À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

02/07/2009

Curto-circuito no túnel do capital

Jorge Messias

O Fundo Monetário Internacional e outras instâncias capitalistas lá vêm dizer, de vez em quando, que «há indícios de retoma» e que «a luz brilha ao fundo do túnel». Os factos e os números desmentem totalmente este optimismo de conveniência.
A economia não retoma, as finanças não reequilibram, o desemprego não cessa de crescer, anuncia-se ser inevitável que os preços dos bens de primeira necessidade aumentem e que novos impostos surjam. Os panoramas são catastróficos.
Os números previstos para o desemprego pela OCDE e as declarações optimistas dos seus responsáveis que declaram acerca da crise «o pior já passou», são incompatíveis entre si. Para 2010, o número de desempregados que a organização prevê para os 30 países da OCDE é de 57 milhões de trabalhadores! A miséria e o endividamento público vão continuar a crescer, sobretudo nos países pobres. A inflação dos preços, sobretudo dos combustíveis e dos bens de primeira necessidade, agravar-se-á. Mas, em contracorrente, a OCDE insiste: «o pior já passou»!
Quanto a Portugal, país pequeno e pobre, o panorama é ainda mais negro. Em 1999, a dívida externa atingiu um valor correspondente a 97,2% da riqueza gerada no ano anterior. Actualmente, a dívida do país à banca mundial é de cerca de 161 mil milhões de euros. As dívidas que envolvem o «crédito malparado» aumentaram 30% num só ano e continuam a engordar como «bola de neve». Os contratos para compra de habitação caíram a pique: em seis meses (de Janeiro a Junho) o tombo foi de 66%.
Quanto ao número real de desempregados portugueses, a OCDE prevê que em 2010 eles atinjam o número de 650 000 inactivos forçados. O Estado português aproxima-se da situação de «economia tecnicamente falida». E quanto à crise, «ainda a procissão vai no adro».

Negócios do Estado e negócios da Igreja

Por entre as névoas desta noite escura continuam a desenvolver-se negócios e projectos megalómanos. TGV, auto-estradas, barragens, energia eólica, são simples exemplos de uma publicidade vazia que na maioria dos casos não passará da palavra e do papel. Outros negócios, no entanto, devem despertar no povo resistências, cuidados e preocupações. É o caso do regresso ao primeiro plano de novas tentativas de conquista da concentração do poder na comunicação social.
A PT descobriu que tem vocação televisiva e está frustrada. Quer comprar uma TV, dominar a área dos «conteúdos» e liderar o sector da comunicação social. Escolheu como alvo a TVI, a televisão da Igreja. É isto o que afirma a própria PT. De resto, pouco se sabe quanto ao que se está a passar nos bastidores da televisão. O segredo é a alma do negócio. Do que vem a lume ressalta que os principais comparsas do espectáculo são o Estado (Governo), a Banca (bancos e fundações) e a Igreja (TVI).
Uma coisa é certa: esta tentativa napoleónica da PT repete, quase passo por passo, o plano desenvolvido no ano 2000 pela mesma PT no sentido de comprar os capitais da Lusomundo e conquistar a hegemonia na imprensa escrita. Era primeiro-ministro de então Cavaco Silva, hoje Presidente da República. A grande maioria dos nomes dos actores deste negócio encoberto de domínio da televisão também estiveram presentes no negócio da Lusomundo que visava, sobretudo, o domínio da comunicação social escrita. A questão da Lusomundo desenvolveu-se entre finais do século XX e inícios do século XXI. Mas a dura batalha que terminou com a atribuição de um canal à Igreja vem de, pelo menos, vinte anos atrás. Envolveu importantes forças sociais, sobretudo a banca então florescente, como o BCP e, sobretudo, mobilizou Patriarcado e Opus Dei.
No caso presente, Sócrates afirmou na Assembleia da República nada saber sobre o assunto. Nítida mentira visto que logo se descobriu ter sido a condução das operações tema de conversações entre Sócrates e Zapatero. E a existência de um capítulo secreto espanhol também nos deve alarmar. Começa a referir-se agora estar em curso, em Espanha, um projecto televisivo semelhante, envolvendo o Estado, a Iberdrola, a Prisa e várias outras forças dominantes do regime. Aquilo que, confinado a Portugal, talvez pareça a muitos de nós problema pequeno e indiferente, poderá transformar-se numa questão de hegemonia no sector na comunicação social ibérica.
As eleições estão à porta. A crise económica e financeira parece incontrolável.
Por toda a parte estoiram os escândalos políticos e financeiros. São achas para a fogueira da temida «explosão social». É necessário e urgente – pensam os banqueiros – conquistar para os ricos o controlo dos órgãos de comunicação. Só assim (e de braço dado com a Igreja) se poderá manipular e convencer as massas.
Avante - 02.07.09

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