Os planos de austeridade devem «poupar» a luta contra o desemprego sob pena de que «uma geração inteira veja comprometidas as suas perspectivas de futuro». Tal é o alerta lançado, no dia 7, a todos os governos por Angel Gurria, secretário-geral da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico, a propósito do relatório anual «Perspectivas do Emprego», sobre a situação do mercado de trabalho nos 31 países membros.
«É preciso resistir à tentação de reduzir as prestações [subsídios de desemprego] ou de diminuir as verbas destinadas aos serviços de emprego para efectuar economias de curto prazo», afirma a organização em comunicado, onde qualifica a evolução do emprego como «muito negativa».
Embora assinale uma «estabilização» da taxa de desemprego nos últimos nove meses em torno dos 8,6 por cento, ou seja, 47 milhões de desempregados em Maio último, a OCDE não esconde que o número real de pessoas afectadas pelo flagelo deverá estar perto dos 80 milhões se se tiver em conta aqueles que já desistiram de procurar trabalho ou os que têm de se contentar com uma ocupação a tempo parcial.
Mas mais preocupante do que a evolução do desemprego ainda é «a diminuição do número de activos», considera Gurria, salientando que «entre os primeiros trimestres de 2008 e 2010, o número de empregos na zona da OCDE diminuiu em 2,1 por cento.
Em comparação com as crises anteriores, a organização afirma que se está a verificar uma modificação da estrutura do desemprego. Os jovens menos qualificados continuam a ser as principais vítimas, mas desta vez também os trabalhadores masculinos de qualificação média estão a ser muito penalizados.
Acresce que, contrariando um dos dogmas da própria OCDE, a duração do desemprego aumenta mesmo nos países onde a dita «flexibilidade» do mercado de trabalho deveria garantir uma rotação fluida entre emprego e desemprego.
Nos EUA, por exemplo, o número de pessoas desempregadas há mais de seis meses quase que duplicou entre 2007 e 2009, representando 31,5 por cento do total, o mesmo acontecendo com os desempregados «há mais de um ano», que constituem já 16,3 por cento.
Curiosamente, a OCDE faz um elogio à Alemanha e à Holanda por terem conseguido conter o descalabro do desemprego através de programas pagos pelo Estado, que permitem às empresas manter os seus trabalhadores a tempo parcial.
O relatório indica ainda que os planos de austeridade não deveriam incidir sobre a investigação e desenvolvimento, a educação, a formação profissional, sectores que serão geradores de empregos futuros. «Em vez de cortarem cegamente nas despesas, os planos de austeridade devem dirigir a despesa pública para políticas eficazes em matéria de criação de emprego», conclui a organização.
http://www.avante.pt/pt/1911/europa/109597/
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