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20/01/2011

Crónica dos acontecimentos na Tunísia: O poder das massas

Após quase um mês de protestos populares violentamente reprimidos pela polícia e o exército, o presidente da Tunísia, Zine El-Abidine Ben Ali, abandonou o país no dia 14.
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O protesto solitário do jovem comerciante, Mohamed Buazizi, em 17 de Dezembro, foi a faísca que acendeu o rastilho da revolta popular contra o regime autoritário de Ben Ali, há 23 anos no poder. Ao ver negada a devolução da mercadoria que lhe fora abusivamente apreendida pela polícia, Buazizi fez-se imolar pelo fogo frente a sede do município de Sidi Bouzid (Centro-Oeste).
O sacrifício do jovem, que viria a morrer no hospital em 5 de Janeiro, desencadeou uma sucessão de manifestações que, apesar da violenta repressão, alastraram a outras localidades, ganhando a capital, Tunes, em 27 de Dezembro.
Três dias antes, a polícia já tinha disparado balas verdadeiras sobre jovens que exigiam trabalho em Buziane, a 240 quilómetros a Sul da capital. Em Tunes, as autoridades dispersam à bastonada um milhar de jovens diplomados no desemprego. Dezenas ficam feridos.
A ampliação do movimento obriga o presidente Ben Ali a intervir, pela primeira vez, dia 28, na televisão para condenar «uma minoria de extremistas e de agitadores». Porém, no dia seguinte, anuncia uma remodelação ministerial, nomeando um novo ministro da Juventude e dos Desportos.
Mas as manifestações contra a miséria, o desemprego e a falta de liberdades continuam a envolver novas camadas da população. Em 6 de Janeiro, a classe dos advogados cumpre uma greve contra as repressões policiais.
Os confrontos intensificam-se em 9 de Janeiro nas cidades de Thala, Kasserine e Regueb. Já com 14 mortos oficialmente registados, o ministro da comunicação promete em nome do governo «corrigir o que deve ser corrigido», mas avisa que «a violência é a linha vermelha».
No dia seguinte, Ben Ali intervém pela segunda vez na televisão. Desta vez promete 300 mil novos empregos em dois anos, e o seu governo ordena o encerramento das escolas e universidades.
A violência estende-se aos arredores de Tunes. O governo admite 21 vítimas mortais desde o início dos distúrbios, mas outros dados elevam os mortos para mais de uma centena.

O interesse imperialista


Do outro lado do Mediterrâneo, o imperialismo francês teme pelos seus interesses, até aqui tão diligentemente acautelados por Ben Ali. Assim, em vez de condenar a repressão e apoiar os que lutam pelos direitos democráticos, a ministra gaulesa dos Negócios Estrangeiros, Michèle Alliot-Marie, manifestou inequivocamente o apoio da França ao regime autoritário e sugeriu mesmo colocar à disposição da polícia tunisina a reconhecida «experiência das nossas forças de segurança» para resolver «situações securitárias deste tipo». Uma intervenção que, como explicou, permitiria «agir para que o direito de manifestação possa efectuar-se ao mesmo tempo que a garantia da segurança».
Mas Ben Ali sabia que era tarde de mais. Acossado pelas massas, anuncia, dia 12, na televisão, que não disputará um novo mandato em 2014, promete liberdade de imprensa e ordena às forças da ordem que não usem as armas.

Revolta vitoriosa


Todavia, as manifestações voltam a inundar a capital e as principais cidades, agora para exigir a demissão imediata do presidente. À tarde de dia 14, Ben Ali ensaia um novo recuo: anuncia a demissão do governo e a realização de eleições antecipadas dentro de seis meses. Menos de uma hora depois decreta o estado de emergência e o recolher obrigatório entre as 17 e as 7 horas da manhã em todo o território. As manifestações são proibidas e o exército e a polícia recebem a ordem para disparar sobre qualquer suspeito.
A meio da tarde, o primeiro-ministro, Mohamed Ghannouchi, anuncia que Ben Ali está temporariamente incapacitado de exercer as suas funções e declara assumir o cargo de presidente interinamente até às eleições.
Fugindo à fúria popular, Ben Ali abandona o país com destino incerto. A França recusa-lhe entrada no território e foi a Arábia Saudita que o recebeu no sábado.
Entretanto, a suspensão temporária de funções, que lhe deixaria a porta aberta para um eventual regresso, torna-se definitiva com a nomeação pelo Conselho Constitucional de Fued Mebazaa, presidente do parlamento, para a chefia interina do Estado.
Na segunda-feira, 17, o primeiro-ministro, Mohammed Gannouchi, anunciou a libertação de todos os presos políticos e «liberdade total de informação». Na mesma comunicação, apresentou a formação de um governo de «união nacional», constituído por três líderes de partidos da oposição tolerados pelo anterior regime, e ainda oito ministros da anterior equipa governamental.
O povo continua nas ruas exigindo a dissolução do partido de Ben Ali e a demissão de todas as figuras comprometidas com o presidente deposto.

http://www.avante.pt/pt/1938/internacional/112224/

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