À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

15/07/2010

Modernices

João Frazão

Sócrates, primeiro-ministro de Portugal, regozijou-se há dias por o País ser um dos que melhor aproveita as novas tecnologias. Dizia mesmo, em Abril deste ano, que «Portugal é hoje líder no governo electrónico».

Não faltou muito para se perceber as facilidades que o uso dessas novas tecnologias pode proporcionar ao País.

José Sócrates terá ouvido dizer que ali para os lados de Vouzela havia umas escolas onde, por serem poucos, os meninos e meninas não aproveitavam devidamente tais tecnologias.

Acto contínuo pediu emprestado o Magalhães (é bom não esquecer que todos os ministros o usam) que o ministro Pedro Silva Pereira utiliza desde aquela demonstração em que meninos de uma outra escola só brincaram nos portáteis enquanto o primeiro-ministro esteve por perto e entrou no messenger, para dizer à ministra da Educação que desse melhor uso a tal ferramenta.

Segundo ouvi dizer, Sócrates terá mesmo afirmado que «pelo facto dessa internet ter pouco uso Portugal pode cair para segundo lugar no ranking da electrónica mundial!»

Isabel Alçada usou o skipe para mandar determinar que tais instrumentos fossem imediatamente confiscados e colocados a uso num dos mega agrupamentos que estão a ser criados para ganhar economia de escala, até porque essas escolas de poucos meninos já não se usam e são para fechar!

Na Direcção Regional de Educação do Centro um sujeito diligente, a quem confiaram o alto estatuto de director, apesar de só escrever no teclado com o indicador da mão direita enquanto segura os óculos com a esquerda (não vá ele fazer a figura de um certo secretário de Estado há dias na AR), enviou, tão rápido quando possível, um e-mail para a empresa subcontratada em regime de outsourcing responsável pela retirada de modems cujo uso médio esteja abaixo dos limites impostos pelos ratings da Moodie's e ordenou o imediato cumprimento da determinação superior.

António, um engenheiro electrotécnico a quem calhou a sorte de um contrato por três meses na citada empresa, inseriu no GPS a localidade de Mogueirães, depois de ter confirmado duas vezes o nome, e chegou lá num saltinho. Ao fim da tarde, sem internet nessa e noutras escolas de terras de nomes esquisitos, estava o progresso, novamente, em marcha!

É tão bom sermos um País moderno!

http://www.avante.pt/pt/1911/opiniao/109605/



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