O Hospital Júlio de Matos (Lisboa) vai perder mais de metade dos psicólogos no final do mês, porque estes profissionais não podem candidatar-se a um futuro concurso da tutela que exige um estágio profissional, que é inexistente desde 2001.
Tal como explicou à Lusa a diretora de serviço do Hospital Júlio de Matos, integrado no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, "durante anos e mais concretamente nos últimos sete anos", a escassez de recursos obrigou à contratação de vários técnicos especializados.
"Foram contratados vários tipos de técnicos: enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos. Mais recentemente foi aberto concurso para enfermeiros, assistentes sociais, mas para os psicólogos não", adiantou Alice Nobre.
Alice Nobre explicou que o concurso não foi aberto por causa de um "problema" relacionado com a carreira destes profissionais.
"Tem a ver com a existência ou não de um estágio profissional, que abriu pela última vez em 2001 e posteriormente não voltou a abrir", justificou.
A situação afeta 23 psicólogos, que representam "mais de 50 por cento do total de psicólogos que existe no hospital".
"Foram autorizados os contratos destes profissionais e presentemente o contrato, que foi sucessivas vezes renovado, vai terminar no dia 31 de julho", acrescentou.
"Para os psicólogos não foi aberto concurso e no dia 01 de agosto todos eles vão estar desempregados com o argumento que não têm o dito estágio de carreira, condição para concorrerem a um concurso", acrescentou.
Mara Marques, 30 anos, é uma das profissionais que ficará desempregada, depois de sete anos ligada profissionalmente ao hospital.
Terminou a licenciatura em 2002 e como já nessa altura não havia concurso para o estágio de carreira, foi fazendo a formação por sua conta e risco.
"Em 2003 vim (ao Hospital) fazer um estágio voluntário para especialização de uma área específica, que era avaliação psicológica. Posteriormente, fiz um estágio profissional remunerado através do IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) e por necessidades da instituição fui sendo contratada até à data", contou a psicóloga à Lusa.
Contratos sucessivos, "precários", trimestrais, semestrais, o último dos quais assinado em 2008.
Nessa altura, adiantou a psicóloga, apesar de não terem o estágio de carreira, os 23 psicólogos foram reconhecidos pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e pela Administração Regional de Saúde como técnico superior de saúde, estatuto equiparado a quem tinha o estágio de carreira.
"Neste momento a ACSS não nos reconhece o estatuto que nos concedeu há dois anos e nós não podemos concorrer a um concurso que abra eventualmente", adiantou.
Para Alice Nobre, esta é uma situação que vai comprometer a qualidade do serviço e o apoio prestado aos doentes: "Eles têm um papel decisivo nas recaídas dos doentes mentais, no acompanhamento dos doentes com depressão, que têm uma elevada incidência, e os serviços, nomeadamente o meu, vai ficar com menos um terço de pessoal".
Com estas saídas está em causa o funcionamento do serviço: "terei de fechar uma área de dia, fico sem apoio de psicologia no internamento e fico com uma estrutura de intervenção na comunidade reduzida a 50 por cento", lamentou.
A Lusa contactou a administração do Hospital Júlio de Matos, bem como a tutela, mas não obteve resposta.
http://sic.sapo.pt/online/noticias/pais/Hospital+Julio+de+Matos+vai+ficar+sem+metade+dos+psicologos+no+final+do+mes.htm
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