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18/02/2010

Novo conceito estratégico da NATO: Agressão sem fronteiras

A Aliança Atlântica vai alterar o seu conceito estratégico. O objectivo é dar cobertura à extensão das operações de agressão além das fronteiras dos países membros do bloco.

As mudanças na actual carta da NATO, aprovada em 1999, estão, há muito, a ser preparadas. Na prática, o bloco político-militar criado em 1949 para ameaçar o campo socialista da Europa de Leste já opera fora dos territórios dos seus aderentes. Os casos do Afeganistão e do Iraque, e de outros conflitos de menor intensidade - em África, por exemplo -, confirmam-no.
A novidade é não apenas a extensão geoestratégica do conceito fundador da NATO, mas, também, o tipo de «disputas» e «ameaças» nas quais o eixo militar imperialista euro-norte-americano pretende actuar sem carecer de um mandato internacional, isto é, sem necessidade de autorização das Nações Unidas.
Fenómenos como o chamado «terrorismo internacional» e a pirataria, os conflitos para acesso aos recursos naturais, a guerra cibernética ou as consequências do dito aquecimento global passam a estar cobertos pelo novo conceito estratégico, disse o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, durante um fórum mundial sobre segurança, realizado na primeira semana de Fevereiro, em Munique, na Alemanha.
Na 46.ª Conferência sobre Segurança, Rasmussen avançou três orientações fundamentais dessa nova estratégia – a actuação à escala global rompendo as fronteiras dos países-membros; a promoção da «boa cooperação» como garantia do sucesso da missão de «preservação da segurança»; a transformação da NATO num fórum de consultas sobre questões de segurança à escala mundial.
«Transformar a NATO numa instituição virada para o mundo não é questão de escolhas, mas de necessidade. A mundialização é um facto irreversível», acrescentou o recentemente eleito responsável da NATO, não deixando margem para dúvidas sobre os objectivos do novo conceito estratégico.

Lisboa acolhe cimeira

Certo e seguro é igualmente o calendário para a aprovação da renovada carta. A cimeira da Aliança Atlântica agendada para Novembro, em Lisboa, será o palco da subscrição formal do documento que consubstancia a escalada agressiva. Tal foi confirmado pelo ministro Augusto Santos Silva.
O titular da pasta da Defesa de Portugal explicou ainda que o trabalho exploratório foi confiado a uma dúzia de «especialistas». A comissão, liderada pela ex-secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright – membro do tenebroso clube de Bilderberg, do Council on Foreign Relations e da Comissão Trilateral, e uma das principais responsáveis pelo desmembramento da Jugoslávia e pelo regresso da guerra à Europa, entre outros «serviços» ao capital, como o agudizar do conflito israelo-palestiniano -, integra ainda o antigo presidente da Shell, Jeroen van der Veer, o embaixador italiano no Reino Unido, Giancarlo Aragona, a embaixadora canadiana na Áustria, Marie Gervais-Vidricaire, e o antigo secretário de Estado do Departamento dos Transportes britânico, Hon Geoff Hoon, o embaixador turco Ümit Pamir, o embaixador espanhol Fernando Perpiñá-Robert Peyra, o embaixador alemão Hans-Friedrich von Ploetz, o presidente da Biblioteca Nacional de França, Bruno Racine, o embaixador letão e director do fórum financeiro Letónia-EUA, Aivis Ronis, o polaco Daniel Rotfeld, do Instituto de Assuntos Internacionais da Polónia, e o embaixador grego Yannis-Alexis Zepos.
Em Março, o grupo de especialistas reúne com os responsáveis dos Negócios Estrangeiros e da Defesa do governo português, disse Santos Silva. Em Junho, mês da próxima reunião informal da NATO, proceder-se-á ao primeiro debate colectivo do diploma, acrescentou o ministro à margem da reunião com os homólogos da NATO, que decorreu em Istambul antecedendo a conferência de Munique.

Dinheiro não é problema

Na maior cidade da Turquia, ficou também evidente que, mesmo num contexto de crise do sistema e do agravamento da exploração sobre os trabalhadores e os povos, o dinheiro não será um entrave para a aplicação do novo conceito estratégico.
Um dos pontos fundamentais do encontro foi o financiamento das operações da NATO, «mais caras do que nunca», admitiu Anders Fogh Rasmussen. Todos os participantes assumiram o compromisso de contribuir para tapar o défice da organização, orçado em cerca de 450 milhões de euros, e subscreveram a reforma das contas da instituição, com destaque para o pagamento das missões no Afeganistão e do sistema de mísseis a instalar na Europa.

UE como força belicista

Ponto nodal na estratégia imperialista é, ainda, a transformação da UE num bloco político-militar dotado de um exército próprio. Em Munique, o chefe da diplomacia alemã não deixou dúvidas e afirmou que «a criação de um exército europeu sob controlo parlamentar» é um «objectivo a longo prazo».
A União Europeia (UE) deve assumir o seu papel político na qualidade de actor mundial e reagir de forma flexível e rápida às crises internacionais», sublinhou Guido Westerwelle.
O Tratado de Lisboa prevê uma política de segurança e de defesa comum e o governo federal alemão quer seguir por essa via, lembrou Westerwelle, aludindo ao facto de o documento permitir a existência de estruturas permanentes de cooperação militar entre vários países-membros da UE sem que seja necessária a aprovação das mesmas por todos os 27.

Kremlin aprova nova doutrina

Em resposta à alteração do conceito estratégico da NATO, a Rússia aprovou uma nova doutrina que coloca em primeira linha os perigos militares externos resultantes do alargamento da NATO às fronteiras russas e da expansão das funções da Aliança Atlântica, as quais, considera, violam as normas do direito internacional.
Em Munique, o presidente da comissão de assuntos exteriores do parlamento russo, Konstantin Kosatschew, deu nota disso mesmo frisando que sempre que a NATO actue além das suas fronteiras, a questão deixará de ser «do foro interno da aliança».
No concreto, a Rússia afirma que responderá militarmente a qualquer acto de agressão contra um dos membros da Organização do Tratado de Segurança Colectiva, que inclui a Bielorrússia, a Arménia, o Cazaquistão, o Quirguistão, o Tadjiquistão e o Uzbequistão, e considera legítimo o uso das forças armadas fora das suas fronteiras para defender os interesses da Rússia e dos cidadãos russos, embora, sublinham, no respeito pelas normas internacionais que dizem que a NATO pretende enterrar.

http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32560&area=11

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