Os 321 trabalhadores da Delphi da Guarda regressaram ontem, segunda-feira, ao trabalho pela última vez e alguns não esconderam revolta e angústia depois da administração anunciar que a empresa vai fechar no final do ano. Um regresso com sabor amargo.
Para Horácio Antunes, um dos trabalhadores, não podia haver pior regresso de férias na fábrica da multinacional de cablagens para automóveis. "Já sabemos aquilo pelo que vamos passar: é quase como os animais que vão para o matadouro, mas é a vida", disse, à entrada da fábrica. "É uma desilusão, mas temos que a enfrentar. Temos que ser fortes e aguentar isto", sublinhou.
No entanto, reconhece que, por mais forças que tenha, o encerramento da fábrica tira-lhe o sono. "É muito complicado. À noite, em vez de dormir, fico a pensar no que será da nossa vida. Acho que ainda não conseguimos assimilar isto como uma realidade". Para aquele trabalhador, há a certeza de que, por mais indemnizações que sejam pagas, as dificuldades vão bater à porta. "Não sei o que vai ser de nós. Num ano ou dois esgota-se tudo e ainda por cima vamos para a rua numa época em que, algum emprego que houvesse, já estará ocupado".
Fausto Monteiro, outro trabalhador, quer deixar a Delphi para trás das costas o quanto antes. "Não há nada a fazer: não há futuro. É tempo de procurar outras coisas, o mais depressa possível, e esquecer isto", destacou, mostrando-se descontente com o valor das indemnizações que está negociado, mas não acredita que haja volta a dar. "Queria mais do que estão a oferecer, mas infelizmente já está definido. Agora já é tarde", concluiu.
Dois salários por ano
O valor da indemnização que está em cima da mesa é de dois meses de salário por cada ano de trabalho, sendo que "a média ronda os 10 a 11 anos de trabalho", disse Vítor Tavares, delegado sindical. Administração e Sindicato das Indústrias Transformadoras e da Energia (SITE) voltam a reunir-se em nova ronda negocial no dia 24, e aquele responsável pretende chegar a um valor mais alto.
"Os trabalhadores acham que merecem mais, porque sentem-se revoltados e enganados pela administração: disseram que os últimos despedimentos iam acontecer para viabilizar a empresa, mas afinal ainda nem passou um ano e a empresa vai encerrar", sublinhou.
Segundo Vítor Tavares, estão a ser produzidas na fábrica da Guarda cablagens para a Ferrari e Maserati que vão passar a ser feitas em Castelo Branco, e outras cablagens ainda de carros em fim de vida que vão passar a ser fabricadas na Polónia.
http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Guarda&Concelho=Guarda&Option=Interior&content_id=1642557
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