À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

05/04/2010

O Bombardeamento de Belgrado

Rui Namorado Rosa

Em 24 de Março de 1999 foi desencadeada a agressão da NATO à Sérvia, para por essa via “concluir” a prolongada Guerra nos Balcãs, visando a premeditada desintegração da Republica Federal da Jugoslávia. Ainda hoje são visíveis as feridas desses bombardeamentos no centro da cidade de Belgrado.

Evocamos e denunciamos os 78 dias de criminosos bombardeamentos, que provocaram 4 mil morte e mais de 10 mil feridos, cujas consequências perduram – homens, mulheres e crianças que ainda sofrem e continuarão a sofrer os efeitos da utilização pelas forças da NATO de munições de urânio empobrecido e bombas de fragmentação, e outros meios de morticínio indiscriminado deixados contaminando o meio ambiente e ameaçando a saúde pública das populações civis.

Há onze anos atrás, o Conselho Português para a Paz e Cooperação convocava os cidadãos e cidadãs de Lisboa para uma concentração junto à Embaixada dos Estados Unidos da América para «manifestarem o seu repúdio pelos ataques militares da NATO à Jugoslávia e a sua firme convicção de que só uma solução pacífica poderá resolver a crise nos Balcãs», alertando então para que «a guerra desencadeada pela NATO na Jugoslávia punha em perigo a Paz na Europa e no Mundo».

Onze anos volvidos, convocamos e evocamos de novo, porque a ofensa não esquece e porque não aceitamos ser condenados a que o futuro seja a continuação inelutável desse passado.

Uma década volvida sobre a brutal e imoral agressão, a Jugoslávia está desmantelada, sendo que partes do seu território foram transformadas em estados semi-independentes etnicamente compartimentados e colonatos sob controlo da NATO, como é o caso do Kosovo, onde se acolhe agora uma das maiores bases militares norte-americanas no estrangeiro – Camp Bondsteel.

Desde após a agressão de 1999, Kosovo e Metohija vivem sob a “protecção” da ocupação de uma força da NATO designada KFOR, e sob a supervisão de uma “missão” da ONU denominada UNMIK.

O denominado plano Marty Ahtisary (Março 2007) para a independência condicionada do Kosovo e Metohija foi um artifício diplomático nunca aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU. Que todavia bastou para, em Fevereiro de 2008, separatistas Albaneses com o beneplácito dos EUA, Reino Unido, Alemanha, e França declarassem unilateralmente a separação da província do Kosovo da Sérvia, em violação da Resolução 1244 (1999) do Conselho de Segurança, que expressamente garantia a soberania e integridade da Sérvia.

Não obstante a pressão exercida pelos seus mentores estrangeiros a favor do reconhecimento do novo “estado”, a província do Kosovo é ainda hoje apenas reconhecida por menos de um terço dos estados membros da ONU (na Europa, Espanha, Grécia, Roménia, Eslováquia e Chipre resistem tal reconhecimento). O Kosovo é presentemente “governado” por anteriores dirigentes do movimento terrorista KLA e outros com múltiplos registos criminais; 50 % da população está desempregada, sobrevivendo desesperada de expedientes e alimentando exércitos de mercenários; 80% da heroína vinda contrabandeada do Oriente para a Europa é controlada por uma rede de Kosovares Albaneses – tudo isto sob a “protecção” da KFOR e ao lado do enorme Camp Bondsteel.

A história reafirma a denúncia de que a agressão à Jugoslávia assinalou o início de uma nova etapa na escalada de agressividade da NATO contra a soberania dos povos – precisamente no mesmo ano de 1999 em que a NATO redefiniu o seu conceito estratégico no “vazio” da extinta “Guerra Fria”.

Tal como há dez anos atrás, a NATO continua a recorrer à mentira e a poderosos meios de propaganda para procurar iludir a opinião pública, justificar o intervencionismo militar e avançar a sua ambição de domínio mundial, como aliás posteriormente à Jugoslávia veio a concretizar tragicamente no Afeganistão, no Iraque e noutras partes do mundo.

Lamentavelmente, a escalada agressiva da NATO contou com o apoio de sucessivos governos portugueses, que subservientemente associaram Portugal à agressão a outros povos, à ocupação de países soberanos, à violação do direito internacional – comportamento inaceitável corroborado pelo envio, há uma semana, de mais um contingente de 194 soldados pára-quedistas para o Kosovo.

Interpretar e lembrar a criminosa, ilegal e imoral agressão e fragmentação da Jugoslávia é fundamental para entender e intervir responsavelmente na causa da Paz no tempo presente.

A NATO anunciou a realização de uma cimeira em Portugal, em Novembro próximo, para a qual agendou a revisão do seu conceito estratégico, por forma a “justificar” e “impor” o alargamento do campo de actuação geográfica e os pretextos para o seu intervencionismo militar, o que representa novas e acrescidas ameaças à paz e à segurança internacional.

Aqueles que não se resignam à barbárie e que aspiram ao mundo de paz e de amizade e cooperação, a que todos os povos aspiram e merecem, tal como há onze anos atrás mobilizar-se-ão num amplo movimento de opinião que negue a realização e os objectivos militaristas da cimeira da NATO em Portugal.

Um amplo movimento de opinião pela exigência da retirada das forças armadas portuguesas envolvidas em missões militares da NATO; pela exigência do fim de todas as bases militares em solo estrangeiro e particularmente das instalações da NATO em território português; pela recusa da militarização da União Europeia; pelo desarmamento e a dissolução da NATO.

No fundo, por uma real realização de uma política externa portuguesa em consonância com os princípios consagrados na Constituição da República Portuguesa e na Carta das Nações Unidas.

Pela Paz Sim. NATO Não!

http://www.odiario.info/?p=1550

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