No primeiro trimestre, a economia portuguesa foi a que teve um crescimento mais forte em cadeia tanto na zona euro como na União Europeia (UE). Entre Abril e Junho, o cenário mudou radicalmente. Enquanto a zona euro cresceu ao ritmo mais rápido desde 2006, o Produto Interno Bruto (PIB) nacional voltou a crescer próximo de zero, registando a quarta pior performance da Europa. Até ao final do ano, as previsões são que a economia continue a abrandar devido à quebra do consumo privado, que será penalizado pelas medidas de austeridade postas em marcha pelo Governo.
Segundo dados preliminares divulgados ontem pelo Eurostat e pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a economia portuguesa cresceu 0,2 por cento no segundo trimestre face ao trimestre anterior, ficando distante da média de crescimento da zona euro e da UE - um por cento. Isso coloca Portugal com a quarta pior performance em cadeia entre os 18 países com dados disponíveis, ficando apenas atrás da Grécia (que contraiu 1,5 por cento), Hungria (que estagnou) e Letónia (que cresceu uns ligeiros 0,1), e ao mesmo nível de Espanha.
Comparando com o mesmo período do ano passado, os resultados são melhores. A economia portuguesa cresceu 1,4 por cento, ainda assim abaixo da média da zona euro e da UE (1,7). A empurrar a expansão europeia esteve sobretudo a economia alemã, que cresceu ao ritmo mais rápido de duas décadas, graças não só à recuperação da procura mundial, mas também ao facto de o euro já ter desvalorizado mais de dez por cento face ao dólar este ano, tornando as exportações mais competitivas fora da zona euro.
O primeiro-ministro, José Sócrates, saudou ontem o que considerou serem "boas notícias" para Portugal e para a Europa. Para o governante, o valor de crescimento do PIB é "um número bom", que representa "o dobro daquele que estava nas estimativas que o Governo previu para o primeiro semestre".
Contudo, segundo os analistas, dificilmente Portugal repetirá na segunda metade do ano os números do primeiro trimestre, em que o PIB cresceu um por cento em cadeia e 1,8 em termos homólogos.
"A economia vai abrandar na segunda parte do ano, à medida que se for sentindo o impacto das medidas de austeridade", disse ao PÚBLICO Teresa Gil Pinheiro, do BPI. Do mesmo modo, João Borges, coordenador do Núcleo de Estudos da Conjuntura Económica Portuguesa da Universidade Católica, afirmou à Lusa que "o segundo semestre terá um crescimento bem inferior ao do primeiro, quando se começar a sentir na economia o impacto negativo das medidas de natureza fiscal".
Exportações são o motor
Para Teresa Gil Pinheiro, a dinâmica de compra de bens duradouros (sobretudo automóveis), que impulsionou a procura interna e o crescimento económico no primeiro trimestre, está esgotada. Dados da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) mostram que as vendas de ligeiros de passageiros só já aumentaram 18,3 por cento em Julho face a 2009, enquanto no primeiro semestre tinham subido, em média, 57,7 por cento por mês. Paralelamente, segundo a analista do BPI, o crescimento das importações no segundo trimestre terá também contribuído para a desaceleração, "ao reduzir o contributo da procura externa para o aumento do PIB".
Por outro lado, o desemprego elevado e o contexto de incerteza económica já originaram quebras no consumo. Dados do Banco de Portugal mostram que o consumo privado tem vindo a diminuir desde Abril, acompanhado pela confiança dos consumidores, que atingiu em Junho o pior nível de sempre face à média da zona euro.
Segundo Filipe Garcia, da Informação de Mercados Financeiros (IMF), isso reflecte o impacto que a crise da dívida soberana teve sobre Portugal (ver texto em cima). Para o futuro, as perspectivas não são animadoras. "O consumo privado não vai crescer, o consumo público terá de recuar e o investimento estará deprimido", disse ao PÚBLICO. Para o analista, a procura externa será, daqui para a frente, o grande motor do crescimento. Mas isto se a Europa ajudar.
Embora os dados ontem divulgados pelo Eurostat exibam o melhor crescimento da zona euro dos últimos quatro anos, há receios a refrear o optimismo. Os últimos indicadores mostram que a produção industrial recuou em Junho nos 16 países da moeda única e que está também a abrandar nos Estados Unidos e na China. Isto poderá vir a prejudicar as exportações, que têm sido o grande motor do crescimento da Alemanha, a qual, por sua vez, tem puxado por toda a economia europeia.
Sem as exportações, seria o consumo das famílias e o investimento das empresas a ter de impulsionar a economia, mas poucos esperam que a solução venha daqui, devido ao impacto dos planos de austeridade lançados por vários governos europeus, entre os quais o da própria Alemanha, que tem início no próximo ano. Num cenário destes, Portugal, sem margem de manobra para se apoiar no consumo, dificilmente teria na Europa uma forma de contrabalançar a sua economia enfraquecida.
http://economia.publico.pt/Noticia/economia-arrefeceu-e-pode-congelar-ate-ao-final-do-ano_1451340
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