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18/02/2010

Grécia, a ofensiva do capital

Rui Paz

Em meados de Janeiro, o primeiro-ministro grego, Giorgios Papandreu, apresentou à Comissão Europeia, em Bruxelas, o designado plano de «saneamento» com o pretexto de que o défice do Orçamento do Estado ultrapassara em 2009 os 12,7 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Com esta iniciativa o PASOK atirou às urtigas as promessas eleitorais que lhe tinham permitido assumir em Outubro o Governo em Atenas. Mas a Grécia não é um caso único. Quase todos os governos da União Europeia para colmatar a crise financeira de 2009 não encontraram melhor solução do que transformar os cofres do Estado numa caixa de multibanco ao serviço do capital monopolista e dos bancos contaminados pela especulação financeira. 20 dos 27 países da União Europeia apresentaram em 2009 défices orçamentais que ultrapassaram os aleatórios 3% do PIB estipulados arbitrariamente por Maastricht e que no passado não tinham sido respeitados várias vezes pela própria França e a Alemanha. Actualmente o défice da Irlanda é de 12,5%, da Grã-Bretanha de 12,1%, da Espanha 11,1%, de Portugal 9,3%, da França 7,9%.
Pode-se pois concluir que a algazarra feita em torno da situação financeira da Grécia tem como objectivo maior justificar mais uma ofensiva generalizada do grande capital contra os direitos dos trabalhadores para lhes retirar o muito pouco que resta dos miseráveis rendimentos salariais e obrigá-los a pagar os desvarios da economia do casino.

O catálogo de horrores que o primeiro-ministro do PASOK, irmão gémeo de Sócrates, acaba de apresentar faz arrepiar os espíritos mais serenos. Aumento do IVA sobre vários produtos, como por exemplo, os combustíveis, o que já originou uma marcha de protesto dos taxistas. Desvalorização dos salários da função pública em 10%. Aumento da idade da reforma para os 67 anos. Facilidades para o alastramento do trabalho precário e da liberalização dos despedimentos. Extensão dos baixos salários a sectores cada vez mais vastos e continuação da privatização dos bens e serviços públicos.
Aqueles que festejaram a integração europeia, o Tratado de Maastricht, a moeda única, o Banco Central Europeu e o Tratado de Lisboa não disseram quais as consequências que daí advinham para a esmagadora maioria da população nem quem era a elite privilegiada que iria beneficiar da chamada «livre concorrência». Não explicaram que o objectivo da União Europeia era a lei da selva, em que os grandes e mais fortes devoram os pequenos e os mais fracos.
Mas como a resposta dos trabalhadores gregos e do movimento sindical, tal como em Portugal, na França, na Alemanha e noutros países não se fez esperar, começa-se já a proferir ameaças e a especular sobre a melhor maneira de obrigar o povo e os trabalhadores gregos a «mudar de mentalidade».

O deputado alemão do grupo liberal no Parlamento Europeu, Jorgo Chatzimarkakis (FDP) foi ao ponto, num debate televisivo (Phönix Runde, 10.02.2010) de apresentar a Junta dos coronéis que instaurou a ditadura militar na Grécia entre 1967 e 1974 como um exemplo de que é possível fazer aceitar as medidas preconizadas pelo Governo do PASOK e apoiadas por Bruxelas. Cuidado que os admiradores dos regimes fascistas dos anos 60 e 70 andam aí no Parlamento Europeu disfarçados de «liberais». A luta e a resistência são o caminho mais seguro para derrotar a ofensiva daqueles que têm vendido a economia portuguesa ao estrangeiro e procuram por todos os meios liquidar os sentimentos patrióticos e democráticos do povo e dos trabalhadores portugueses.

http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32512&area=24

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