Por ocasião da sua participação na conferência "Mudanças nas Universidades Americanas", que hoje decorre na Fundação Luso-Americana, em Lisboa, a socióloga Gaye Tuchman disse à Agência Lusa que devido à perda de apoios estatais, "cada vez mais universidades públicas norte-americanas têm vindo a ser forçadas a estabelecer acordos com grandes corporações para garantir o seu financiamento".
Uma situação, que, segundo esta socióloga da Universidade de Conneticut, "já se nota há cerca de uma década - altura em que os estabelecimentos públicos começaram a perder grande parte dos apoios", mas que tem vindo a "piorar nos últimos dois anos devido à crise económica financeira mundial".
"Essa necessidade de acordos influencia a qualidade de ensino e a investigação desenvolvida, que passou a ser mais orientada para uma investigação paga, assim como faz aumentar as propinas, levando a que muitos alunos de poucos recursos já não consigam frequentar o ensino publico e, dessa maneira, se desperdice talento", criticou.
Segundo Gaye Tuchman, autora do livro "Wanabe U - Inside the University Corporation", a qualidade do ensino superior público é posta em causa "devido à maior influência que os administradores têm na elaboração dos currículos, interferência que 'desprofissionaliza' os professores, que têm cada vez menos a dizer".
Em relação à investigação, a socióloga explica que o problema "prende-se com o facto de os estabelecimentos 'puxarem mais' para investigações com finalidades práticas, ou seja, projectos das quais podem ser desenvolvidas patentes e criados produtos pelas empresas".
"Isto tem uma enorme influência sobre o tipo de pesquisa que os investigadores vão querer fazer", denunciou.
Criticou também o facto de as universidades públicas nos EUA, que "funcionam cada vez mais numa lógica empresarial e não como estabelecimentos preocupados com o ensino", façam tudo para "agradar aos seus estudantes, por exemplo, através do investimento em complexos desportivos, em detrimento de outros".
Essa situação resulta da lógica - "se se cobra aos alunos, há também que agradá-los" lamentou a especialista, que afirmou "desconhecer a situação do Ensino Superior em Portugal".
Na conferência estará também presente a reitora da Universidade de Aveiro, Maria Helena Nazaré, que vai comentar a intervenção de Gaye Tuchman, procurando complementar com o que está a acontecer nas universidades em Portugal.
"Vou centrar-me no que mudou em Portugal nos últimos dez anos, em termos da organização do ensino superior e das suas instituições. Apesar de haver pontos semelhantes, não há uma convergência de modelos", considerou, salientando, contudo, que os constrangimentos dos dois sistemas na última década foram "algo semelhantes", nomeadamente ao nível "do fenómeno de massificação, constrangimentos económicos e necessidade que as universidades participem no desenvolvimento económico das suas regiões".
Destak.pt - 20.10.09
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