A Confederação Sindical Coreana (CSC) organizou, a semana passada, uma greve de apoio aos trabalhadores sul-coreanos que ocupam, desde Maio, a fábrica da Ssangyong Motors em Pyeongtaek.
Para além da paralisação solidária, muitas das organizações filiadas na CSC responderam à greve de fome junto ao parlamento, em Seul, em protesto contra as cargas policiais que procuram remover os operários das instalações da fábrica.
Os trabalhadores da Ssangyong estão em luta contra o chamado plano de reestruturação decidido pela administração, que afecta 2646 companheiros (36 por cento do total da força de trabalho).
Autênticas batalhas campais têm-se sucedido dentro da empresa e à porta das instalações, quer quando as autoridades entraram no edifício obrigando os trabalhadores a reagrupar-se no pavilhão da pintura, quer quando o sindicato metalúrgico mobilizou mais de três mil camaradas para junto da porta da fábrica, prontamente rechaçados com violência pelo corpo de intervenção.
Apesar de enfrentarem as mais duras condições – a empresa impede a entrada de comida e água nas instalações, bem como a entrada de assistência médica – e não obstante a repressão com gás lacrimogéneo e altifalantes que constantemente debitam apelos para que desistam, os trabalhadores resistem e mantêm-se firmes. A CSC considera a batalha dos trabalhadores da construtora automóvel que produz maioritariamente veículos para o mercado doméstico um exemplo no actual contexto de ataque aos direitos laborais e na defesa dos postos de trabalho no país.
Em Fevereiro, a Ssangyong declarou falência e interpôs um processo para aceder a crédito contra um plano de relançamento das suas unidades produtivas, o qual inclui a dispensa de funcionários efectivos e contratados a prazo, a imposição de reformas compulsivas, a colocação de milhares em lay-off e a contratação de empresas externas em determinados segmentos da linha de montagem, que se encontra actualmente parada, isto apesar do patronato ter tentado substituir pela força os operários em luta.
Exploração aumenta
O número de trabalhadores com contratos de pequena duração e mal pagos, embora cumprindo horário completo, tem vindo a aumentar na Coreia do Sul desde meados da década de 90, favorecendo o capital, apostado em aumentar a exploração.
O International Herald Tribune relata a história de um trabalhador que, tal tantos outros, ganhava cerca de 3 dólares por hora no sector automóvel – aproximadamente o salário mínimo – mas, ainda assim, foi dos primeiros a ser despedido, fruto da precariedade em que se encontrava. Fica claro que a redução de salário e a flexibilização das relações laborais em nada contribuem para a manutenção dos postos de trabalho, apenas aumentam os lucros do patronato.
Todos os dias o operário regressa fardado à porta da fábrica. Muitas vezes protesta em manifestações organizados pelos sindicatos e até já foi por diversas ocasiões a concentrações à porta do parlamento, onde conheceu milhares de outros trabalhadores na mesma situação.
De acordo com dados oficiais, citados pela mesma fonte, existem na Coreia do Sul 5,4 milhões de trabalhadores temporários, representando mais de um terço do total da população activa. O salário médio destes trabalhadores é de 960 dólares/mês, ou seja, 60 por cento da média salarial dos seus congéneres que ainda têm vínculos estáveis. Raramente têm direito a assistência médica ou direito a subsídio de desemprego. Muitos dos abrangidos pelos processos de lay-off são precisamente trabalhadores temporários.
Em Junho, os desempregados no país ascendiam a quase um milhão de pessoas. Na capital, Seul, o número de sem-abrigo cresce de forma assustadora e as filas das várias «sopas dos pobres» espalhadas pela cidade engrossam todos os dias.
Neste contexto, não admira que os trabalhadores da Ssangyong estejam determinados a não ceder face aos planos de reestruturação da administração.
Avante - 30.07.09
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
30/07/2009
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