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12/07/2010

Hospitais propõem cortes nos salários dos tarefeiros

Centro Hospitalar Lisboa Ocidental justifica com necessidade de reduzir custos

O Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO) enviou uma carta aos médicos contratados através de empresas a informar que por causa da crise tinham de cortar 2% nos vencimentos. Foi uma das formas encontradas para reduzir as despesas impostas pela ministra da Saúde. Aliás, hoje termina o prazo para os hospitais entregarem ao Ministério da Saúde os planos de redução de despesa. Na quinta-feira últims, já 42 dos 59 hospitais ou centros hospitalares o tinham feito.

O CHLO - engloba os hospitais de Santa Cruz, S. Francisco Xavier e Egas Moniz - enviou aos médicos tarefeiros uma proposta de redução de 2% do pagamento, mesmo a quem recebe os valores definidos por lei: 35 euros/horas para médicos especialistas e 27,5 euros/hora para não especialistas. A primeira sondagem foi feita por email, a que se seguiu a carta oficial do conselho de administração.

"Justificavam a proposta com a crise e a necessidade de cortar nos custos. Então estavam a poupar na prestação de serviços. Primeiro recebemos um email de um administrativo do serviço da central de compras e depois uma carta", contou ao DN uma das médicas contratadas através de uma empresa.

Os argumentos eram claros. "A forte componente pública do sistema de saúde determina, mais do que nunca, a imperiosa necessidade de uma gestão eficiente", dizia o ofício do conselho de administração, que mais à frente fazia a proposta: "Solicitávamos a V/ melhor compreensão para uma redução dos custos totais com a prestação de serviços médicos contratada no valor de, pelo menos, 2%, caso uma redução superior não seja possível".

Esta médica, que pediu o anonimato, decidiu terminar o contrato. "Eles contactaram todos os clínicos que foram contratados através de empresas, reformados ou não. Queriam uma resposta em cima da hora", revelou.

O email enviado aos clínicos no dia 7 deste mês pedia que a resposta à proposta fosse dada logo no dia seguinte.

A urgência devia-se ao facto de todos os hospitais terem de enviar os seus planos completos ao Ministério da Saúde até hoje.

O DN contactou durante vários dias a assessora de imprensa do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental para perceber qual foi a adesão dos médicos, mas não obteve resposta

Pedro Lopes, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), diz que os hospitais tentaram respeitar as indicações deixadas pelo Ministério da Saúde. "São essas as áreas onde vão incidir os maiores cortes. Horas extras, aquisição de serviços externos, e nos medicamentos", disse ao DN.

O responsável pela APAH afirma que é possível organizar melhor as escalas médicas e poupar em horas a mais. "É possível repensar as escalas das urgências, sem abdicar da qualidade exigida".

E deixou um aviso aos hospitais. "Muito cuidado com as situações em que se coloca só um médico nas urgências, porque não podemos chegar a um processo em que a qualidade do atendimento seja posta em causa", afirmou Pedro Lopes, sem querer falar de casos concretos.

O Sindicato Independente dos Médicos denunciou, no seu site, uma situação semelhante no Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio. Por causa da poupança, dizem, o conselho de administração fez alterações "amputando as escalas de urgência nas especialidades de cirurgia geral, medicina interna e ortopedia, deixando, em grande parte do dia, um único especialista em serviço".

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1616223&seccao=Sul

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