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08/05/2009

Bispo emérito de Setúbal antevê sublevações em populações carenciadas

As situações de tensão como aquela que se abateu sobre o Bairro da Bela Vista, em Setúbal, traduzem a ameaça de "uma fogueira preparada para incendiar o país", sustenta D. Manuel Martins. O Bispo Emérito de Setúbal considera que o Governo deve dar uma "atenção especial" aos bairros "onde falta tudo aquilo que pode desaconselhar uma tentação de sublevação".

Nas últimas 24 horas, o Bairro da Bela Vista, na cidade de Setúbal, foi o cenário de sucessivos desacatos entre grupos de jovens e elementos da Polícia de Segurança Pública. O conflito começou na quinta-feira com uma manifestação frente à esquadra local. Os jovens juntaram-se para evocar um jovem abatido pela GNR na sequência de um assalto a uma caixa Multibanco. Durante a noite, os veículos da PSP seriam atingidos por cocktails molotov.

Os agentes recorreram a balas de borracha para dispersar os jovens que gritavam palavras de ordem contra as forças de segurança.

Esta quinta-feira, a tensão deu lugar a um tiroteio. Cerca das 17h45, três disparos efectuados a partir de uma viatura em andamento atingiram a parede da esquadra da Bela Vista. As balas não causaram vítimas, mas vieram consubstanciar o reforço policial implementado na véspera.

"Fogueira preparada"

Para o bispo emérito de Setúbal, que se dedica há mais de duas décadas aos problemas sociais da cidade, situações como a do Bairro da Bela Vista devem ser encaradas como um aviso para eventuais sublevações.

"O que eu receio e tenho repetido muitas vezes é que nestas situações possamos encontrar, num futuro próximo ou remoto, já uma fogueira preparada para incendiar o país", afirmou D. Manuel Martins em declarações à agência Lusa.

O impacto da crise, sobretudo a hemorragia no mercado de trabalho, é para o bispo emérito um caldo de tensões que pode dar lugar a uma "tentação de sublevação" em bairros com populações carenciadas. A situação, alerta D. Manuel Martins, "é má e vai piorar". O poder político deve por isso dar uma "atenção especial" às populações de bairros "mais pobres, mais desprotegidos, mais inseguros, onde não há trabalho, não há cuidados especiais de acompanhamento e, às vezes, nem sequer há habitações condignas".

"Não basta ter a polícia a tomar conta"

"Já há muito tempo que muita boa gente fala no perigo de sublevações que podem ser à partida muito pequeninas e muito localizadas e podem de um momento para o outro tornar-se generalizadas. Quem está no poder tem de ter muito cuidado e lidar com especial atenção estas situações, porque não basta ter a polícia tomar conta", propugnou o prelado.

Impõe-se, segundo o bispo emérito de Setúbal, "privilegiar estas localidades como um pai ou uma mãe privilegiam um filho que está doente ou que tem especiais carências".

"Sei que isto está a acontecer em Portugal, aqui e além, com maiores ou menores dimensões. Está a acontecer com grandes dimensões na Grécia, na França, na Itália. Já tem acontecido em Espanha e na Inglaterra e eu tenho muito medo que mesmo até inconscientemente toda aquela gente esteja a preparar, a criar terreno, para qualquer coisa de muito grave para a Europa", alerta D. Manuel Martins.

RTP - 08.05.09

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