rendimentos entre os que continuam sem ter acesso a emprego para se dispensar o que, em tom de sentença, a OCDE concluiu. Ficou dito em regra, para lhe poder juntar a excepção que como é sabido, e não menos provado, toda aquela tem para poder ser o que é. É que a verdade incontestável dos tempos difíceis que a OCDE pressagia para muitos, teima em não se aplicar para alguns. A venda recorde de carros de luxo em Portugal aí está para provar que não há crise que chegue a um mercado que, não oferecendo exemplares a preço inferior aos 150 mil euros, apresenta no primeiro semestre deste ano o expressivo aumento de vendas superior a 50%. Para não juntar o que mais se podia juntar para dar excepção à regra, sempre se prevenirá que é precisamente por detrás de ardilosas conclusões, feitas regra, como a agora revelada pela OCDE que se impõem as políticas dominantes do capital sob as quais germina a concentração e opulência dos lucros e da riqueza.

http://www.avante.pt/pt/1915/opiniao/110066/

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