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05/04/2010

Saiba quanto ganham os gestores de topo

Em média, os CEO nacionais recebem 63 mil euros brutos por mês. Jorge Coelho é o mais bem pago em função dos lucros gerados.

Os presidentes-executivos (CEO) das cotadas nacionais receberam, em média, 884 mil euros no ano passado, em remunerações fixas e variáveis, de acordo com os dados já tornados públicos por doze empresas do PSI 20. A Mota-Engil, a Zon e a Galp são as cotadas que melhor pagam aos seus CEO, em função dos lucros gerados.

A soma em questão - a que em alguns casos se devem somar prémios plurianuais - equivale a um salário mensal ilíquido de 63 mil euros. Porém, o valor real poderá ser superior, uma vez que parte das cotadas ainda não revela os salários das sociedades participadas - o que tem gerado polémica entre as empresas. Nesta questão, a Brisa, PT, Sonae e EDP são excepções, porque revelam todos os rendimentos dos gestores, cumprindo a recomendação da CMVM nesse sentido.

Em termos absolutos, a Galp, a PT e a EDP lideram o ‘ranking' de salários dos CEO. Porém, esta comparação esconde vários factores relevantes, como os lucros gerados pelas empresas, as suas dimensões e os mercados em que competem. "O indicador mais usado para uma boa comparação é o lucro antes de impostos, juros, depreciações e amortizações [EBITDA], mas o resultado líquido também pode ser utilizado", explicou ao Diário Económico Pedro Rocha e Silva, da consultora Heidrick & Struggles.

Com base nos dados que são públicos, conclui-se que Jorge Coelho é o gestor mais bem pago em função dos lucros. Por cada milhão de euros de lucro gerado, o CEO da Mota Engil recebe 22.900 euros, face a 20.000 de Rodrigo Costa (Zon) e 13.400 de Ferreira de Oliveira (Galp Energia).

Na lista dos cinco mais bem pagos em função do lucro figura ainda o CEO da Sonae SGPS, Paulo Azevedo, que recebe 10.100 euros por cada milhão de lucro, bem como o antigo presidente da REN, José Penedos - que entretanto suspendeu funções devido ao alegado envolvimento no caso Face Oculta -, com 4800 euros.

Por sua vez, os gestores que receberam menos em função do lucro foram o presidente da EDP, António Mexia (que recebeu 1,3 milhões de euros, ou 0,11% do lucro de 2008), o CEO da Portucel, José Honório (0,18%) e o da PT, Zeinal Bava (0,26%).

Há, no entanto, que ter em conta que em 2009 a Sonae, PT, Zon e EDP pagaram prémios plurianuais (ver texto ao lado), respeitantes a anos anteriores, que não foram tidos em conta nestes cálculos. Estes mecanismos de médio prazo são cada vez mais utilizados pelas empresas para incentivar uma boa gestão e "também como uma forma de retenção dos quadros e de focalização nos seus objectivos", explicou Pedro Rocha e Silva.

Prémios debaixo de fogo

No rescaldo da crise do ‘subprime', os salários e privilégios dos executivos de topo tornaram-se no alvo preferido de vários governos e de uma certa opinião pública, como revela, de resto, o ‘cerco' que tem vindo a ser feito aos privilégios dos gestores das empresas públicas, com medidas como o congelamento de bónus.

Estas circunstâncias têm gerado mal estar nas principais empresas nacionais, mas a remuneração variável, na forma de prémios anuais, continua a ser cada vez mais utilizada. Em 2009, nas doze empresas analisadas, a componente variável representou 44% do total.

"Os nossos gestores têm de competir com as grandes empresas mundiais. Não podemos alimentar sentimentos mesquinhos, porque qualquer dia fazem as malas e vão se embora", disse ao Diário Económico um gestor de uma grande cotada.

A percentagem dos lucros que os CEO recebem na forma de salários

  • Jorge Coelho, Presidente-executivo da Mota-Engil

Entre as doze empresas do PSI 20 que já divulgaram as remunerações dos gestores, o presidente da Mota-Engil surge como o mais bem pago em função dos lucros de 2008 (2,29%, ou 702 mil euros), com uma componente variável de 202 mil euros. Por cada milhão de lucro, Coelho recebe 22.900 euros. A seu favor, tem o facto de o valor em bolsa ter aumentado 67,57% e de os lucros terem subido 134%.

  • Rodrigo Costa, Presidente-executivo da Zon Multimedia

O CEO da Zon Multimedia, grupo dono da TV Cabo, ocupa o segundo lugar do ‘ranking', com um salário de 995 mil euros (sendo a componente variável de 300 mil), ou 2% do lucro de 2008 (47,9 milhões de euros). Os lucros desceram 8,14% entre 2008 e 2009, queda motivada pela crise de consumo no mercado interno, mas os accionistas de referência da operadora vão reconduzir o gestor num novo mandato.

  • Ferreira de Oliveira, Presidente-executivo da Galp Energia

Ferreira de Oliveira tem sido o gestor responsável pela transformação da Galp numa empresa voltada cada vez mais para as áreas de exportação e produção. O CEO foi o terceiro mais bem pago em termos de lucros gerados (1,34%), mas o melhor em termos absolutos (1,5 milhões de euros, sendo 1,3 milhões em salário fixo). A valorização de 68,25% das acções, em 2009, abona em seu favor.

  • Paulo Azevedo, Presidente-executivo da Sonae SGPS

O líder do grupo Sonae ocupa o quarto lugar no ‘ranking' dos mais bem pagos em função dos resultados líquidos (1,01%), com 808 mil euros (479 mil de salário fixo e 328 mil em variável). A subida de 17,5% dos lucros da ‘holding' no ano passado, para 94 milhões de euros, fala em favor de Paulo Azevedo, bem como a valorização de 99,08% das acções.

  • José Penedos, Antigo presidente-executivo da REN

O antigo presidente da Redes Energéticas Nacionais, José Penedos foi o quinto CEO mais bem pago em 2009, em função dos lucros do exercício anterior. O gestor, que suspendeu as suas funções na sequência do seu alegado envolvimento no processo Face Oculta, recebeu um total de 621 mil euros, 377 mil em salários fixos e 244 mil em prémios.

http://economico.sapo.pt/noticias/saiba-quanto-ganham-os-gestores-de-topo_85868.html

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