As três maiores centrais sindicais das Honduras decidiram iniciar a preparação de uma greve geral. O protesto tem por base a exigência de aumentos salariais e a recusa da nova norma que rege os vínculos temporários, e soma-se à luta empreendida pelos professores.
Depois de uma reunião, ocorrida em San Pedro de Sula, no final da semana passada, e participada por mais de 300 dirigentes e activistas sindicais, a Central Geral dos Trabalhadores, a Confederação dos Trabalhadores e a Confederação Unitária dos Trabalhadores das Honduras decidiram iniciar os preparativos para a convocação de uma paralisação total no país.
Caso o executivo liderado por Porfirio Lobo não responda às reivindicações salariais dos trabalhadores, a jornada, que goza do apoio da Frente Popular de Resistência (FPR) e do Bloco Popular, pode ocorrer já no próximo sábado.
Para além das remunerações, demasiado baixas face ao custo dos bens essenciais, em causa está igualmente a nova Lei do Trabalho Temporário, que as estruturas representativas dos trabalhadores dizem pôr em causa a estabilidade laboral e direitos e regalias como as férias pagas, a licença de maternidade e determinados mecanismos de protecção social dos trabalhadores. Acresce que a disposição atenta contra o Código do Trabalho em vigor, dizem os sindicatos.
Professores não desistem
Em greve estão já há mais de uma semana os professores hondurenhos, os quais reclamam o pagamento de uma dívida que ascende a 160 milhões de dólares, acumulada pelo governo a título de pensões e reformas, e de outro calote relativo aos salários atrasados de mais de 3500 docentes.
Os professores também exigem a readmissão de 17 directores provinciais e municipais, despedidos das suas funções, e a revogação da nova legislação para o sector, que prevê a privatização das escolas formadoras de professores.
Porfirio Lobo ordenou aos professores que «vão dar aulas» em vez de fazerem greve e ameaçou não só não pagar o salário aos que integram aquela forma de luta, mas substituí-los por docentes que querem trabalhar. As palavras do presidente ilustram, por si só, o carácter grosseiro do governante, mas a repressão que se abateu sobre os professores demonstra, para mais, a natureza fascizante do regime que lidera.
Durante as negociações entre governo e representantes dos professores, a semana passada, milhares marcharam para junto do hotel onde decorriam as conversações. Ali chegados, deparam-se com um forte dispositivo policial.
A concentração na capital, Tegucigalpa, acabou por degenerar em confrontos quando o executivo enviou um reforço militar para a porta do Hotel Honduras Maya, desencadeando a fúria dos manifestantes que lembravam estar fartos de mentiras e de repressão.
Entretanto, o governo comprometeu-se a pagar 94 milhões de dólares até 31 de Dezembro próximo, mas os professores não apenas não acreditam em mais uma promessa como sublinham que a dívida é muito superior. Neste contexto, decidiram manter a paralisação.
Assassinatos e ameaçasParalelamente às movimentações de massas, nas Honduras prossegue a eliminação física dos dirigentes políticos e sociais. Teresa de Jesús Flores Elvir, de 52 anos, mãe de 14 filhos e dirigente da União dos Trabalhadores do Campo (UTC), é a mais recente vítima.
O corpo de Teresa Elvir foi encontrado sem vida a 35 quilómetros da cidade de Siguatepeque, no Centro do país, apresentando evidentes sinais de tortura. A dirigente camponesa responsável por vários colectivos locais e nacionais terá sido executada a tiro.
Carlos H. Reyes, da Frente Popular de Resistência, qualificou este como mais um crime político, o qual se soma ao assassinato, este ano, de nove jornalistas, e de outros cerca de 40 membros da FPR desde o golpe de Estado. Pelo menos 5 jovens foram abatidos nas manifestações populares e mais de três mil pessoas foram detidas e interrogadas.
Os trabalhadores dos órgãos de comunicação social nas Honduras têm sido, desde o início do golpe de Estado, um alvo a abater. Ainda recentemente, a jornalista Mayka Antúnez, da Radio Globo, recebeu ameaças de morte depois de ter questionado o presidente golpista, Roberto Micheletti, sobre as violações dos direitos humanos no território após o derrube do presidente eleito, Manuel Zelaya.
http://www.avante.pt/pt/1916/internacional/110145/
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